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Maria Isabel: patrimônio e tradição piauiense

Foto: Reprodução

Prato tradicional na mesa do piauiense, a Maria Isabel é feita com arroz cozido junto a cubinhos de carne seca bem fritos e temperos frescos, como cebola, alho e cheiro-verde. O preparo exige cuidado: a carne precisa ser frita até atingir o ponto certo, antes da adição dos temperos, e depois o arroz cozinha junto, absorvendo o sabor. Finaliza-se com cheiro-verde, resultando em uma combinação simples e saborosa que conquistou gerações.

Em janeiro de 2024, a Maria Isabel foi reconhecida oficialmente como Patrimônio Cultural Imaterial do Piauí. No Dicionário do Folclore Brasileiro, Luís da Câmara Cascudo a define como “carne cozida com arroz”, mas no Piauí a receita ganhou identidade própria e forte ligação com a história local.

Maria Isabel, prato tradicional na cozinha piauiense.
Foto: Agência Brasil/Marcello Casal Jr.

A criação da Maria Isabel é cercada de diferentes versões. O escritor Enéas Barros, no livro ‘O Escravo e o Senhor da Parnahiba’, relata que o prato teria surgido nas terras do fazendeiro e comerciante Simplício Dias da Silva, em Parnaíba. Em contrapartida, a carne era utilizada para o preparo de charque. Como o charque era abundante, os escravos, por iniciativa própria, criaram o prato e o batizaram com o nome de Maria Isabel, esposa do senhor.

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Outra narrativa popular fala de uma cozinheira que, para alimentar a família, retirou um pedaço de carne do alforje do marido e preparou arroz com carne cortada em cubinhos. Ao batizar o prato, teria escolhido o nome de suas filhas, Maria e Isabel.

Já no Centro-Oeste do Brasil existe a versão de que, em visita à Província de Mato Grosso, no século XIX, a Imperatriz Maria Isabel foi recebida com um prato que unia a carne de sol ao arroz. Encantada com o sabor, a iguaria teria recebido seu nome em homenagem.

Um prato democrático

Seja qual for sua origem, a Maria Isabel se firmou como um prato democrático: está presente tanto nas mesas mais simples quanto nos cardápios de restaurantes. A receita é básica, mas cada cozinheiro adapta ao seu gosto e tradição familiar.

“Cozinhar no fogão comum ou no fogão a lenha muda totalmente o sabor. Tem gente que coloca tomate, outros não. Há quem frite a carne mais, outros menos. Alguns acrescentam milho verde ou usam cúrcuma”, explica a gastrônoma Valéria Lima, destacando a versatilidade do prato.

O sabor da Maria Isabel vai muito além dos ingredientes. Para ela, a experiência de comer o prato na fazenda, envolto pelo clima, pela paisagem e pelas companhias, influencia diretamente o paladar, acrescentando uma dimensão afetiva e subjetiva à refeição.

“Querendo ou não, outros fatores terminam influenciando no paladar: a ambientação, as companhias. Nas residências também existe a sua afetividade, e também aí o sabor já está diferente. Nos restaurantes, devido a logística, a dinâmica é diferente”, explica Valéria Lima.

Ao longo do tempo, a Maria Isabel também ganhou diversas releituras que dialogam com novos paladares e contextos gastronômicos. Chefs e cozinheiros têm explorado versões com cortes de carne mais nobres, uso de ervas aromáticas, acréscimo de legumes, milho verde ou até frutos do mar, criando combinações que atualizam a tradição sem perder sua essência.

Essas variações mostram como o prato mantém-se vivo e aberto à inovação.

“A releitura mais criativa que eu achei foi a de caju. Já não era só carne… então, não seria exatamente a Maria Isabel em si, mas como releitura posso dizer que realmente essa de carne de caju ficou uma delícia, ficou saborosa. Essa carne de caju já seca foi frita na banha de porco, então imagina, já pegou aquele sabor. Feita no fogão a lenha, com todos os seus condimentos… ficou deliciosa essa Maria Isabel. Na verdade, foi essa que eu achei mais criativa”, recorda a gastrônoma

Festival Maria Isabel

A Central de Artesanato Mestre Dezinho, em Teresina, recebe de 22 a 24 de agosto, das 17h30 às 22h, mais uma edição do Festival Maria Isabel, que este ano traz o tema “Temperos do Nordeste”.

Promovido pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), o evento tem entrada gratuita e reúne gastronomia e cultura em um só espaço. Além de degustar a iguaria, o público poderá participar de aulas-show e prestigiar atrações artísticas.

Na sua oitava edição, o festival contará com a participação de 12 restaurantes e 2 bares, cada um oferecendo pratos exclusivos ao preço único de R$ 25,00. Uma oportunidade para celebrar a diversidade e os sabores que fazem da culinária nordestina um verdadeiro patrimônio cultural brasileiro.

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