Lari Salles

Lari Salles - Foto José Ailson (Um Zé)

Ela é considerada a Dama do Teatro Piauiense, mas recebe com grande modéstia tal denominação. Os números não enganam, e seu talento e trabalho duro falam por si só. Já são quase 40 anos dedicados às artes cênicas e a tudo que as envolve. Nascida Maria do Rosário Sales, num pequeno povoado chamado Coroa de São Remígio, situado à beira do Rio Parnaíba, ela se tornou Lari Salles, dona de grandes atuações e de trabalhos fascinantes, seja no palco ou nas lutas para mantê-lo atrativo. No teatro, já deu vida a mais de 30 personagens. Entre eles estão os icônicos “Itararé: a república dos desvalidos” (1983), “Apareceu a margarida” (1992), “A Rainha do Rádio” (2008) e “Casa de Bernarda Alba” (2009). A atriz mais premiada do teatro piauiense acredita mais do que nunca na força do teatro e seu papel social. “O teatro pode até sofrer revés, mas ele vai se recuperar sempre, porque ele é o contato humano, e essa coisa, eu acho que como seres humanos não vamos perder nunca. Vamos sempre retomar esse convívio humano, de gente com gente”, declara a atriz.

“O teatro pode até sofrer revés, mas ele vai se recuperar sempre, porque ele é o contato humano, e essa coisa, eu acho que como seres humanos não vamos perder nunca. Vamos sempre retomar esse convívio humano, de gente com gente.” Lari Salles

Nome Completo: Maria do Rosário Sales
Descrição: Atriz
Data de Nascimento: 13/09/1955
Local de Nascimento: Coroa de São Remígio-PI

Grande demais para uma cidade pequena

A atriz Lari Salles lembra com carinho da época em que viveu no povoado Coroa de São Remígio (PI) onde passou a infância e parte da adolescência. As idas a pés, junto com o irmão, para a escola, que distava 6 quilômetros de sua casa, e as muitas aventuras vividas nesse percurso serviram, segundo ela, para fortalecimento pessoal. A medida que crescia em idade, o pequeno povoado parecia não mais comportar a grandeza da menina Lari, que desde sempre sentia que seu mundo era outro, para além dos limites de terra que a cercavam. Desenvolveu, ainda no povoado, uma grande paixão pelo rádio, mais especificamente pelas novelas transmitidas por meio dele. Na música, fugindo ao convencional, curtia Beatles e Elvis Presley, era mesmo uma menina diferente das demais garotas do lugar onde morava. Aos quinze anos de idade, Lari mudou-se para Teresina (PI), e foi na capital piauiense que conseguiu se encontrar com a profissão que nem sequer sabia que iria a acolher.

Cidade grande, o que trazes para mim?

A adolescência e o começo da juventude são essas fases confusas em todos os aspectos. Você vivencia processos de descobertas. É tudo inédito, e são tantas incertezas. O que restará de concreto ao fim de tudo? Essas questões certamente devem ter passado pela cabeça da atriz Lari Salles, que com apenas quinze anos de idade saiu de um pequeno povoado e foi morar na capital piauiense. Até os 24 anos, Lari não sabia ao certo qual profissão queria seguir. “No período dos quinze até os vinte e quatro anos quis ser muitas coisas, inclusive aeromoça e professora”, relata a atriz. Mas bastou um dia, o dia decisivo, e todas as dúvidas de Lari foram sanadas. Passando em frente ao Theatro 4 de Setembro, resolveu entrar, e se deparou com uma apresentação do Grupo de Teatro Pesquisa. A jovem viu brilho naquele palco e nas encenações, e o fascínio por aquele universo a fez querer virar uma atriz. Apressou-se para se inscrever em um curso de teatro e começou a ter contato com os atores e atrizes. Sua estreia no teatro aconteceu na peça Mosaico artístico em prosa e verso, fazendo par com o ator Paulo de Tarso Libório, para a qual foi escalada em substituição a atriz Solange Veras. Luzes acesas, cortinas abertas e Lari foi brilho certo. O espetáculo foi um sucesso. Naquele dia Lari encontrou uma profissão, e o teatro ganhou uma grande atriz.

