Captação de recursos para arte: algumas dicas e anotações

Existe um discurso comum que diz que artista tem dificuldade em se vender ou lidar com planejamento financeiro, captação de recursos, cobrança de pagamentos e por aí vai. Reconheço essa dificuldade e conheço também artistas que não tem esse problema. Tudo bem sentir essa dificuldade, mas precisamos – mais do que nunca – nos mover no sentido de entender mais sobre isso e começar a mudar nossa mentalidade para lidar com dinheiro de forma mais ativa.

Em tempos em que o valor sobre a cultura está sendo tão questionado, compartilho aqui as anotações que fiz após participar de uma aula sobre captação de recursos para projetos culturais no curso “Museu Aberto: empreendimentos criativos” dado por Thiago Massagardi e pela Carla Vidal, no Museu de Arte Moderna de São Paulo – MAM. Espero que eu possa contribuir um pouco para aumentar nosso repertório de argumentos em favor da valorização financeira da arte e cultura.

1. Uma retrospectiva histórica, para começar

Quem aí se lembra ou já ouviu falar dos mecenas? No século I a.C. a prática do “mecenato” era bastante comum. Esse nome veio de Caius Mecenas, um político romano, conselheiro do Imperador Otávio Augusto. Começou nessa época essa prática de patrocinar artistas, para que eles se dedicassem exclusivamente à criação e produção cultural. Vale ressaltar que esses mecenas não davam o dinheiro em troca de uma obra, que passaria a ser sua exclusivamente, e sim investiam no trabalho artístico para que as obras ficassem expostas em espaços públicos, nas ruas da cidade ou dentro de prédio de instituições.

Na história do Brasil, o primeiro grande mecenas foi o Imperador D. Pedro II. Ele começou a trazer obras de arte e construir acervos de arte no país. Ele incentivou a construção de espaços artísticos, como teatros e o Jardim Botânico do Rio, por exemplo. Outros personagens importantes nessa história de mecenato no Brasil foram Assis Chateaubriand e Ciccillo Matarazzo. Mário de Andrade também teve um papel importante, pois seus estudos etnográficos revelaram a diversidade cultural brasileira, relacionada a outros territórios nacionais, para além do eixo São Paulo-Rio – onde os investimentos em arte sempre estiveram tão centralizados. (Recomendação de leitura: Turista aprendiz – Mário de Andrade).

Com essa rápida recordação histórica é possível mostrar o quanto que o fazer cultural sempre esteve relacionado com a necessidade de ter apoio de pessoas, receber investimentos e ter personagens que captavam recursos. Ao longo da história, esses personagens costumavam ter grande poder econômico ou poder político. Isso não é diferente dos dias atuais.

A cultura no Brasil continua necessitando bastante do papel do Estado para que aconteça. O Estado brasileiro continua sendo um grande mecenas e isso é indispensável, afinal, a criação artística e cultura de um lugar está todo relacionado à mentalidade da sociedade e aos fluxos da economia. Apesar de a contribuição estatal ser tão pequena ainda, apenas 2% do PIB, a cultura é um setor produtivo que ativa circulação econômica, turística, empregos e consumo. Basta lembrar do carnaval, do Salão do Livro do Piauí, do Festival de Inverno de Pedro II, da Orquestra Sinfônica na Serra da Capivara e tantos outros eventos culturais que movimentam a economia local.

Além disso, empresas e empresários também são mecenas. Essas relações de mecenato são bem estabelecidas pela Lei nº 8.313/91, conhecida como Lei Rouanet. Mas, ao contrário do que os tantos críticos da lei por aí ditam, a Lei Rouanet não se restringe à instituição do mecenato – através de incentivo fiscal às empresas que investem em cultura no Brasil. Essa lei também institui o Programa Nacional de Apoio à Cultura (Pronac), através do Fundo Nacional da Cultura e Investimento Cultural e Artístico (Ficart) – esse último, infelizmente, não colocado em prática.

Não podemos deixar de notar que o período em que estamos passando agora é de turbulência política e econômica, logo a área da cultura e arte é influenciada diretamente. Conhecer um pouco sobre as bases históricas que levaram à organização política e jurídica de apoio à cultura é essencial.

Pois bem, entendido um pouco de história e política nacional – o que é fundamental ao momento turbulento em que estamos inseridos, repito – vamos às dicas práticas que anotei dos dois profissionais captadores de recursos para projetos culturais e artísticos.

2. Um “checklist” para casar produção artística com captação de $$$

3. Algumas considerações finais

Bem, esse passo a passo não é definitivo, na verdade eu não sou expert nisso, como disse no começo do texto, são anotações e dicas que recebi em uma aula no MAM. Mas acho que serve de apoio para quem quer se organizar melhor para captar recursos para realizar uma produção artística e cultural. Antes de finalizar, quero deixar algumas considerações que são muito importantes:

  1. Os mapas, tabelas e matrizes que indiquei no passo a passo acima podem ser feito em qualquer material, caderno, planilha, post-it, o que você preferir. Não deixe de fazer essas etapas, pois elas podem parecer um pouco trabalhosas, mas vão te dar clareza sobre o seu trabalho. Dicas de ferramentas para isso: Trello, Real Time Board ou até os do Google – Drive, Docs, Sheets.
  2. Envolva mais pessoas nesse planejamento de captação de recursos. Desde o primeiro passo de mapear relacionamentos, ter mais uma pessoa que conheça sua ideia ou participe do projeto é muito interessante para ampliar as visões. Na hora de convencer um possível investidor ou apoiador, ter mais uma pessoa com você pode ajudar nos argumentos. Enfim, uma equipe articulada ou uma dupla de argumentadores pode se sair melhor. Juntos somos sempre melhores.
  3. Vamos parar de encarar os patrocinadores ou apoiadores como assistencialistas e parar de nos posicionar como “pedintes”. Somos profissionais que trabalham com cultura e arte e não estamos fazendo assistencialismo. Nossos projetos são importantes e nós damos contrapartidas para a sociedade. Estamos produzindo arte. E a cultura é sim um setor produtivo essencial no país.

Então é isso. Espero que essas anotações tenha alguma contribuição para você. Divulgue para quem você acredita que pode se beneficiar. E qualquer dúvida ou comentário, fique à vontade. Seguimos celebrando arte e cultura!

Imagem da capa: por James Charles

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