Com 25 anos de trajetória dedicados à arte, à resistência e à transformação social, a Companhia de Teatro Jovens em Cena – COTJOC se firmou como um dos coletivos culturais mais atuantes da periferia de Teresina. Sob a coordenação de Arimatéia Bispo — ator, diretor, assistente social e artista – o grupo não apenas encena histórias, mas representa vozes e vivências de uma juventude que encontra no teatro um espaço de expressão, pertencimento e transformação social. A COTJOC celebra mais que uma trajetória artística: potencializa uma luta diária por cultura acessível. Nesse bate papo, vamos conhecer a importante trajetória do grupo para a comunidade Cidade Jardim na periferia de Teresina, para a cena artística cultural piauiense e conhecer a programação da 16ª mostra Nacional de Teatro ao Alcance de Todos, que acontecerá ainda neste mês de agosto.

- Geleia Total: Para quem ainda não conhece, quem é você na cena artística de Teresina? E conte um pouco da sua trajetória até chegar a atuação dentro do COTJOC
Arimatéia Bispo: Bom, eu me chamo Arimatéia Bispo aqui de Teresina, Piauí. Sou ator, diretor e produtor cultural dentro da companhia de teatro Jovens em Cena, situada no bairro Cidade Jardim. E desde meus 14 anos eu faço teatro. Sou formado pela Escola Técnica de Teatro Gomes Campos. E já estou tomando de conta deste grupo, da companhia já 25 anos. Há 25 anos, quando recebi este grupo, eu estou à frente da companhia dentro da nossa comunidade. E de lá para cá, eu, juntamente com os meninos da companhia, nós optamos de trabalhar e potencializar a nossa zona que nós moramos, que nós nos situamos, que é a nossa comunidade, a nossa periferia, a zona rural, que é trazer espetáculos e fazer os espetáculos acontecerem dentro da nossa comunidade, oportunizando assim a nossa comunidade a ter esse acesso à cultura, ter acesso aos espetáculos que gente consegue trazer para a nossa comunidade. Esse é um pouco dessa trajetória que no qual eu passo por dentro da cultura de Teresina, sabendo que eu já fiz alguns outros trabalhos como para pro grupo pejorativo, por exemplo, já aliás, para o grupo, desculpa, pro grupo Capenga, que é onde eu dirigi o pejorativo, que é o grupo da Bid de Lima, e já fiz a batalha Jenipapo e assim sucessivamente. Então tem outros trabalhos, já fez trabalho com Franklin Pires, já tem outros trabalhos que no qual a gente que eu já circulei dentro da dentro da cultura aqui de Teresina. Então um pouco sobre isso.

2-Geleia Total: Como nasceu a companhia de teatro? Qual era o sonho por trás da criação?
Arimatéia Bispo: A companhia de teatro Jovens em Cena, nasceu, eu creio que assim como muitos grupos de comunidade, através de um grupo de jovens da Igreja Católica, onde eles se reuniam para fazer apresentações para o dia das mães, para o dia dos pais, e para encontros, quando havia encontros dentro da igreja e se reuniu para poder fazer a paixão de Cristo. E mediante isso, esse grupo de jovens, se reuniu para poder especificamente fazer essa paixão de Cristo anualmente. E dentro desse meio termo, eles faziam essas pequenas montagens para esses dias comemorativos e com isso, depois de 7 anos já de existência, os antigos criadores, formadores desse grupo, tiveram que viajar, como José de Jesus, que hoje ele já tá conosco novamente, o Jesus, e o Antônio José, que hoje mora fora, eles me entregaram a companhia para que justamente esses jovens não ficassem desamparados, devido à arte, e eles gostavam de fazer esses trabalhos. Foi quando aí a gente passa, eu sento com um diretor que ele e escritor na época que ele era irmão da companhia de Jesus, que era os jesuítas, e ele fazia textos teatrais e ele desafiou a gente a fazer o nosso primeiro espetáculo fora a Paixão de Cristo, que foi uma montagem do Romeu e Julieta. E foi a partir daí que eu