NÃO, de Paulo Narley

Não! Eu não quero saber

Não quero seu perdão

E nem o seu pedido

Eu não preciso

Não! Não implore

Não ajoelhe

Pois tudo o que você conseguirá

É um calo

 

E eu não me calo

Grito

Berro

O quanto eu poder

Choro o quanto eu quiser

Agora eu olho pra esse corpo

Estendido no chão

Sem vida

Não respira

E tudo por culpa da sua religião

 

A gente ia casar, sabia?

A gente planejava

Guardava grana

Seu sacana!

A gente ia ter um filho

Ou dois, quem sabe?!

E agora não há mais vida

Você forçou a partida

 

Não! Não foi sem intenção

O seu ódio levou o amor

A sua religião levou sonhos

Deixou a dor

Satisfeito?

Espero que sim

É melhor um filho morto, né?

Deus quem quis assim

 

Mas o seu Deus não era o dele

O dele amava

Sua verdade não era dele

A sua mata, estilhaça

Agora você segue sua vida

Amanhã já estará tudo bem

E eu fico aqui, velando esse corpo

Que um dia me fez ser alguém

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