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Fotorreportagem revisita a memória das praças do centro de Teresina

Foto: Maria Catiany Oliveira

As praças do Centro de Teresina — Bandeira, Rio Branco, Pedro II e João Luís Ferreira — são o foco da fotorreportagem “Retratos Fantasmas: um ensaio sobre as praças que resistem à longa exposição do tempo”, trabalho de conclusão de curso da jornalista Maria Catiany de Oliveira (@maria.catiany no Instagram), recém-formada em Jornalismo pela Universidade Federal do Piauí (UFPI). Orientado pela professora Nilsângela Cardoso Lima, o projeto busca refletir sobre a relação entre memória coletiva, espaço urbano e transformações sociais.

O trabalho investiga o papel dessas praças na dinâmica da cidade e as mudanças que atravessaram ao longo dos anos. Unindo fotografia e reflexão crítica, a fotorreportagem ressalta o contraste entre elementos que permanecem por gerações e aqueles que se transformam rapidamente.

Natural de Rio Grande do Piauí, no sul do estado, Maria Catiany chegou a Teresina para estudar Jornalismo na UFPI. A adaptação, no entanto, foi marcada por estranhamento: entre idas e vindas provocadas pela pandemia e a rotina de viver como residente dentro do campus, sua relação com a capital era limitada e pouco afetiva. “No início eu não gostava da cidade, não circulava, não conhecia os espaços para além da universidade”, relembra. Essa percepção começou a mudar quando passou a explorar a cidade em companhia de amigos, especialmente durante as andanças de skate.

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O primeiro contato com Teresina, segundo ela, não foi de encantamento, mas de distanciamento. Essa sensação inicial, entretanto, acabou proporcionando um olhar singular: o de quem descobre a cidade aos poucos. Nas caminhadas pelo centro, parques e praças, Maria encontrou belezas que não conhecia em sua cidade natal e passou a se encantar pela memória urbana da capital. “Tudo que eu descobria sobre a história ou sobre os próprios lugares era — e ainda é — muito encantador para mim”, afirma. Dessa experiência nasceu também o desejo de retratar fotograficamente a cidade, revelando um olhar sensível e em constante aproximação com seus espaços.

Jornalista Maria Catiany.
Foto: Arquivo Pessoal

O interesse de Maria Catiany pelo tema nasceu de sua afinidade com a fotografia urbana, campo que passou a explorar de maneira mais profunda a partir de leituras e referências de nomes como Henri Cartier-Bresson, Walter Benjamin e estudiosos ligados à antropologia urbana. A escolha pelas praças do centro, segundo ela, surgiu de um recorte metodológico necessário para viabilizar o projeto no formato prático do curso, mas também se mostrou um caminho fértil para articular memória, cidade e cotidiano por meio da imagem.

Olhar estético e narrativa visual

Para traduzir essas tensões, Maria adotou a fotografia em longa exposição, técnica que prolonga o tempo de abertura do obturador da câmera, registrando tanto a solidez das estruturas arquitetônicas quanto a fluidez do movimento humano. O resultado são imagens em que prédios e monumentos permanecem nítidos, enquanto corpos aparecem borrados, sugerindo a passagem do tempo e a transitoriedade da vida urbana.

A escolha pelo preto e branco também foi decisiva para criar a atmosfera desejada. Em vez de colorir a cena, a ausência de cor elimina distrações e conduz o olhar do espectador para contrastes de luz, sombra e composição. Essa estética, segundo a autora, transmite uma sensação de atemporalidade e reforça a ideia de resistência das praças diante das constantes mudanças da cidade.

As praças que resistem ao tempo

Para além do registro estético, Maria Catiany destaca o caráter documental de sua fotorreportagem, que busca preservar a identidade urbana das praças do centro de Teresina ao mostrar como esses espaços se apresentam em 2025. Assim como é possível encontrar imagens antigas na internet e comparar diferentes épocas, o trabalho oferece uma nova perspectiva sobre lugares que resistem ao tempo, às intempéries e às transformações culturais e geracionais. “A proposta é enxergar as praças não apenas como cenários fixos, mas como estruturas que se mantêm em diálogo constante com o efêmero — a vida que passa todos os dias por elas”, explica.

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