conversando com ele, eu falava: “Olha, a ideia é nós se tornarmos esse grupo de referência da nossa comunidade, de referência no estado do Piauí, em Teresina, que nós possamos não ser só mais um grupo de jovens, mas nós possamos ser uma companhia. E foi quando nós começamos a alimentar essa ideia dentro das dentro dos membros da comunidade, que faz parte da companhia. E com isso o nosso sonho era justamente chegar onde nós estamos e fazer com que possamos ainda crescer, como que é fazer uma amostra de teatro, que desde 2010 essa amostra acontece, que é amostra nacional de teatro arte ao alcance de todos. E por isso que leva esse subtítulo que é arte ao alcance de todos, devido a gente tentar oportunizar a comunidade, a zona rural, as escolas, pessoas que ainda não tiveram a oportunidade de ir até o Teatro 4 de Setembro, a nossa maior casa, a assistir um espetáculo de qualidade e aqui a gente consegue trazer esse espetáculo pra comunidade. E foi assim que nós conseguimos, com muita luta, a gente tá conseguindo indo e insistindo e persistindo a trazer esses espetáculos, fazer essa mostra de teatro, fazer com que a nossa paixão de Cristo pegasse uma reverberação maior, e uma visibilidade maior, que hoje temos uma paixão de Cristo mais consistente, que já veio pessoas, atores de Teresina, renomado como o Francisco Pelé, como o Siro Sires entre outros, e esse foi um sonho e que nós estamos conseguindo realizar hoje em dia, sabe? E que é um presente que nós conseguimos dar pra nossa comunidade.
3 – Geleia Total: O Cotjoc é um dos grupos que mais representa a arte nas periferias de Teresina. Como é fazer teatro visando muitas vezes romper tantas barreiras sociais e culturais?
Arimatéia Bispo: Bom, é desafiador. É desafiador porque a gente sabe que nós estamos fazendo um processo que literalmente é descentralizar a arte. E hoje o grupo, a companhia tá sendo visado tendo essa visão por muitos, a gente fica muito contente porque assim, a gente sabe hoje quanto é difícil trazer arte para a periferia e executar dentro da periferia por fatores. Nós temos os fatores da dificuldade da questão de tirar a mesmo sendo em nossa comunidade, sendo na periferia, nós temos a dificuldade de tirar essa comunidade para vir para uma praça, para vir pra associação de moradores, porque ainda tem essa questão da violência dentro das comunidades, mas, que mesmo assim a gente utiliza a arte justamente para mostrar o contrário disso. Um outro fator é a questão de recursos por fazermos, e aí vem essa questão, será se é por fazermos na periferia? será se é porque nós não estamos nos focos do centro de Teresina?, mas que nós fazemos uma arte consistente, que nós fazemos projetos consistente fazendo com que a nossa comunidade as nossas crianças, adolescentes, jovens e adultos possam ser contemplado com essas culturas, com esses espetáculos, mas que a gente não desiste, a gente não baixa a cabeça para que a gente possa parar por aqui, não. A nossa tendência é sempre querer mais e mais e fazer com que esse desafio ele possa ser cada vez mais, porque a gente sabe que esse desafio sempre vai acontecer, mas a COTJOC, ela tá aqui justamente para isso, para mostrar da onde somos, da onde viemos e aonde fazemos, que isso é importante. E assim, só fazendo um entrave aqui, assim como nós, por exemplo, temos um outro parceiro que é o Utopia, por exemplo, que faz uma cultura, uma arte dentro da sua periferia, dentro da sua comunidade, levando para as escolas, como a gente leva. E eu fico muito contente quando existe esses grupos que não faz só dentro das casas, das maiores casas de Teresina, mas que faz dentro da sua comunidade para que entenda que dentro da comunidade e lá necessita, precisa e a gente faz motivar aqueles jovens, aquelas crianças a fazer arte, a fazer cultura. Isso é muito importante.

