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GENIVALDO COSTA: DOS TRAÇOS EXTRAVAGANTES À TIMIDEZ DA GENIALIDADE

Autodidata, o teresinense Genivaldo Costa carrega uma timidez de quem talvez não encontre, na limitação da palavra, todo o seu poder de expressão. Afinal, é na ilimitada possibilidades das telas, do papel e da argila que revela, por meio de cores e traços-espirais, a infinita maleabilidade criativa da sua linguagem única e genial.

Genivaldo Costa. Foto: Jonathan Dourado

O artista plástico, pintor, ilustrador e amante das artes gráficas, Genivaldo Costa, recorda para a Geleia Total que seu interesse pela arte vem desde muito menino. Com o imprescindível apoio dos pais, conta que sua principal influência foi sua mãe, Francisca Fernandes, que pintava panos de prato.

“Desde então, fiquei fascinado ao ver aquela materialização do desenho, a pintura colorida impregnada no pano de prato.”

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Além disso, também destaca a importância de grandes artistas que atravessaram sua jornada artística como Albert Piauí, Paulo Moura, Arnaldo Albuquerque, Afrânio Castelo Branco, Nonato Oliveira, Gabriel Archanjo, Carlos Martins(Carlão), Aldemir Martins, entre outros.

Sob essas intersecções, da infância até agora, a vida de Genivaldo Costa está existencialmente ligada à arte.

Em suas palavras:

“A arte significa tudo pra mim. Acho que é a minha paixão, é o meu dia-a-dia, é o meu produto ali de sobrevivência, de energia também.”

Essa paixão, hoje, está exposta em diversos pontos de Teresina e faz parte da história do estado, materializada em ilustrações de livros, artes gráficas utilizadas em campanhas publicitárias, restaurações de igrejas, esculturas e pinturas em galerias. É reconhecida por muitos prêmios locais e nacionais, em trabalhos acadêmicos e honrarias, como a Medalha de Honra ao Mérito Cultural, recebida pelo artista em 2024, em homenagem aos serviços culturais prestados ao Estado do Piauí.

Genivaldo Costa. Foto: Jonathan Dourado

 Assim, Genivaldo Costa busca, na cultura popular, sua expressão singular, afirmando as artes plásticas como ponto de comunicação, dedicação, amor, tradição e legado.

No dia 16 de Julho de 2025, Seu Genivaldo recebeu a Geleia Total em seu aconchegante  e colorido ateliê para esta entrevista.

Geleia Total:Seu Genivaldo, primeiro gostaríamos de entender sua história com a arte. Qual é a sua primeira lembrança com a arte?

Genivaldo Costa: É o seguinte, eu vou começar me apresentando, né. Eu sou Genivaldo Costa, trabalho com arte, pintura, desenho e escultura, e sou autodidata. A minha paixão pelo desenho foi incentivada pela minha mãe, Francisca Fernandes, que costumava pintar panos de prato. Desde então, fiquei fascinado ao ver aquela materialização do desenho, a pintura colorida impregnada no pano de prato.Já com 13 anos de idade, tive o meu primeiro contato com a máquina de xerox, o que abriu novas possibilidades para a reprodução de fanzines, que eram pequenos livros de história em quadrinhos. Eu os desenhava e batia na máquina de xerox para reproduzir. Em um desses quadrinhos, o meu pai, Simão José da Silva, teve a ideia de levar um exemplar para a Secretaria de Cultura, no intuito de que fosse publicado. Mas, como Teresina ainda não tinha mercado editorial para esse tipo de trabalho, eles me ofereceram um estágio na Secretaria de Cultura como boy, aqueles garotinhos que fazem serviços.Ali, naquela secretaria, circulavam vários artistas, o que proporcionou um vínculo de amizade com alguns deles, como  Albert Piauí,Paulo Moura e Arnaldo Albuquerque, que me estimularam no aprimoramento da técnica do desenho e na aquisição de novos conhecimentos, por meio de pesquisa e de relacionamento com outros artistas na área da cultura.

Geleia Total: Durante esse caminho, o senhor encontrou dificuldades para se entender como artista e para encontrar sua “personalidade”, sua própria singularidade dentro da arte?

