Paciência, jovem Padawan!, por Alisson Carvalho

Há urgência em apresentar resultados para corroborar a eficiência da habilidade do plano, da organização e da direção. A agilidade é interessante em alguns casos que precisam de respostas mais objetivas, contudo com as artes o ponteiro tem uma outra forma de contabilizar o tempo.

A lapidação da obra requer um esmero rígido e nem todos seguem a lógica do mercado na elaboração da sua obra, não condeno quem o faça, mas minhas escolhas seguem outra sistemática que atende aos meus anseios e condiz com os recursos que me foram ofertados.

Curiosamente a criação não é expressa por uma única via de expressão, ela assume diversas formas e no meu caso pode ser expressa textualmente, visualmente por meio de desenhos e pinturas ou mesmo pela expressão corporal materializada nos palcos. Cada forma tem o seu tempo de maturação e a sua forma particular de ser lapidada.

Tenho obras escritas nunca publicadas que datam mais de seis anos, assim como obras que são publicadas tão logo nascem, varia muito do grau de urgência do tema ou de como está meu filtro artístico. As pinturas seguem um outro caminho, mais imediato e que finalizam mais rapidamente. Já o teatro também requer tempo, muitos meses, muitos anos e tem alguns agravantes, pois mesmo tendo parte da minha criação ele é um diálogo com outros criadores e por isso necessita de mais ensaio, ajustes e preparação.

Nesse caso não basta criar e montar a obra, é preciso deixar a criação fluir pelos criadores que comporão a peça. E depois ir lapidando para que a obra criada se adeque ao que se imaginou, todos os elementos têm os seus porquês e cada alteração impacta diretamente na leitura da obra. São muitos detalhes que interagem e que podem dilatar uma ideia ou simplesmente causar um ruído de comunicação.

Eu procuro me colocar sempre num lugar de eterno aprendiz, pois sei da importância de se manter aberto para o diálogo e nesse lugar de dúvidas constantes, sempre questionando as próprias composições, esgoto as minhas próprias perguntas para entender o motivo das escolhas cênicas.

Para além do próprio ego, numa obra coletiva creio que a imagem dos criadores-obra que serão expostos são a parte essencial para demonstrar o processo do grupo, os métodos utilizados, as afinidades artísticas da trupe e o investimento colocado, imbuído, na obra.

Certa vez um grande amigo e grande encenador me disse que o essencial para o artista é ter um projeto de vida, saber o que você quer passar para o mundo, usei o conselho vinculando-o à fala de Sêneca: “Não existe vento favorável a quem não sabe onde deseja ir”. É preciso saber o que se quer, ter objetivos claros, traçar um plano e ter método.

Claro que tudo depende de onde se quer chegar e sobre esse assunto recordo a frase de um outro grande encenador cujo pensamento me influenciou profundamente e me ajudou a enxergar a produção artística como uma empresa, ele dizia que a persistência supera o talento. E, de fato, todos os artistas talentosos foram tragados pelo tempo, os que resistiram foram os obstinados, com raras exceções. Por isso é que sempre insisto que ter método é essencial para sobreviver às intempéries.

Por último, relembro outro grande ensinamento transmitido por um grande amigo e que sempre que pode me relembra que a arte é um empreendimento sério, com potencial gigantesco e que impacta todos os segmentos da sociedade:

Paciência, jovem Padawan!

Por Alisson Carvalho

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