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Grupo de Teatro da UESPI apresenta espetáculos sobre identidade, violência e padrões sociais

Foto: Divulgação/Ascom

O palco do Theatro 4 de Setembro recebe na próxima terça-feira (29), às 19h,a apresentação de três peças que entrelaçam arte e consciência social. A apresentação integra o projeto Terças da Casa e é conduzida pelo Grupo de Teatro da Universidade Estadual do Piauí (UESPI), sob a direção da professora e artista Norma Soely Guimarães.

A entrada será simbólica: 1 kg de alimento não perecível, destinado às famílias da Ocupação Marielle Franco, movimento social fundado por mães em situação de vulnerabilidade. Além dos espetáculos, o público poderá adquirir o livro “Foi Assim”, ao custo de R$ 70, com renda também revertida à ocupação.

As três peças encenadas pelo grupo da UESPI são fortemente influenciadas pelas propostas do Teatro do Oprimido, criado por Augusto Boal, e do Teatro das Oprimidas, idealizado por Bárbara Santos. Ambas as correntes artísticas têm como essência o uso do teatro como ferramenta de conscientização e transformação social.

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Foto: Divulgação

A primeira peça da noite, “Tambores da Liberdade”, presta homenagem ao poeta e professor Elio Ferreira. Inspirada em poemas do livro América Negra, a montagem traz à tona reflexões sobre ancestralidade, resistência e orgulho da identidade afrodescendente.

Segundo Norma Soely, o espetáculo é mais que uma leitura dramatizada. “Nós damos corpo às palavras do Elio. Suas poesias falam de uma história que nos foi negada, de raízes africanas esquecidas, do combate ao racismo, da urgência da inclusão e da valorização do povo negro como protagonista de sua própria história. Ele foi uma figura que transformou a UESPI e deixou um legado que agora ganha vida no palco”, ressalta a diretora.

Foto: Giovanny Freitas/Adufpi

“Cada peça trata de uma opressão diferente. Não estamos aqui para oferecer respostas prontas, mas para provocar reflexão. A arte tem esse poder: o de mexer com quem assiste, o de abrir caminhos”, afirma Norma Soely.

A peça também resgata figuras apagadas da história oficial, como Esperança Garcia, mulher negra e escravizada, considerada a primeira advogada do Brasil. A história dela, estudada e poetizada por Elio, é uma das camadas que compõem a narrativa do espetáculo.

Em seguida, o grupo apresenta “Marcas Invisíveis”, baseada no texto “Não se Pode”, de Lara Coêlho e Chiquinho Pereira. A montagem traz a trajetória de Norinha, uma artista talentosa cuja vida é atravessada por uma relação abusiva.

A peça não trata a violência de forma didática, mas por meio da sensibilidade da narrativa e das transformações de Norinha ao longo dos anos. “Norinha é como muitas mulheres que crescem acreditando no ideal do amor romântico e, nesse caminho, acabam expostas a microviolências que destroem sua autoestima e autonomia. Isso vai se agravando até chegar à violência física”, explica Norma.

A dramaturgia aborda os cinco tipos de violência previstos na Lei Maria da Penha — física, psicológica, moral, sexual e patrimonial —, e faz com que o público, especialmente as mulheres, se reconheça ou identifique situações semelhantes. “Recebemos muitos relatos emocionados de mulheres que já viveram aquilo, ou conhecem alguém que passou por isso. O teatro ajuda a romper o silêncio”, completa a diretora.

Encerrando a noite, o espetáculo “Espelho, Espelho Meu”, de Ísis Baião, aposta no humor ácido para refletir sobre os padrões estéticos impostos às mulheres. A peça explora a obsessão pela juventude e a busca incessante por um corpo ideal, num espelho que mais aprisiona do que revela.

“A sociedade impõe à mulher que ela seja eternamente bela, jovem, magra, perfeita — um ideal europeu, inatingível. Isso tem matado mulheres nas mesas de estética, em clínicas clandestinas, em busca de algo que nos ensinaram a desejar a qualquer custo”, comenta Soely.

Na encenação, o espelho se torna alter ego da protagonista, revelando medos, inseguranças e a solidão por trás da vaidade. “Queremos provocar uma reflexão: por que tanta cobrança? Por que tanto medo de envelhecer? A peça mostra essa obsessão de maneira cômica, mas também cruel. O riso vem, mas o incômodo fica. E é isso que o Teatro do Oprimido propõe: não uma catarse, mas uma transformação”, afirma a diretora.

O Grupo de Teatro da UESPI é vinculado à Pró-Reitoria de Extensão (PREX) e reafirma com este espetáculo seu papel cultural, educativo e social. Além de apresentações teatrais, oferece ao público uma experiência de empatia, escuta e despertar coletivo.

Os espetáculos têm a direção de Norma Soely, assistente de direção: Ewerton Moraes e no elenco: Ayrton Freitas, Cairo Brunno, Ewerton Moraes, Gleici Silva, Hianca Marinho, Josy Mascarenhas, Kallyandro Sávio, Paulo Veras, Poli Rodriguez,
Roger Stranger, Sandra Lima, Taylan Silva e Teodoryco Júnior.

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