Genivaldo Costa:Sim, tive muita dificuldade no início. Recebi muitos “não”: O trabalho não está legal, tem que melhorar. Mas, nesses “não”, eu descobri que, para ser artista aqui no Piauí, a pessoa tem que gostar muito do que faz ou ser teimoso. E eu fui teimoso. Então, foi nessa necessidade de estudar mais, para ter conhecimento sobre as obras de arte, ver o segmento de estilo, de desenho e de cultura. E foi um processo, tempo a tempo, para ganhar confiança e o trabalho ser aceito.

Geleia Total:Seu Genivaldo, sua arte recorre a muitos elementos da cultura popular, sobretudo da cultura piauiense. Como o senhor acha que a cultura local e a memória coletiva influenciam seu processo de criação?

Genivaldo Costa:Exatamente. Eu passei um bom tempo trabalhando na Secretaria de Cultura e, lá, a gente trabalhava com eventos, organizava muitos eventos culturais, como o Encontro de Folguedos no Piauí, encontros de boi, encontro das lendas, e o Piauí, Teresina, é um leque de cultura popular. Foi observando esses elementos da nossa cultura popular, como “Cabeça de Cuia”, “Não se Pode”, “Dança de São Gonçalo”, “Bumba meu Boi” e outras expressões culturais,  que comecei a introduzir esses elementos no meu trabalho, tanto nas ilustrações quanto na pintura e na escultura.

Genivaldo Costa. Foto: Jonathan Dourado

 

 Geleia Total:Quais artistas piauienses e nacionais, além de quais movimentos, o senhor acredita que influenciaram sua produção artística?

Genivaldo Costa:Bom, de forma indireta, eu via muito, nas agências bancárias, o trabalho de Afrânio Castelo Branco e também via muito, em Teresina, os murais de Nonato Oliveira. Então, de forma indireta, essas duas pessoas, quando eu via, me faziam pensar: “Rapaz… é isso que eu quero fazer.” E, de forma direta, dois artistas, Gabriel Archanjo e Carlos Martins(Carlão) me ajudaram bastante a adquirir novos conhecimentos, tanto na pintura quanto na escultura. Os elementos e movimentos que me influenciaram foram o impressionismo moderno e o cubismo, esses elementos estarão sempre no meu trabalho. Entre os artistas nacionais, eu gosto muito dos gatinhos pintados por Aldemir Martins.

Geleia Total:O senhor também poderia comentar um pouco sobre o seu processo criativo? Como isso funciona dentro da sua rotina?

Genivaldo Costa:O meu processo depende do projeto a ser feito, seja ilustração, cartaz, caricatura, pintura em tela ou até mesmo escultura. O processo criativo vem de uma projeção da minha mente para o papel. Eu começo a rabiscar várias vezes em busca de uma boa solução. Esse processo criativo pode durar uma semana ou ser resolvido em um dia, dependendo da urgência do projeto. Além disso, uma boa leitura, uma boa música e uma boa conversa ajudam no processo criativo.

Genivaldo Costa. Foto: Jonathan Dourado

   

Geleia Total:Seu Genivaldo, gostaríamos que o senhor falasse um pouco sobre a evolução do seu trabalho artístico. Quais materiais o senhor utilizava no começo e quais utiliza mais hoje? Existe algum com o qual o senhor não se identifica mais?

“A evolução no meu trabalho é, e sempre vai ser, para mim, uma busca incansável. Estou sempre buscando novos elementos para compor os meus trabalhos.

Sobre os primeiros materiais que eu usava e não uso mais: antigamente, eu pintava as telas com tinta a óleo, mas hoje não uso mais, porque ela demora a secar e o cheiro dos solventes é muito forte e ofensivo para a saúde.Os meus primeiros trabalhos em escultura foram feitos em madeira; também troquei a madeira pela modelagem em barro, mais maleável e que permite corrigir o desenho, ao contrário da madeira. Hoje, eu trabalho mais com tinta acrílica e argila. E todas as vezes que crio, eu gosto… eu viajo.

Geleia Total:Atualmente, o senhor atuou em muitas frentes sociais, com trabalhos realizados em escolas. Como o senhor enxerga o papel da escola na educação artística? E qual a sua importância não apenas na formação de futuros artistas, mas também na formação cidadã?