4 – Geleia Total: A 16ª mostra Nacional de Teatro ao Alcance de Todos está prestes a acontecer. O que o público pode esperar dessa edição especial que celebra 5 anos do COTJOC?
Arimatéia Bispo: O público pode esperar espetáculos maravilhosos, sabendo que a gente tenta sempre fazer o melhor e trazer o melhor para nossa comunidade, para que eles possam se debruçar nessa cultura de cada espetáculo que vai vir, né? Então, esse ano na comemoração de 25 anos da companhia, temos espetáculo do Ceará, do Recife, São Luís e são espetáculos que vai estar espalhado pela nossa comunidade, na Associação de Moradores da Cidade Jardim, na Praça da Cidade Jardim, em escolas e na zona rural. E vai ter em um outro bairro próximo que a gente vai estar presenteando esse bairro pela primeira vez, onde vai ter um espetáculo de teatro numa praça que foi recém inaugurada. E a gente da companhia traz justamente é, como eu falei agora a pouco, arte ao alcance de todos, de levar essa cultura, esses espetáculos aonde não chega. E é por esse motivo que eles podem esperar os melhores espetáculos, terão também, espetáculos de bonecos, de caixa, de espaços alternativos, espetáculos de rua, vai ter palhaçaria. Então, vai ser uma mistura muito boa, aonde eles podem vão poderão consumir esses espetáculos.
5 – Geleia Total: Que tipo de linguagem cênica e temáticas vocês buscam priorizar na mostra e no trabalho contínuo na companhia?
Arimatéia Bispo: Se bem que assim, a gente dentro da companhia nós traçamos algo, por mais que mostra de teatro, a gente trabalha muito com os bonecos, trazendo pessoas, né, que faz a de bonecos e palhaçaria. Mas, também temos sempre espetáculos de espaços alternativos, como acontece aqui dentro da associação de moradores, como também espetáculo de rua. Então, a gente busca trazer um pouco de tudo, para que possa também justamente alcançar cada público. Por exemplo, nós vamos levar pra zona rural aonde tem muitos idosos, o mais conveniente seria levar para essa situação nesse ano, seria o espetáculo de bonecos que pega justamente os idosos e as crianças. Assim pegando dois públicos, adolescentes e assim sucessivamente. Já nas escolas serão espetáculo de bonecos, que tem a classificação livre por ser de rua. E assim, a gente consegue abraçar todos. Nesse ano, por exemplo, vamos trazer espetáculo do grupo Utopia, que é para um festejo. Então, o final da missa eles vão sair, já vão encontrar o espetáculo lá e já vai está acontecendo e já pega todo mundo ali no barco. Então são essas questões, esse desafio que a gente acaba trazendo para dentro da amostra.

6-Geleia Total: Muito jovens se iniciaram na arte através do COTJOC. Qual o papel da companhia na formação desses novos artistas e cidadãos?
Arimatéia Bispo: Muito bom essa pergunta. Hoje somos 12 integrantes no grupo, a faixa etária hoje, a mais jovem tem 19 anos, e assim, a companhia hoje já formou muitos jovens que hoje estão em outros grupos, que saíram daqui e viram uma oportunidade maior de crescer em outras companhias, em outros grupos, em outros coletivos e lá eles têm uma oportunidade de crescer e ganhar mais voos. E o papel da companhia é justamente esse, nós somos um grupo pequeno em termos de quantidade de pessoas, justamente pra gente tentar ver o potencial e trabalhar esse potencial. Não é um grupo que prende ninguém, graças a Deus, por conta dessa questão de que nós vemos sempre a necessidade do crescimento do outro. Então, a gente passa o que temos de passar, o conhecimento que tem de conhecer, oportunizar de fazer parte das produções dentro da companhia, de estar ali perto, de dar ideia, jogar as ideias e é esse papel da companhia, fazer com que eles possam pensar, com que eles possam refletir e se colocar à disposição dessas produções para que mais na frente, quando eles forem cobrado, eles falarem:
Não, eu passei por ali que tem uma dificuldade da questão de recurso, de estrutura, como um todo, tanto como espaço físico como estrutura de iluminação e enfim de palco, mas que a gente não deixa de fazer. Então, este papel da companhia hoje é muito forte, porque ele mostra ao real do que diz respeito. Olha aqui da onde você está saindo, para onde você vai hoje, que já tem grupos, tem companhia hoje em dia que contrata uma produção para poder fazer e tal e tudo mais e ficam ali só para poder fazer toda a articulação. É, a companhia tem esse papel de mostrar como realmente a gente tem que fazer e botar mão na massa.
