A Chegada de Maria da Inglaterra no Céu, por Áureo Tupinambá

Foto: José Ailson (Um Zé)

Diz que São Pedro tava varrendo a porta do Céu quando assuntou um “glu-glu”…
Aprumou a cabeça pra assim ouvir melhor e gritou:
Maria
É tu mermã?
“Glu-glu-glu”… agora alto e muito claro. Só podia ser Maria, pensou o santo homem.
Com o perú debaixo do braço, Maria estanca alegre às portas do Céu e grita: Cheguei, posso entrar meu santin?
Maria, a casa é sua…
Já tava aqui preparando o terreiro pra sua chegança, mulhé…
Maria entrou e largou no chão o peru que saiu por ali, arrastando asa, todo entufado, esturrando pelo céu, parecia um trovão.
Maria como foi a viagem? Pergunta o santo porteiro…
Rapaz, foi danada de boa, cantei de lá até aqui…
Eu digo é váila, retrucou o homem e emendou: Maria termine de chegar que a noite hoje vai ser animada, você precisa se aprontá.
Muito alegre, Maria adentrou o céu carregando no rosto um sorriso que lhe sorria de lado a lado, foi quando São Pedro gritou:
Maria…
Úuuu, respondeu a cantora, digue meu santo!
Nossa Mãe, mandou avisar que quer entrar na roda com você essa noite, na festa.
Maria não se cabendo de alegria grita: Eita meu bom rosáru, minha preces foram atendidas, estarei logo mais de frente à minha Santa Mãe.
A noite seguia animada todos em pares a rodar, Maria muito bem trajada segurava o tom no gogó, do outro lado, o peru, no “glu-glu”. De repente, tudo se acalmou e o Céu se encheu de anjos e aromas. Dos instrumentos que tocavam saíam as notas mais maravilhosas do universo. Foi quando os tambores rufaram e um enorme clarão se abriu no éter e Maria pode ver Maria, à sua própria imagem e semelhança. Era Nossa Senhora que aparecia, descia lentamente arrastando pelo chão seu manto azul adornado de miçangas, em sua cabeça, uma coroa de luz cravejada de todas as maravilhas da Terra, tinha de tudo o que era mais lindo, um encanto!
Nossa Maria tremeu toda, de emoção, os joelhos magros se dobraram em reverência à Grande Dama…
Foi quando sentiu o hálito perfumado daquela rosa de ouro e sua voz doce dizendo: Maria, mulher, se levante, deixe de ser abestada, venha cá, me dê um abraço, temos tanto o que conversar.
Maria mais mole que peru em véspera de Natal, se levantou e foi dar aquele a braço de filha em Nossa Senhora.
Depois de muita prosa, quando a estrela da manhã já brilhava no firmamento, a Rainha do Céu anunciou que se recolheria, agradeceu a nossa Maria a noite de rodas e festas e se afastou assunta aos céus. Deu umas passadas, parou, se virou e disse: Maria, venha cá, já ia me esquecendo de uma coisa…
Diga puríssima, respondeu prontamente nossa Maria. Ali, na frente do Céus, de todos os anjos e Santos, Nossa Senhora ergueu as mãos e retirou da cabeça a coroa cravejada das maravilhas que trouxera da Terra e que lhe cingia a fronte e disse: toma Maria, guardei essa coroa pra você. Aqui você também é Rainha.

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