Modo escuro Modo claro

Tenho tentado escrever e reescrever textos a punho, como tantas vezes a vi tecendo as palavras. Há travado em mim uma poesia que não desce e que não sobe. Não sai. Está aqui o nó da imagem de te ver escrevendo e reescrevendo teus textos a punho, como devem ser, sempre é de ser, Gracinha. Difícil agora escrever, sinto que me tolheram os punhos, e você aí escrevendo e reescrevendo os textos com os teus nesse mar de folhas que só você sabia ser poseidon. Professora Graça, que é que eu faço com estas pedras de cantaria aqui? Reviro e remexo os punhos, e ainda estou aqui te vendo escrever e reescrever teus textos. Ainda ouço a risada, os segredos por trás das palavras e as histórias contadas. Ainda estão aqui, Graça, guardadinhos mesmo que meus punhos não possam ser os teus. É que sabemos, bem, que ser escritor, pra nós, sempre será escritora, sem arabescos ou floreios, escritora. Escritora, Graça Vilhena, sem muito tempo para dormir nas métricas do século XVIII, porque o tempo urge e aqui estamos, escrevendo e reescrevendo textos a punho, e quem sabe escritora. Gracinha de deus, esta insistência nas palavras, catá-las ao meio dia no passeio-central das avenidas, e depois escrevê-las e reescrevê-las a punho, porque é onde cabem as sombras, os sapatos, os jornais, os pássaros, nesta insistência terrível nas palavras, mas não tem jeito, Graça, o jeito mesmo é escrever e entender que é ser escritora – por consequência, escritora, e mais, poeta. E aqui fico, tropeçando nas tuas palavras e te vendo escrever e reescrever os teus textos a punho, e te vendo falar e falar outra vez sobre poesia, e te vendo pensar e repensar sobre o que falar pra falar e falar outra vez sobre carregar água na peneira e que não há tempo, Graça, nós não temos mais porquê dormir nas métricas do século XVIII, nós somos mulheres, Graça, nós escrevemos agora. Olho pras calçadas, Professora, e acho que a vida é um estado mesmo de Graça. 

Ilustração: Adriano Lobão Aragão

Patrocinado

Ver comentários (2) Ver comentários (2)

Deixe um comentário para João Wilker F.M. Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Postagem anterior

A X Mostra Timonense de Humor homenageia o cordelista Barripi 

Próximo Post

Berimbau de Renda celebra musicalidade e protagonismo feminino na capoeira

Patrocinado