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Documentário “Axé e Ancestralidade: a Fé no Ilê Oya Tade” fala de espaço sagrado em Teresina

O documentário Axé e Ancestralidade: a Fé no Ilê Oya Tade retrata a experiência da jornalista Monalisa Mendes no terreiro localizado no bairro Itaperu, zona norte de Teresina. A obra é resultado de seu Trabalho de Conclusão de Curso em Jornalismo pela Universidade Federal do Piauí (UFPI) e propõe uma imersão sensível nas tradições das religiões de matriz africana.

Dirigido por Monalisa, que também é filha de santo há três anos, o filme retrata a vivência espiritual para contar a história do Ilê Oya Tade — casa fundada em 1980 pelo saudoso líder religioso Hadilton d’Iansã, falecido em 2020. Em 2025, o terreiro completa 45 anos de existência e já deu origem a mais de 150 outras casas no estado do Piauí.

Na produção, a jornalista atua como observadora participante, o que possibilitou um acesso íntimo à rotina do terreiro. Com afeto, respeito e fé, ela reconstrói os saberes, símbolos e rituais que sustentam a comunidade, evidenciando a força transformadora do espaço sagrado. “E eu sempre percebia que as pessoas não sabiam do que se tratava a Umbanda, não sabiam do que se tratava o Candomblé. E eu sempre recebia perguntas absurdas sobre a religião, sobre o que as pessoas pensam que nós praticamos. E eu pensei, por que não mostrar para as outras pessoas a beleza que é as religiões de matriz africana? A beleza que é uma comunidade, o Ilê Oya Tade”, explica Monalisa Mendes sobre de onde veio a ideia do documentário.

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A narrativa adota um olhar etnográfico que ultrapassa o simples registro visual. Com depoimentos de integrantes do terreiro, o filme revela as hierarquias espirituais, os símbolos de fé e os vínculos coletivos que formam a identidade do Ilê Oya Tade. Mais que um espaço religioso, o terreiro se consolida como centro de acolhimento, resistência e afirmação da negritude em Teresina.

A intenção é de desconstruir estereótipos e ampliar o entendimento sobre a Umbanda e o Candomblé. Monalisa enfrentou o desafio de equilibrar a exposição do conteúdo com o respeito aos fundamentos sagrados. Algumas práticas e saberes são reservados. e ela não ultrapassou esses limites.

Outro cuidado foi com a linguagem: muitos termos utilizados nas religiões afro-brasileiras são desconhecidos do grande público, o que poderia dificultar a compreensão. “A pessoa escuta e não compreende, tipo mironga, atabaque. Tem outras palavras, várias outras palavras que as pessoas não compreendem. Então, eu precisei orientar os entrevistados para eles falarem da maneira mais simples possível, de uma forma que não perdesse a essência”, revela Monalisa.

A espiritualidade, segundo ela, guiou todas as etapas do processo criativo. “Em todas as gravações eu senti a presença de um preto velho, teve gravação que a minha perna tremeu, senti presença de caboclo, presença de Erê. Então eu acredito que o trabalho foi aceito porque ele foi feito com muito amor”, explica.

Para além do valor acadêmico, o documentário também cumpre uma função pedagógica e simbólica. Ao mesmo tempo que combate o desconhecimento e os preconceitos, presta homenagem a uma tradição que resiste na zona Norte de Teresina. Não foi apenas um trabalho de conclusão de curso — foi um gesto de amor e reconhecimento, um presente construído com devoção para sua casa de axé, para seus guias, seus ancestrais e todos os que mantêm viva a tradição do terreiro.

Confira o documentário:

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