O Theatro 4 de Setembro não morde nem tira pedaço, por Noé Filho

Theatro 4 de Setembro – Foto Caio Negreiros

Não sei como nem por que, mas sinto que há um enorme preconceito com o Theatro 4 de Setembro. Talvez, haja com outras casas de teatro e espetáculos, mas principalmente com o 4 de Setembro. É (quase) impossível morar em Teresina e não saber da existência do Theatro 4 de Setembro, afinal, é uma casa com mais de 125 anos e está em uma localização na qual, inevitavelmente, todos nós uma hora ou outra iremos, pelo menos, passar em frente.

Mas fico extremamente impressionado com o percentual enorme da população que nunca foi ao Theatro, nem mesmo para shows de humor, que geralmente são os que atraem um grande público. Até mesmo (ou principalmente?) a elite econômica nunca foi ou nem tem o hábito de frequentar o Theatro 4 de Setembro, que, sem dúvida alguma, é a principal casa de espetáculos do Piauí.

Theatro 4 de Setembro – Foto Caio Negreiros

Certa vez, estava na entrada do Theatro aguardando o horário de uma apresentação que era gratuita, quando uma senhora muito simples passou por perto e me perguntou: o que é isso aqui mesmo? Então, expliquei que era um local de apresentação e que inclusive em breve iria começar uma apresentação gratuita, era só entrar. Ela me olhou meio desconfiada e decidiu ir embora, mesmo querendo conhecer e não precisando pagar nada por isso. Como se ela não pudesse pertencer àquele ambiente.

Esse distanciamento é comum. Muitas pessoas não se acham dignas de frequentar o Theatro 4 de Setembro. Talvez, o fato de historicamente o 4 de Setembro ser frequentado principalmente por uma elite econômica e cultural tenha gerado esse distanciamento com a população como um todo.

Acho que nós, que já temos o hábito de frequentar esses espaços culturais, temos uma responsabilidade em ajudar a quebrar esses preconceitos ou barreiras e convidar amigos e familiares a conhecerem ou passarem a ir com mais frequência. Sempre que posso, faço isso, quando sei que algum amigo nunca foi ao Theatro. Mas o mais marcante para mim foi quando, há dois anos, descobri que minha avó nunca tinha ido nenhuma vez ao Theatro 4 de Setembro, mesmo morando há décadas em Teresina e sempre passando pela Praça Pedro II. Então, levei ela pela primeira vez para assistir a uma apresentação do Projeto Seis e Meia.

Se você faz parte desse grupo que, por algum motivo, nunca foi ao Theatro ou vai raramente, que tal acompanhar a programação e passar a frequentar? Não precisa ir todo dia (como minha amiga Solange Lustosa), mas ir de vez em quando não tem nadinha. E tenho certeza que haverá alguma apresentação do seu interesse. E, por que não ir para apresentações das quais participam artistas que você não conhece, justamente para conhecer e experienciar apresentações fora do que costuma frequentar? Quem sabe, você possa se surpreender.

Fique tranquilo. O Theatro 4 de Setembro não morde nem tira pedaço. Você pode assistir a apresentações maravilhosas sentadinho e ainda com ar-condicionado (olha só!!!). E então? Vamos ao Theatro? Minha sugestão, claro, é ir no dia 16 de fevereiro (sábado), às 19h30, para assistir ao show conjunto do Lucas Cantam Clodo, Climério e Clésio e do Lucas Reis. Show para quem ama música brasileira. Show para quem ama música. Show para quem se permite viver a arte.

Fica o convite também para conhecer as demais casas de espetáculos da cidade: Teatro do Boi, Palácio da Música, Teatro João Paulo II, Teatro de Arena, Teatro Sulica e Teatro Torquato Neto.