7 – Geleia Total: você acredita que a arte é uma ferramenta real de transformação social nas periferias?
Arimatéia Bispo: Sim, muito. Porque pode ser que algumas daquelas crianças ou daqueles jovens, não queiram fazer arte. Porém, o ato deles consumirem, o ato dele acreditar, ele vai trazer os seus. Hoje nós temos, por exemplo, mães que enquanto adolescentes, viram a gente fazendo os nossos espetáculos e hoje elas trazem os seus filhos para assistir os espetáculos. Então, para você ver que a gente consegue fazer com que esses adolescentes, essas crianças, esses jovens, ao invés deles estarem indo para outros caminhos, ele fala assim: Não, eu vou assistir ao espetáculo, vou levar para os meus colegas das escolas para motivar e assim sucessivamente eles fazem com que a cultura aconteça das suas escolas, motivando e fazendo espetáculo, fazendo menos esquetes, né, dentro das suas escolas. E nós temos hoje pessoas, grupo, adolescentes da igreja, que fazem hoje os seus espetáculos, que participaram, hoje tem gente que por exemplo, participa só da paixão de Cristo e que vem só pra paixão de Cristo, porém, eles fazem também dentro dos seus grupos de adolescentes de lá de jovens. Então, é uma ferramenta de transformação. A gente sabe que dentro da sociedade como um todo do Brasil, quantos grupos de periferia, tanto no Rio, em São Paulo, em Teresina, no Ceará, atuam dentro das suas periferias e faz a coisa mudar dentro das suas comunidades. É uma ferramenta social, literalmente, sabe, que ajuda ONGs, ajuda escolas, ajuda a própria comunidade e ajuda empresas privadas a refletir sobre fatores que estão acontecendo. Então, é uma ferramenta extremamente importante. Acredito que ajuda a mudar dentro desse processo de trabalho.

8 – Geleia Total: Falar de cultura no Brasil é também falar de luta por políticas públicas. Como vocês avaliam os apoios e os desafios enfrentados para manter a COTJOC ativa?
Arimatéia Bispo: É desafiador porque entre tantas políticas públicas que existe hoje no mundo, é uma das políticas públicas hoje que sempre luta e reluta para permanecer, e a gente sabe hoje o quão o teatro, a arte aí eu me arrisco a abranger a cultura como um todo hoje no Brasil. Ela está voltando, pelo que passamos no governo anterior. Então, sofremos muito com essa conquista, com essa luta de que o ministério retornando como retornou, a gente tem essa força, essa potencialidade e acreditar um pouquinho bem mais do que a cultura pode fazer hoje no mundo, pode fazer no Brasil, ainda, dentro dessas leis, desses editais, não consigo ver que chega onde deveria chegar. Eu creio que daria para ser bem mais divididos esses editais, aonde poderia oportunizar bem mais. A gente sabe que tá se surgindo vários grupos, e companhias, como outras expressões culturais e a gente tem que dar atenção para todas essas pessoas. Porque esses grupos, companhias, e expressões culturais têm essas grandes importâncias também. Mas hoje no Brasil, a gente enquanto cultura, a gente luta e reluta para manter um espaço cultural, para manter os festivais, para manter as suas montagens, seus espetáculos, as suas criações.
