Corpo de Baile do Teatro do Boi

A capital do Piauí tem muitas riquezas culturais, histórias, música, lendas e danças. As danças que contam histórias, as que mostram o modo de vida e as crenças deste povo das terras daqui de cima. Danças construídas no ventre do povo, que fortalecem o sentimento de pertencimento, que nos fazem refletir o nosso passado e presente.
Quando comecei meus estudos em dança tive o prazer de ter como inspiração o grupo Balé Popular do Piauí, dirigido pelo professor Frank Lauro. A coreografia Peixinho do Mar marcou a minha vida. Lembro exatamente como fiquei encantada e feliz.
Em viajem para o sul do Brasil em 2015, pude assistir a várias apresentações dos grupos de danças típicas de lá, simplesmente lindo, com um belo espaço para receber turistas e a comunidade, com comidas, roupas e acessórios que lembravam os costumes dos gaúchos, e refleti então, porque as danças típicas ou folclóricas do Piauí estavam tão desaparecidas?
Recentemente esse movimento parece estar ganhando força com a nova geração de bailarinos que fazem hoje o grupo Corpo de Baile do Teatro do Boi. Dirigido pela professora e coreógrafa Cynthia Layana, que vêm ministrando oficina de danças populares e tem acompanhado o crescimento da maior parte do elenco atual.
A prefeitura de Teresina vem mantendo essas oficinas de dança em teatros e casas de cultura da cidade, o que possibilita a formação de novos bailarinos. Mesmo com esse cenário pandêmico, os instrutores refizeram suas rotinas para oferecerem aulas de forma remota.

 

Rotina de Trabalho

Após o retorno gradual das atividades culturais da cidade a atual gestão, dirigida pelo senhor Scheyvan Lima, fez com que a Fundação Monsenhor Chaves aumentasse sua demanda por apresentações artísticas em eventos pela cidade, oportunidade em que foi possível assistir ao Corpo de Baile do Teatro do Boi e se encantar com sua dança expressiva, com seus movimentos regionais, caracterizações do povo e energia criativa da nossa dança.
São jovens com idade entre 17 e 30 anos, que duas vezes por semana se encontram na sala principal do Teatro do Boi, na zona norte. A escolha para fazer parte do elenco acontece entre os bailarinos que fazem parte das oficinas de dança oferecidas no Teatro do Boi. São oferecidas aulas de capoeira, danças populares, ballet e jazz, com os instrutores Francisco Moreno, Kiara Lima, Fernando Freitas e Cynthia Layana. A coordenação de dança da Fundação Cultural Monsenhor Chaves está a cargo da bailarina e coreógrafa Kelly Lustosa que vem trabalhando para dar visibilidade a esse trabalho.

A coreógrafa, professora e responsável por esse projeto, Cynthia Layana, me respondeu sobre suas ambições para o grupo.

“(Eu) quero que cresçam cada vez mais profissionalmente, e que possam viver de sua arte com dignidade e respeito levando nossa cultura por esse mundo afora, mostrando através da dança que nossa cultura é forte e rica de manifestações folclóricas, valorizando nossas tradições e dando visibilidade para as culturas populares encontradas nas regiões.”

Os artistas têm enfrentado muitos desafios para continuar trabalhando durante esse período pandêmico. Mas a verdade é que nunca foi fácil. A bailarina Luana Pérola nos fala de como é possível se dedicar a 7 anos sem uma bolsa de incentivo ou salário. 

“Continuamos com força de vontade e paixão pelo nosso trabalho que é nosso combustível para nos manter de pé. Nossas esperanças continuam firmes e fortes por esse incentivo… esperamos que tenham um olhar sensível para o nosso trabalho.”

Matheus Henrique, além de bailarino talentoso também começa a contribuir com o grupo com seus trabalhos coreográficos. Esses novos talentos estão sendo lançados no mercado cultural para continuar levando nossa arte. Para Matheus: “o corpo de baile representa um lar onde eu posso mostrar a minha arte. O corpo é minha segunda família, representa força, união e luta. Desde criança sou apaixonado pelo grupo, e ser convidado para integrá-lo foi uma oportunidade de continuar meu caminho artístico.”

O Teatro do Boi é uma casa de espetáculos com uma linda história. Criado em 1987, era o antigo matadouro da cidade. Em agosto completou 34 anos de serviços a comunidade. Apesar de ser um teatro descentralizado ainda está em um bairro próximo do centro da capital.

É importante ressaltar que essa geração de bailarinos que aí estão vêm estudando e dedicando seu tempo a dança popular e que estes mesmos estão prestando um serviço a nossa cidade que é de fazer uma arte regional de qualidade e para tanto o que esperamos da nossa prefeitura é nada mais que investimento. Essa garotada precisa, mais que nunca, de incentivo financeiro para continuarem se dedicando aos ensaios e apresentações, e ainda, precisam do reconhecimento  e esperança que todos esses anos que vêm estudando com a professora Cynthia Layana os levarão ainda mais longe em suas carreiras artísticas.

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