? Lucas Cantam Clodo, Climério e Clésio + Lucas Reis

? Dois shows de MPB imperdíveis! Primeiro, os Lucas Coimbra e Belchior farão uma linda homenagem aos mestres da MPB Clodo, Climério e Clésio e depois Lucas Reis mostrará um pouco do seu novo álbum autoral “O Segredo”, dentre outras músicas.
❤ Produção: Geleia Total (www.geleiatotal.com.br)⠀

? 16 de fevereiro (sábado)
⏰ 19h30
? Theatro 4 de Setembro⠀

✅ Ingressos: 40 (inteira), 20 (meia)⠀
✅ Entrada gratuita para quem se chamar Lucas

✨ Onde comprar?
1. Na Toccata – Rua Angélica, 920
2. Na Banca do Joel – Praça Pedro II
3. Por transferência bancária: 86 99802.6952 (http://bit.ly/WhatsAppGeleiaTotal)
4. Na bilheteria do Theatro, no dia do show
5. Pelo Sympla – bit.ly/lucas16fev

?? Mais informações: 86 99802.6952 (http://bit.ly/WhatsAppGeleiaTotal)

?Apoio: Camarão do Elias

Por Noé Filho.

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4 comentários
  1. As desigualdades no ambiente urbano brasileiro nunca surpreenderam ninguém, afinal convivemos com a segregação social e estamos constantemente afirmando a estigmatização das camadas populares. Teresina não seria diferente, já que foi fundada sobre a rocha positivista da ambição pelo desenvolvimento, por isso sempre produziu violência e afirmou a manutenção das desigualdades. A coexistência de diversas classes sociais, embora estejam presentes na dinâmica urbana, ainda não foi suficiente para produzir o sentimento de tolerância. Os espaços de lazer e consumo, geralmente, isso para ser bem otimista, são criados para atender as demandas das classes privilegiadas. E nessa selva de pedra, onde uma das classes tenta cada vez mais a sua própria segregação, abrigando-se em condomínios e criado um espaço livre da interação com as classes mais populares que tentam diariamente ocupar os grandes centros, os conflitos são acentuados e como diria Bourdieu (2013): as distinções entre classes sociais e indivíduos resultam da combinação das representações simbólicas com a materialidade do mundo social, ou seja, a distinção é simultaneamente quem produz e produto da realidade física. Portanto, elas ocorrem tanto pela objetividade da realidade social quanto pela subjetividade dos indivíduos nela inserida.
    Talvez não seja o ‘habitus’ da transeunte visitar espaços culturais no centro de Teresina, talvez, de fato, tenhamos falhado e criado nichos elitistas, bolhas e guetos impenetráveis. E notamos o quanto segregamos, como a arte ainda está distante de algumas pessoas, há quem diga que não é nossa “cultura” frequentarmos os teatros. Então porque continuar reproduzindo esses habitus? Reflito (obviamente muitas dessas reflexões foram absorvidas dos pensadores das ciências sociais, não é nada novo) sobre isso baseado no trecho que recortei: “Mesmo querendo conhecer e mesmo não precisando pagar nada por isso. Como se ela não pudesse pertencer àquele ambiente. Muito boa a reflexão, Noé.

  2. O comentário do Alisson traz pontos muito importantes que o texto poderia ter mencionado e ficaria muito mais rico. A classe trabalhadora não tem tempo ou energia pra ir ao teatro. Retirar a subjetividade das pessoas e projetá-la no espaço é muito problemático. O texto explora uma questão muito importante com uma abordagem que eu não acredito ser a mais sensível ao problema real, que é maior que somente o Teatro

  3. A falta de um estacionamento é capital para um teatro onde grande parte dos espectadores são de classe média e se deslocam com um veiculo pessoal. O teatro podia fazer uma parceria com um dos estacionamentos localizado próximo para que ele prorrogasse o funcionamento nos horários de espetáculos. Veículos são arrombados nos arredores do teatro. Frequentadores que se deslocam de ônibus são assaltados na praça ou a caminho da parada de ônibus pela ausência de uma segurança policial no percurso praça Pedro ll/Frei Serafim. Ingressos já deviam da o direito ao estacionamento imbutido no preço.

  4. Texto que traz alguns pontos interessantes, com comentários bastante pertinentes.

    Realmente é um local que quem tem condição de ir (de pagar o ingresso, qd cobrado, de ter como ir e voltar, a depender do dia e horário) não vai (tanto), e quem não tem raramente ou nunca foi.
    E pra mim o mais interessante foi destacar esse distanciamento que sempre houve, numa “casa da elite”, e se perpetua.
    Mas penso também no quanto a dinâmica da cidade nos incentiva (ou muitas vezes limita, obriga mesmo) a nos isolar, sair de casa apenas para trabalho, numa eficaz forma de controle social.

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