Mulheres empilhadas – Patrícia Melo

Esse é um livro sobre o qual tenho deixado de falar, sobretudo porque tenho a constante sensação de que quem me ouve fazê-lo acha que há excessos no assunto.

“Mulheres empilhadas” é uma obra cujo impacto tem reverberado em mim por vários meses. Li já há algum tempo, mas a digestão é lenta. Há sempre o espaço para o que Michel Melamed chamou de regurgitofagia.

A temática é cotidiana e crua. Uma obra de ficção cujas personagens são reais. Um livro sobre a matança sistemática de mulheres e sobre o apoio que os criminosos recebem das autoridades.

Em agosto de 2006 foi sancionada a lei nº11.340, que ficou conhecida como Lei Maria da Penha. Ela é responsável por prevenir, punir e erradicar os abusos domésticos contra as mulheres no Brasil. Fornecer “mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher”.

Faz apenas 18 anos que essa lei existe. Há quanto tempo as mulheres são vítimas de abusos e violências dentro de suas próprias casas?

As personagens da narrativa de Patrícia Melo são as vítimas de violência. Entre elas em comum apenas o gênero. Seus algozes são seus maridos, companheiros, amantes, pais, namorados, irmãos.

A protagonista é uma advogada que viaja para o Acre para acompanhar o caso de feminicídio contra uma menina indígena de 14 anos, Txupira, que foi estuprada, torturada e morta.

Por aqui encerro minha descrição sobre essa narrativa que toma de um fôlego só o leitor e o abraça com força, carregando para o fundo da torpeza humana.

A autora aborda um tema caro, o assassinato perene de mulheres neste país, e fala sobre como, segundo a própria autora “matar mulheres é um crime democrático”.

Recomendado para quem tem estômago forte e senso de justiça apurado.

O teor desta resenha representa o ponto de vista único e pessoal desta escritora e crítica literária, não refletindo necessariamente o posicionamento dos demais membros e/ou colaboradores do portal.

 Email: deniseverasletras@gmail.com

Instagram: @deniseveras1

Ilustração: capa da obra resenhada.

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