Canteiro: a produtora que cultiva arte feita por mulheres

TRISCA#4 tem programação feminina e Trupe de mulheres da palhaçaria

Canteiro é uma porção de terra comumente localizada no quintal de muitas casas brasileiras. Uma porção de criar coisas vivas, geralmente cultivada por mulheres. Mas, em 2016 ele virou também o nome de uma produtora cultural. Três mulheres, sendo duas delas artistas piauienses criando coisas vivas, entre elas, o TRISCA – festival de arte com criança, que chega agora à sua 4ª edição.

Layane Holanda e Soraya Portela, além da carreira artística, compartilham vivências sobre o que é ser mulher, o que é ser +40, o que é fazer parte de uma região conhecida como Brasil profundo.

“De algum modo, velhice e infância eram dois extremos que começavam a atravessar a nossa vida e também o nosso trabalho”, conta Layane.

 

Inserida na cadeia produtiva da cultura desde os 16 anos, quando começou a fazer teatro, passou a se interessar mais pela atuação feminina na arte nos últimos tempos.

“Essa ativação me alcançou, inclusive, tarde”, reconhece. “Criança, por exemplo, não é assunto só de mulher: é uma pauta política, da sociedade”.

 

No ano passado, as artistas fizeram um curso no Rio de Janeiro dentro do projeto “Um teto seu”, iniciativa que estuda  a participação de mulheres artistas na história da arte. Foi mais um start para entender como o papel relegado à mulher na cultura foi cerceado e limitado pelo patriarcado. “A gente tá sempre fortalecendo esses arquétipos: o cineasta, o diretor, o gestor, o mestre”, aponta Layane. “Tem essa ênfase”, completa. “Precisamos estar numa ativação do olhar para a dimensão do feminino, as materialidades, as diferenças entre os corpos e realidades, as questões específicas da produção feminina.”.

 

O resultado dessas reflexões pode ser percebido na programação do TRISCA#4 – aventuras de ficar vivo! Este ano, ocupando uma praça e dois parques públicos, a curadoria montou uma equipe deliberadamente feminina e com um olhar para a cultura popular e produção de mulheres artistas locais. “Isso é uma escolha política e é também um modo de criar contexto para que artistas possam criar, se apresentar e se encontrar. “, diz a produtora.

 

Acompanhando um movimento de grandes centros urbanos que, no pós-pandemia, viram praças, parques e espaços ao ar livre voltarem a ser ocupados, o TRISCA#4 este ano traz uma programação para fazer com crianças nos dias 9, 10 e 11 de dezembro – no sábado, será integrado a tradicional Feirinha Verde. “A cidade acaba pensando a infância de um modo muito comercial”, observa Soraya Portela, co-diretora do festival.  Pensar e propor experiências artísticas, poéticas e sensíveis é um objetivo que agora o TRISCA divide com cuidadores, artistas e profissionais.

Trupe de mulheres

 

Além de bolar ações e atividades para fazer com crianças, nas últimas edições as diretoras do TRISCA têm empenhado-se em pensar a inclusão no sentido mais amplo: incluir a criança, o velho, as comunidades, os diferentes  corpos e a diversidade. Este ano, a ancestralidade, a cultura popular e as matrizes originárias atravessam os trabalhos e experiências da programação.

A Trupe de Mulheres Esperança Garcia foi uma das propostas artísticas selecionadas pelas curadoras para estar no TRISCA#4. É a primeira vez que Tércia, Talita, Suzy e Railane Raio participam do projeto e também a primeira apresentação do grupo, que surgiu em 2019, em um festival.

“O TRISCA tem conceitos alinhados aos trabalhos individuais de cada uma das componentes do nosso coletivo e também alinhados ao nosso grupo”, comenta Railane. É também a primeira vez que “As Marias da Terra”, o espetáculo selecionado, vai ser apresentado em uma praça.

 

Com uma dramaturgia divertida e educativa, o espetáculo foi desenvolvido para atuar, principalmente, em comunidades rurais, feiras agroecológicas e quintais produtivos. O projeto já foi contemplado em duas residências artísticas com mulheres mestras da palhaçaria, pelo SESC-PI.

 

“Nossa atuação enquanto palhaças e brincantes é, sobretudo, política”, define Railane. Com comicidade e brincadeiras, as mulheres apresentam mensagens de ecologia e bem viver.

 

Contratar mulheres e contemplar trabalhos artísticos de mulheres é também realocá-las em um imaginário poético onde, no geral, nós ainda não somos referências.

“Gosto de entender o campo da arte também como cadeia produtiva, como setor econômico”, diz Layane. “Pensar a produção feminina no campo da cultura é também pensar a mulher num setor de trabalho, mulher artista também chefia familias”.

 

O TRISCA#4 é realizado pela Canteiro, produtora que pensa ideias e ações culturais entre infâncias e velhices e tem direção e curadoria das artistas piauienses Layane Holanda e Soraya Portela. A edição #4 conta com patrocínio da Equatorial Piauí, através do Sistema de Incentivo à Cultura do Piauí (Siec / SECULT-PI) e do Governo do Estado.

 

Confira aqui a programação completa

O que?
TRSICA#4 Festival de arte com criança – Aventuras de ficar vivo!
Quando?
9, 10 e 11 de dezembro
Onde?
Sexta – Potycabana / 17h
Sábado – Praça Desembargador Manoel Belizário (UFPI – Ininga) / 16h às 20h
Domingo – Parque da cidadania (centro) / 17h

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