E é desafiador, mas a gente tá aqui lutando para permanecer de cabeça erguida, para gente fazer a cultura acontecer.

9 – Geleia Total: Olhando para esses 25 anos de caminhada, o que mais te emociona ao lembrar da história do grupo?
Arimatéia Bispo: Quando eu tive sozinho no grupo, em 2009, quando começamos a amostra, começamos a amostra só eu e a Jessivânia Rubi, e aí foi as duas pessoas que iniciou, quando começamos, a gente conseguiu ainda resgatar alguns meninos para poder vir e fazer ajudar a mostrar acontecer. E assim, no ano seguinte, por algum tempo, eu fiquei só ali e mas depois eu consegui resgatar novamente que foi 2011 e aí a gente conseguiu manter a o grupo novamente e assim foi voltando os meninos a fazerem parte do da companhia de Teatro Jovens em Cena. Em 2012, quando o Bid Lima foi homenageada, no segundo dia da amostra, o meu pai falece, e semana anteriores eu tinha falado que era capaz do meu pai falecer. Então foram esses dois momentos que eu fiquei só na companhia, mas não deixei a companhia deixar de existir, e foi esse momento quando meu pai falece no segundo dia da amostra e não parou a amostra porque eu pedi, não que continuasse, pois a amostra, o teatro, ele tá aqui, tem senhoras, tem crianças que quando chega nesse período dizer: “Ah, vai haver amostra” e tudo mais. A gente sabe que eles estão esperando por este momento. E ali não era aquela festa, com o som estrondante, não era festa, não. Então assim, não era um paredão que estava rolando, era cultura. Então estava acontecendo como fosse um quarteirão, era minha casa onde estava sendo velado meu pai. São esses momentos que me emocionam e hoje em dia é a gente chegar onde chegamos porque
são 25 anos de companhia, são 16 anos de mostra e vale salientar que são 16 anos ininterruptamente. Nem mesmo na pandemia não deixou de acontecer, aconteceu com menos expressão, mas aconteceu. Então, são fatores que emociona, porque a gente sabe que é difícil fazer acontecer um festival do jeito que é essa amostra do jeito que acontece dentro de uma periferia com recurso baixo do que a gente poderia ceder e ofertar com mais qualidade ainda em termos de estrutura e tudo para nossa comunidade.

10 – Geleia Total: E o futuro? Quais são os próximos passos da Cotjoc?
Arimatéia Bispo: O futuro é a gente permanecer lutando, lutando e lutando. Mais montagem, nós temos aí previsto duas montagens para ser feita. Uma do texto do Siro Siris, né, que é um infantil que pela primeira vez a Cotjoc vai montar um infantil. E temos aí um dois textos, se não me engano, do Ruy Jobim Neto, que a gente tem as nossas últimas montagens, que foi o Maria Vai e o Virgens da Deriva, que foram as duas montagens por últimos que nós fizemos. E a ideia que nós possamos futuramente estar mais fortes para que a gente possa fazer acontecer com novas montagens, como eu falei agora a pouco, deixar circular com essas que é importante porque nós temos um sonho que é circular o Piauí. A gente queria circular o Piauí e se possível a maioria dos municípios para que a gente possa levar que eu creio que poucos grupos circularam pelo Estado, tenho esse projeto, esse desafio para jogar pra companhia para que a gente possa circular. E além disso é a gente potencializar o que é o nosso carro chefe, os nossos dois carros chefe que apesar que a gente iniciou com a paixão de Cristo, potencializar justamente essa amostra trazendo os nossos, tem muitos grupos que entram em contato para vir, para estar conosco e tudo mais, porque gosta da dessa ideia de fazer acontecer na periferia e a gente potencializar acontecer uma semana de festival, sabe? Levando pra comunidade, levando pra zona rural, fazendo pelo menos três, quatro apresentações por dia.