Genivaldo Costa:Eu tô meio por fora também desse processo de educação. Mas é o seguinte: é fundamental o papel das artes na educação do cidadão. A arte e a educação salvam. E o que eu vejo é que deveriam existir atuações mais vivas dos órgãos governamentais. Falta vontade, interesse e disposição de mudar, porque verba tem, né? E é o seguinte: ou muda, ou então a gente vai ficar assistindo os nossos cidadãos fazendo dancinha no TikTok. Não vejo articulação, de parte alguma. É isso.

Geleia Total: Além disso, o senhor trabalha diretamente com o cenário artístico piauiense, em especial com as artes plásticas. Como o senhor vê o cenário das artes plásticas no Piauí? Percebe engajamento e valorização desses artistas?

Genivaldo Costa:Antigamente, o cenário artístico piauiense, nas áreas das artes plásticas, era muito parado, quase morrendo. E os artistas plásticos se engajavam mais, ajudavam-se uns aos outros nas lutas para expor os seus trabalhos. A única galeria que existia aqui em Teresina era a do Teatro 4 de Setembro, e tinha que marcar agenda, pois não havia espaço, era lotado. Muitas vezes, tínhamos que expor trabalhos em feiras de arte, até debaixo de ponte mesmo e em praça pública, em Teresina.Hoje em dia, esse cenário mudou. Só em Teresina existem mais de 20 galerias de arte. Falta artista para expor; agora o pessoal não tem mais como brigar. E a arquitetura e o design de interiores ajudaram muito no cenário atual das artes plásticas piauienses, engajando e valorizando o artista local.

Geleia Total: O senhor desenvolve muitas produções voltadas para a arte gráfica. Como percebe a relação entre recursos tecnológicos e produção artística? Quais seriam os benefícios, e, se houver, os malefícios dessa relação?

Genivaldo Costa:Sem dúvida, as artes gráficas tiveram uma grande evolução e um grande engajamento com a tecnologia. Eu sou um artista gráfico do tempo das pranchetas. Da época em que para fazer um cartaz tem que ser todo desenhado à mão. Da tipografia, que juntava letra por letra para formar uma palavra para ser impressa. Hoje em dia não. A tecnologia está ajudando muito. Basta você ter um computador e  dominar alguns programas, você tem um cartaz feito em um minuto, até mesmo no celular você consegue fazer uma arte. E agora com essa chegada aí da inteligência artificial,  aí não sei não. Uma vez amigo meu, ele não sabia, não sabia desenhar coisa nenhuma, foi e me mandou duas caricaturas minhas, aí eu olhei e disse: “ pronto, agora eu tô lascado. E a inteligência na mesma hora faz você só colocar os dados e faz todo tipo de coisa. É uma coisa fascinante, mas também ao mesmo tempo assustador, fica assim: nossa cara, acabou o ilustrador, vai acabar. 

“ Mas eu não acho que vá substituir. Acho que a criatividade do homem ainda é muito grande para chegar a esse ponto.”

Geleia Total: Por fim, seu Genivaldo, o senhor poderia falar sobre os trabalhos que está desenvolvendo agora? O que há de novo?

Genivaldo Costa:Eu estou fazendo uns trabalhos novos agora, voltados mais para a cultura popular, mais para o artesanato. Agora, eu estou na fase de criação e de produção; tem umas peças ali feitas que têm que mandar para queimar lá no Poti Velho. É esse o caminho agora, essa nova caminhada. Também tem a questão dos cenários e produções de grande vulto em relação à cenografia, que antes não eram aplicados dentro da minha produção, e estou trabalhando nisso também. 

Geleia Total: Só mais uma coisa Seu Genivaldo que gostamos sempre de perguntar: o que  a arte significa na sua vida?

Genivaldo Costa: Rapaz, eu acho que a arte significa tudo pra mim. Acho que é a minha paixão, é o meu dia-a-dia, é o meu produto ali de sobrevivência, de energia também

Genivaldo Costa. Foto: Jonathan Dourado

Descrição: Artista Plástico 

Escrito por: Ruanna Sousa

Revisado por: Paulo Narley

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Contatos

Telefones caso queira adquirir alguma obra do artista:

86 99828-0325

86 994264304

Instagram: Genivaldo Costa (@genivaldocostaarte) • Instagram photos and videos 

Caso queria sugerir alguma edição ou correção, envie e-mail para geleiatotal@gmail.com

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