Hamlet, de Alcides Freitas

 

Não sei que estranha dor meu peito dilacera,

Que esquisito negror meu espírito ensombra!

Tenho sorrisos de anjo e arreganhos de fera,

Sinto chamas de inferno e frescuras de alfombra!

Sou malvado e sou bom! Minh’alma ora é sincera,

Ora de ser traidora ela própria se assombra!

Que clamores de inverno e paz de primavera!…

Escarneço da morte e temo a minha sombra!

Nervo a nervo, a vibrar, misteriosa e vaga,

Anda-me o corpo todo a nevrose de um tédio,

Que dos pés à cabeça atrozmente me alaga …

Onde um recurso ao mal que me banha e transborda?

Minha dor é sem fim! Eu só tenho um remédio:

O suicídio – uma bala.:. um punhal… uma corda!…

Alcides Freitas (1890-1912)

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