Sei que é desafiador e sei também que é cansativo, mas a gente tem que fazer acontecer porque eu queria fazer por turno, pela manhã, dois espetáculos em algum lugar e pela tarde mais dois em escola em vários ambientes que a gente pudéssemos fazer isso. É o futuro que a gente deseja um dia alcançar.

11 – Geleia Total: Como você enxerga o futuro da arte piauiense, da juventude que ainda está buscando um lugar de fala e expressão através da cultura?
Arimatéia Bispo: É termos mais os espaços. Hoje a Escola Técnica Gomes Campos, assim como antigamente a oficina Procópio Ferreira, que eu fiz parte também, tive o prazer de fazer parte, são espaços para que esses jovens, possam ter esses conhecimentos. E aí quando falo espaço é ser para além disso daí que os grupos abrem certas portas para que eles possam conhecer, que eles possam fazer uma experiência lá, sabe? Que esses festivais que nós temos, esses festivais maiores, dentro do nosso Estado, dentro de Teresina, possam oportunizar esses grupos que estão iniciando e a oportunidade de eles apresentarem ali também. Então, esse espaço de fala só vai acontecer quando eles começarem a consumir isso. Eles têm que consumir e aí não só para atrás do apresentar e tudo, mas eles têm que assistirem, eles têm que para o bate-papo, eles têm que estarem ali para que eles possam entender como é que é essa sistemática e procurar esse lugar de fala. E esse lugar de fala só vai acontecer quando nós nos colocamos e abrimos as portas para esses pequenos produtores, para esses grupos que estão iniciando agora, para essas pessoas que estão estudando, para que eles possam vir e ter esse bate-papo conosco. Eu creio que vai se gerar quanto a isso.
Quanto mais espaço a gente tiver de discussão, eles vão ter mais espaços para ter fala e ter esse lugar de fala. Quanto mais consumos eles fizerem da arte, da cultura, do teatro, da dança, da dança popular, do boi, eles vão entender um pouco mais e vão poder falar e conhecer e vão poder falar um pouco mais sobre.
Então, são esses espaços que a gente tem que abrir as portas desde o Theatro 4 de Setembro até a nossa casa, que é na periferia, na associação de moradores, que é no teatro que acontece, na Praça da Cidade Jardim e assim sucessivamente.

12 – Geleia Total: Que mensagem você deixaria para os jovens que sonham em fazer arte na periferia, mesmo com tantos obstáculos?
Arimatéia Bispo: É, a arte de viver é a liberdade de interpretar. Então, se a gente pega essa fala que a gente possa viver intensamente, que a gente possa procurar conhecimento. E aí eu vou ressaltar novamente, temos a escola técnica, que, se eu não me engano, está até com as inscrições abertas. Temos oficinas que são ofertadas por grupos, e que procurem ler os escritores que têm aí vários escritores que tem de teatro para que eles possam fomentar o conhecimento dele, esse desejo dele de estar justamente nesse lugar de fala. E o que eu digo é isso, que eles não possam parar, que eles não possam desistir. É difícil porque fazer cultura no Brasil, e aí a gente pode falar enquanto Brasil, né? Porque eu não sei a realidade dos de fora, mas fazer cultura no Brasil, é difícil. E, hoje temos vários artistas com trabalhos lindos, maravilhosos como projeto, mas muitos acabam caindo na depressão, se desmotivando, porque a gente acaba não sendo abraçado, contemplados pela realidade de como a gente gostaria que fosse. Mas aqui a gente não pode desistir, que a gente erga a cabeça, erga o nosso olhar sempre olhando para frente, não olhando pro chão, com olhar firme e de cabeça erguida. Então, o que eu digo é que não pare, que não desista. É dolorido, mas a gente consegue.
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Descrição: Artes Cênicas
Escrito por: Luan Rodrigues
Revisado por: Paulo Narley
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