“A poesia é coisa séria, é meu oficio. Eu escrevo porque eu preciso disso”, declara o jovem poeta Lucas Rolim, que fala com paixão sobre a profissão que escolhe para si, e da qual demonstra sentir muito orgulho. Rolim, 21, é estudante de Letras-Inglês na Universidade Federal do Piauí, e desde 2015 se envolve na cena literária teresinense, participando de saraus e outros movimentos em prol da literatura e da cultura como um todo. Lucas é membro do coletivo “Tensão, tesão e criação”, movimento que espalha poesia pela capital piauiense. Além disso, é autor dos zines de poesia “Tetrapoemas” (2015), “Esquizofrenia” (2015), “No panorama do tempo o menino se alarga” (2016), “Besouro” (2016), em parceria com o também poeta Demétrios Galvão, e recente “Os Cantos de Eleanor” (2017). O poeta lançará nesse ano seu primeiro livro chamado “O Mirábolo”. Tem poemas publicados na coletânea “Baião de todos” (Fundapi, 2ª ed., 2016), na revista “Diversos e Afins” e na revista carioca “Garupa”. Com um estilo poético potente e totalmente desconstruído, o jovem conquista seu espaço entre os bons nomes da contemporaneidade que pensam e fazem poesia. Durante essa semana você acompanha um pouco da história do poeta Lucas Rolim.
“A poesia é coisa séria, é meu oficio. Eu escrevo porque eu preciso disso. Eu abracei a poesia.”
Nome Completo: Lucas Araújo Soares de Holanda Rolim
Descrição: Poeta
Data de Nascimento: 09/11/1995
Local de Nascimento: Teresina-PI
O despertar para a leitura
O encontro de Lucas Rolim com a poesia foi no mínimo inusitado. Ele relata que quando mais jovem “fugia” dos estudos. Ao invés de ler os conteúdos das disciplinas de literatura e gramática, ficava admirando as tirinhas que ilustravam tais livros. Eventualmente terminando as tirinhas, o que sobrava a Rolim eram as leituras complementares como crônicas, contos e, é claro, os poemas. E o momento do qual ele nunca esquece foi de ter visto num desses livros de literatura que pegou para ler e não leu, o poema “O Bicho” de Manuel Bandeira. O poeta diz que apesar de ainda ser muito novo, aquele texto o tocou profundamente. Por volta dos 14 anos de idade escreveu alguns versos para seus interesses amorosos, já arriscando as primeiras rimas. Aos 18 anos, percebendo a necessidade de adquirir novos conhecimentos, e enriquecer seus pensamentos resolveu conhecer mais do mundo literário. Sentiu a necessidade de ler, e contou com a ajuda de amigos que lhe recomendaram algumas leituras. Lucas lembra que o primeiro livro que leu nesse período foi “A Metamorfose”, de Franz Kafka. Nesse começo teve certa dificuldade para achar interessante a leitura, mas com o tempo o gosto pelos livros foi aumentando, e outras leituras vieram, até que ele chegasse na poesia, e nela se firmasse.
O abraço poético
A poesia entrou de fato na vida de Lucas aos 18 anos de idade, época em que ele descobriu o verdadeiro prazer nas leituras tanto poéticas quanto não-poéticas. Rolim recorda que o primeiro livro de poesia que leu nesse período foi uma antologia de Mário Quintana. Ainda nessa idade começou a escrever seus primeiros poemas. Foi também nessa época que começou a fazer contato com pessoas de Teresina envolvidas com poesia. Se aproximou do poeta Demetrios Galvão e da poetisa Ariadne Chaves, e foi a partir desses contatos que Lucas participou do seu primeiro Sarau, que coincidentemente foi organizado pelo Roda de Poesia “Tensão, Tesão e Criação”, coletivo ao qual Lucas se integrou não muito tempo depois. Hoje em dia ele juntamente com Demetrios Galvão, João Henrique, Ariadne Chaves, entre outros, comanda a programação poética da Roda de Poesia. A Roda é uma ação coletiva, colaborativa e independente de resistência poética que congrega diversas linguagens artísticas. O evento cumpre ainda a função de ser vitrine para a produção artística local, e fomenta o debate sobre a poesia teresinense contemporânea. A poesia e as demais artes saem dos espaços fechados, formam uma Roda, que conecta escritores, leitores e amantes da pluralidade artística.
Características dos poemas
As características marcantes dos poemas de Lucas Rolim são os símbolos com os quais trabalha. Percebe-se uma mistura de xamanismo e certas referências surrealistas. Rolim busca levar os leitores de seus poemas a experimentarem uma situação de quase transe, uma verdadeira expansão da mente por meio das imagens contidas em seus versos. Pelo lado do xamanismo, entram as visões de um mundo ao mesmo tempo tão imaginário quanto concreto, um delírio tão real que torna-se possível conceber as imagens retratadas. Existe ainda a extrema evocação a elementos da natureza. Metáforas exacerbadas guiam o leitor para um estado de sonho, tanto quanto de expansão da mente, e é aí que entra a sutileza do estilo seguinte, o surrealismo. Dentro desse quase transe provocado pelo texto, existem símbolos, e um forte significado atrelado a cada um. Nenhum elemento da poesia de Rolim está ali sem função. As peças se encaixam nesse jogo de estilos poéticos. As fortes influências para a poética de Lucas Rolim são nomes como os poetas Roberto Piva, Demetrios Galvão, Ludwig Zeller, Enrique Molina, e pintores como René Magritte e Salvador Dalí, e as bandas piauiense DMT, O Carteiro e o músico Severo, os quais escuta durante seu processo de escrita.
