Faça como os gringos é mozovo, por Noé Filho

O Governo do Piauí e o SEBRAE Piauí acabaram de lançar uma campanha com a finalidade de atrair turistas para o litoral. Fiquei tão chocado que vim aqui escrever este texto, pois se trata de uma campanha que achei extremamente problemática. Devem ter pensado assim “Como podemos vender o Piauí sem mostrar demais o Piauí?” Olhem só:

Seria um pouco menos pior se o público-alvo da campanha fosse turistas de outros países, mas não. O objetivo da campanha é atrair os próprios piauienses para o litoral, com o slogan “Faça como os gringos, visite o litoral do Piauí.”

Eu, como piauiense, realmente não estou nem um pouco preocupado com o que os gringos acham ou estão deixando de achar. Amo o litoral piauiense porque conheço e sei da quantidade de belezas e atrações únicas nossas. É um discurso muito colonizado querer nos convencer a ir ao litoral porque os “gringos” estão dizendo que vale a pena ir ao litoral piauiense para tomar “uma boa caipirinha”.

A campanha é totalmente genérica. Dois gringos brancos andando por lugares sem nenhum ser vivo para contar história (fica a pergunta: existem piauienses ou turistas no litoral?), música caribenha ao fundo, filtro amarelado desbotado que hollywood usa para estereotipar países latino-americanos. Só faltou umas araras e umas mulheres dançando salsa.

Como vender o Piauí para os piauienses sem apresentar elementos da nossa própria cultura? Do que temos de único? Do que nós como piauienses amamos? Como vender o Piauí SEM A NOSSA CARA? No clipe, não aparece, literalmente, nenhuma cara piauiense para contar história. Aliás, nenhum ser humano. A impressão que dá é que houve um apocalipse zumbi e os únicos sobreviventes conseguiram chegar ao litoral piauiense desértico para se refugiar.

Campanhas assim nos descaracterizam, ainda mais sendo feitas por nós mesmos. Eu, pelo menos, como piauiense, quero ver o meu Piauí. Quero ouvir o Piauí. Quero ver nossas caras. Quero ver as nossas cores, de preferência, não desbotadas.

Uma excelente oportunidade de valorizar nossa cultura, consolidar referências culturais, dar palco para artistas, artesãos, empreendedores culturais foi perdida. O máximo que conseguimos ver de arte piauiense foi um segundo mostrando uma peça de artesanato desfocada com os gringos em destaque.

 

Escrito por Noé Filho.

Revisado por Paulo Narley.

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3 comentários
  1. Discordo Noé. A campanha está belíssima e teve um foco que você não percebeu. A maior preocupação no momento é atrair brasileiros para o litoral e a ideia seria: “vejam até os estrangeiros vem, só falta você “. Eu gostei. Temos que atrair turistas que deixam lucros. E as imagens são universais e nada piegas. E mais: finalmente o Estado está fazendo uma campanha que tanto precisamos. Enfim, amigo, tudo é válido e com tudo, todos ganhamos.

  2. Vim ler poque achei muito boa a propaganda desse novo Caribe no Pihauy. Por que meu filho, hoje só viaja quem é rico mesmo. Aí em Barra Grande eu fui uma vez já depois dos 50, porque excursão não tem pra lá. Só pra Atalaia que ninguém vai porque diz que só tem farofeiro. Uma diária num hotel desses é meu aposento todo. Eu entendi que eles são ricos e por isso são gringos, porque na verdade eles queriam colocar só gente branca, mas no Piauí só tem pobre. Eles vão de avião, nem param em Piracuruca pra comer milho. Eu entendi que eles tão procurando empregados no Piauí, num é o Sebrae? Eles devem ser uma empresa, e tão vendendo alguma coisa pra gente, devem ser empreendedores. Bem aí foi gente rica que paga praia cara pra não ver pobre que fez essa campanha. Ficou bonita pra gringo ver. Eu lhe vi no Salipi, você tava rouco. Tome um chá de alho com limão e faça gargarejo com água morna de pimenta do reino. Abraço.

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