Crítica ao monólogo “A bacia de Proust”, por João Ricardo.

Foto: Robinson Levy

As obras de Roberto Muniz já são provocadoras e quando transportadas para o palco, com a ajuda de uma direção segura e uma atuação convincente, ganham contornos mais palatáveis. E justamente por se tratarem de situações muitas vezes exóticas ou tabus, elas ganham contornos quando apresentadas ao público.
Com uma escrita recheada de referências da literatura, cinema, música e artes plásticas, além da utilização de termos não coloquiais, a sacada do diretor Edinho do Monte foi apostar no teatro “pobre” de Jerzy Grotowski, aliando-se a corporificação e trejeitos oferecidos pelo ator e bailarino Márcio Gomes, riquíssimo no que se diz respeito a fisicalidade e máscara cênica, fazendo-se perceber a visceralidade pedida pela obra.

E é justamente essa visceralidade que é um dos traços encontrados na obra do dramaturgo, que escreve personagens fascinantes cuja característica mais forte é a nostalgia, geralmente encontrando na infância o alento frente a crueza do mundo adulto, do mundo real. Personagens solitários, melancólicos e atormentados por suas relações frustradas.

A nudez em cena é cheia de nuances, desde a cena inicial em que Pierre assemelha-se a um feto e a bacia com água assemelhando-se a metáfora da placenta, passando por posições lascivas até chegar na fragilidade psíquica quando se revelar para o público. O magnetismo da atuação é tamanho que não saberia precisar o tempo de duração do monólogo, pois é algo que perde a importância diante de uma narrativa fluida, hipnotizante, delicada e forte, por fim, certeira.

Por João Ricardo

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