“A poesia e a arte em geral levam o homem para mais perto da liberdade.” Lucas Rolim
O poeta conselheiro e os zines
A maior influência no começo da carreira do poeta Lucas Rolim foi o também poeta Demetrios Galvão. Demetrios foi uma espécie de conselheiro literário, apresentado a Rolim obras de poetas que hoje são referência para as criações do jovem. Inclusive foi Demetrios que falou para Lucas sobre as publicações poéticas independentes, os populares “zines”. E o poeta gostou da ideia desse tipo de veiculação de poesia, pois há nisso a força da liberdade de expressão e criação. “Eu posso escrever o que eu quiser, da forma que eu quiser, e suar os materiais que eu quiser”. Seu primeiro zine foi “Tetra Poemas” (2014), depois vieram outros como “No Panorama do Tempo o Menino se Alarga” e “Besouros”, esse último em uma parceria com Demetrios Galvão. O seu trabalho mais recente chama-se “Os Cantos de Eleanor” (2017), e retrata em sete poemas passagens da vida e sentimentos experimentados pela personagem Eleanor em sua trajetória fatal. Esse zine foi lançado pelo selo editorial Kizumba, pertencente ao próprio Lucas. A ideia inicial do Kizumba era apenas agrupar todo a sua produção anterior, mas Rolim pretende expandir o catálogo do selo, e fazer trabalhos de artistas independentes a baixo custo.
Cena poética teresinense
Ao falar sobre a cena poética em Teresina, o poeta Lucas Rolim observa que ainda é um segmento carente de apoio. Como ele mesmo gosta de dizer, o movimento ainda segue à margem. Rolim acredita que outras formas de arte como música, fotografia e pintura possuem maior apelo popular, quando comparadas à poesia. O poeta ainda fala sobre a segmentação da poesia por apenas dois públicos: os conservadores (maior número de pessoas que querem a poesia rimada, e compartilhada em espaços fechados), e um movimento mais transgressor (que reinventam a poesia e a tornam mais popular e acessível). O poeta acredita que um dos principais pontos para valorizar o movimento poético em Teresina é a renovação da poesia. “O que falta são mentes novas trabalhando, e com apoio, com visibilidade e com acesso à verba, para tornar as coisas possíveis”. Lucas diz que a Roda de Poesia Tensão, Tesão e Criação, da qual faz parte, tenta exatamente desmistificar esse conservadorismo dos eventos poéticos, com uma mistura de poesia com música experimental, além da mescla de outras formas de arte. Para ele, a Roda cumpre essa função de levar a poesia para os espaços públicos, atingindo um público mais amplo.
Trilhas poéticas
São apenas 21 anos de idade, mas a responsabilidade que impõe a si mesmo é grande. Carregar o título de poeta poderia pesar nos ombros de muitos, mas Lucas Rolim aceita a designação com naturalidade, talvez devido a maturidade conquistada ao longo de sua ainda curta, mas significativa trajetória poética. Nesses três anos em que está envolvido efetivamente com a poesia, Rolim conseguiu encontrar-se nela, e encará-la como profissão. Além de escrever, é também um ferrenho defensor da poesia livre, espalhada pela cidade em forma de zines ou declamadas em eventos poéticos por todos os cantos da cidade. O poeta acredita na força da arte para uma mudança de comportamento da sociedade. “A poesia e a arte em geral levam o homem para mais perto da liberdade”, comenta Lucas. Em junho desse ano Lucas lança seu primeiro livro chamado “O Mirábolo”. O livro faz parte de uma coleção poética chamada Pontes Poéticas, que vai lançar trabalhos de várias revelações piauienses da poesia. E durante todo o ano, Lucas planeja juntamente com o Coletivo Roda de Poesia “Tensão, Tesão e Criação” a realização dos saraus e demais eventos culturais em Teresina. A poesia segue à margem, mas com mais força do que nunca.
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Fotos
Vídeos
Zines de Poesias
“Tetrapoemas” (2015);
“Esquizofrenia” (2015);
“No panorama do tempo o menino se alarga” (2016);
“Besouro” (2016);
“Os Cantos de Eleanor” (2017);
“Terrário” (2017).
Livros
“O Mirábolo” (2017).
Outras fontes
https://cidadeverde.com/janelasemrotacao/85485/lucas-rolim-poemas-de-o-mirabolo
Data de atualização: 14/05/2017
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