Uma vida intensa com o teatro

Após o sucesso de seu primeiro trabalho, a atriz Lari Salles logo foi vista como uma profissional de grande potencial artístico. Foi a partir dessas boas impressões causadas, que Lari foi convidada por Zé Afonso, diretor do Grupo de Teatro Pesquisa (Grutepe), para participar da peça “A Guerra dos cupins” (1979). Zé Afonso teve que pedir permissão à avó de Lari para que a menina integrasse o elenco da peça, uma vez que ela ainda era menor de idade. A parceria entre eles deu tão certo, que até hoje Lari integra o Grutepe. Tão naturalmente outros trabalhos vieram, a exemplo de “Itararé – A República dos Desvalidos” (1983), o monólogo atemporal e reconhecido nacionalmente “Apareceu a Margarida” (1992), “A Rainha do Rádio” (2008)em que interpreta a radialista Adelaide Fontana, e o icônico “A Casa de Bernarda Alba” (2009), peça escrita por Federico Garcia Lorca, em que Lari dá vida tirana e enlutada matriarca Bernarda Alba, que mantém as cinco filhas sob seu total controle, até que duas delas se apaixonam por um rapaz das redondezas chamado Pepe Romano, paixão perigosa gera uma série de acontecimentos trágicos. A peça é sucesso de público e de crítica, e já viajou por vários lugares do país. Lari diz que foi um desafio interpretar Bernarda. Hoje em dia ela se diz bem mais segura ao interpretar a personagem, segurança que se nota no desempenho brilhante que desempenha em cena, acompanhada por um grupo igualmente talentoso.

“É necessário que a gente esteja em cena. E é isso que eu quero.” Lari Salles

Atuação na política cultural

“Eu faço teatro, participo da arte do Piauí intensamente. De manhã, de tarde e de noite”, declara a atriz Lari Salles. O envolvimento de Lari vai além de interpretar personagens. A atriz que atualmente é presidente do Sindicato dos Artistas, membro do Conselho Estadual de Cultura e do Conselho de Incentivo à Cultura (SIEC), também já foi presidente da Confederação de Teatro, fez parte da Diretoria Nacional de Teatro, entre outros cargos ligados a política cultural. O início de Lari nos cargos de representação da classe artística vieram desde muito cedo, já no primeiro ano como atriz ela foi presidente da Confederação Piauiense de Teatro, desejo surgido, segundo ela, a partir da percepção de injustiças que observava (e ainda observa) no meio artístico. Lari Salles à frente do Sindicato dos Artistas, o colocou de fato em funcionamento. Atualmente luta pela legalização do mesmo. É uma mulher de fibra, que tem compromisso com o seu trabalho e com a arte desenvolvida pelos seus pares. Ela acredita que para que o sindicato ganhe ainda mais força, os artistas devem se integrar em torno desse órgão representativo da classe. Lari sente falta também de uma sequência na apresentação de espetáculos dos grupos de teatro. E defende que esses grupos que têm espetáculo os apresentem com frequência, enriquecendo a programação cultura da cidade e oferecendo opções para o público.

Quem atua aqui?

Sobre a dificuldade de ser artista no Piauí, a atriz Lari Salles diz que a maior dificuldade ainda é a falta de hábito das pessoas em irem aos espetáculos, pagar para consumir arte. Segundo ela, no Piauí os artistas ainda não conseguem sobreviver de arte, porque aqui têm-se pouco plateia. Quando iniciou na carreira, a própria Lari tinha uma visão mais romântica de que poderia se dedicar integralmente ao teatro, sem se preocupar com mais nada, algo que não se aconteceu. Mas mesmo com todos os desafios que a profissão oferece, Lari se mostra feliz. E aos que estão iniciando, ela recomenda perseverança. “Querer é a principal coisa, até para fazer um personagem. Quando você quer, vem junto a paixão, a vontade. Não tem preguiça”, declara a atriz que foi uma das primeiras do Estado a tomar para si tal título, sem medo do que isso acarretaria.

Você é feita de quê? Um mergulho nas profundezas de uma vida.

Quando a grandeza habita um ser, tudo em volta se torna igualmente grande. Todo propósito, por menor que pareça, ganha importância. Seus mais de 30 personagens, interpretados e defendidos de uma maneira ímpar, em mais de 40 anos de carreira, demonstram a total consciência e coerência cênica da atriz Lari Salles. Personagens que marcaram e marcam a história do teatro piauiense são registros do quão comprometida com sua arte a da Dama do Teatro Piauiense é. Foi ela, juntamente com outros atores e atrizes, que abriu os caminhos para que os novos talentos que despontam atualmente nas artes possam, no futuro, viver do seu trabalho. Se envolvendo politicamente em nome de sua classe ou atuando, Lari mostra que não é fã de lugares comuns e rasos. É pelo desejo de querer ir cada vez mais longe, que ela mergulha de corpo e alma, e com paixão, em todas as coisas que se propõe a fazer. Para esse ano Lari pretende voltar com os espetáculos “A Rainha do Rádio”, “Apareceu a Margarida” e “Casa de Bernarda Alba”. “É necessário que a gente esteja em cena. E é isso que eu quero, declara a Dama do nosso teatro.

Contatos

Fotos

Lista de espetáculos

(informação pedente)

Outras fontes

http://180graus.com/cultura/lari-salles-encanta-com-a-locutora-adelaide-fontana-180243

 

Última atualização: 17/06/2017

Caso queria sugerir alguma edição ou correção, envie e-mail para geleiatotal@gmail.com.

 

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