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Procissão das Sanfonas chega à 17ª edição em Teresina

Foi em 2009 que nasceu a Procissão das Sanfonas em Teresina. Um gesto sonoro, coletivo, para manter viva a memória de Luiz Gonzaga, o Rei do Baião. E agora, mais uma vez, aquilo que já virou tradição se repete: a 17ª edição da Procissão das Sanfonas vai acontecer na próxima sexta-feira, 1º de agosto, convocando músicos, devotos e forrozeiros para celebrar o mestre no compasso do fole e da caminhada.

Tudo começou com uma conversa entre amigos. O professor Wilson Seraine, talvez um dos maiores especialistas em Gonzagão do Piauí e do Nordeste, e Reginaldo Silva, que por doze anos foi companheiro de estrada de Gonzaga — motorista, produtor, confidente. Entre um café e uma lembrança, nasceu a ideia: não era só um missa, não era lamento, mas era uma festa. Porque Gonzaga era, e continua sendo, sinônimo de festa.

No primeiro ano, ainda era o começo de um sonho. Os sanfoneiros subiram num caminhão e cruzaram as ruas do centro, tocando para poucos olhos, quase em silêncio de público, mas com o coração vibrando. Pararam na Praça Landri Sales – a praça do Liceu, onde a orquestra sinfônica João Cláudio se uniu ao fole e ao forró. Foi bonito, mas não bastava. Era preciso pisar o chão.

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E assim, no ano seguinte, os músicos desceram. Pé no asfalto, fole nos braços, caminharam da Catedral de Nossa Senhora das Dores até o Teatro de Arena. Aos poucos, a caminhada virava ritual, e o ritual ganhava forma. Vieram os primeiros vinte sanfoneiros, a caminhada sem patrocínio, sem palco, só vontade. Até que, no sexto ou sétimo ano, a diretora do Museu do Piauí pediu: que parassem ali, diante do casarão que guarda a memória do estado. E foi o que fizeram. Daí em diante, a procissão ganhou rumo e destino.

Vieram as camisetas com estampas do velho Lua. Vieram homenagens aos que o acompanharam em vida. Vieram crianças e velhinhos, e com eles o pau de arara, como naqueles tempos de estrada sertaneja. Veio a água distribuída no caminho, a ambulância no fim da fila, o trio elétrico modesto, o apoio do comércio local e o cuidado de quem faz com o coração. Vieram os bonecos gigantes, feitos à mão, como num cortejo carnavalesco que dançasse forró em vez de samba.

E assim, ano após ano, a procissão cresceu. Cruzou bairros, fronteiras e estados. Vieram músicos de Fortaleza, Aquiraz, Maracanaú. Gente do Pará, do Tocantins. De todo canto onde a sanfona ainda suspira.

Hoje, a Procissão das Sanfonas é mais que uma homenagem: é um gesto de resistência, de celebração, de poesia viva em forma de música. Mesmo sem apoio oficial, ela segue. Mesmo com cortes de verba, ela se reinventa. Porque Luiz Gonzaga é mais que saudade — é tamborim do sertão, é festa que não se cala.

E como todo ano tem um homenageado, este ano o evento marca a celebração dos 80 anos do nascimento de Gonzaguinha, filho de Luiz Gonzaga. A concentração começa às 15 horas com benção dos sanfoneiros, na Igreja Catedral Nossa Senhora das Dores, feita pelo padre Antônio Cruz e depois se inicia o percurso.

“Este ano é um motivo bem especial a mais para a procissão porque o Daniel Gonzaga, filho do Gonzaguinha já tem passagem comprada já está vindo para Teresina na quinta-feira. O mais interessante é que o Daniel é neto de Gonzagão o rei do Baião, e a Carolina (esposa de Daniel) é neta da Anastácia, a rainha do forró”, comemora Wilson Seraine, que é um dos idealizadores do evento.

Em 2025, a Procissão das Sanfonas recebeu o reconhecimento que há muito já pulsava nos corações: foi oficialmente declarada Patrimônio Cultural Imaterial do Município de Teresina. E não parou por aí — o Governo do Estado também a acolheu em sua memória viva, concedendo-lhe o título de Patrimônio Cultural Imaterial do Piauí.

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