Na solidão do quarto, sob os sete véus do conforto, sobre a cadeira da virtude dos ímpios, ele digita, impávido, diante da tela desgastada pela acidez da insanidade gutural que ocasionalmente ecoava da mente vil do, do – perdão, é que até a narração falha na tentativa de nomenclaturar um produto da subtração alimentar despejado pelas vísceras do corpo que, apesar de orgânico, pouca utilidade tem, salvo para os vermes e demais seres acostumados com a coprofagia, para esses sujeitos qualquer dejeto é diamante, mas voltemos aos fatos – pode-se tudo diante da proteção da tela, socos e facas transformam-se em caracteres tingidos com a liberdade e, cá pra nós, pouca graça tem a desonra pessoal, é mais confortável jogar pedra no teto alheio e por isso é que se perde a noção, por alguns instantes, da pequenez que se é para, subitamente, encontrar falhas na superfície (casca, carapaça ou epiderme) do outro e o nosso personagem do qual mal lembro-me o nome, pelo derrocado empreendimento em tentar ser pop, talvez até consiga algum respaldo, claro que só entre os coprófagos – como já mencionei – pois gostar de dejetos é um trabalho árduo, diríamos digno, afinal, alguém tem que assumir o papel de higienizador da natureza, enfim, infelizmente para esses produtores de substâncias fétidas a popularidade é o nutriente básico que dá sentido às suas existências, sendo assim, nada melhor que ignorá-los, pois ali, diante da tela, a impopularidade é a melhor forma de revidar a violência camuflada de humor, sabe-se que o tempo pode ser o pai da maturidade e é por isso que abandonamos, quando bem nos convém, alguns hábitos nocivos, mesmo assim temos que rememorar o quanto o aprimoramento cognitivo é benéfico, real e possível, então pasmem, atualmente pensamos em direitos individuais, outrora seria inconcebível, e, obviamente, o poder deixa suas raízes, produz tentáculos, então é fácil compreender a resistência da árdua tarefa de tentar largar as armas que produzem submissão ou que rasgam e dilaceram as raras garantias adquiridas esforçadamente ao longo das décadas, não é que eu tema o riso ou tenha perdido a capacidade de sentir graça nas anedotas ferinas, é que existem níveis e níveis, e, só talvez, o que desvela minhas gargalhadas seja algo que não cause tanto desconforto para outrem e é bom que fique claro que a pedra arremessada pelo sujeito abjeto – que, por sinal, nem existe e é um mero produto dessa ficção insignificante – só demonstrou o quão frágil é aquele riso sem valor, digitado aleatoriamente, desprendido de qualquer responsabilidade, um projétil virtual deferido não contra um, mas contra todas e todos, por fim é mesmo uma pena sermos portadores de memórias frágeis a tal ponto que esquecemos a “função” primeira do riso, estranhem, mas o riso já foi – e é – ferramenta de combate usado como crítica social, como subversão e para atacar os detentores do poder.
Foto: Jonathan Dourado