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Salipi: paixão literária e conexão humana

As palavras transcendem barreiras, tornando visível o invisível íntimo de cada ser. Tal como um fósforo que se acende, elas iluminam verdades ocultas, despertam emoções adormecidas e revelam realidades das quais muitas vezes nos custam enfrentar. Ao abrir um livro, somos transportados para universos complexos, onde sentimentos, ideias e vivências se entrelaçam. Cada página acesa é um lampejo efêmero que revela fragmentos de nossa alma, enquanto expõe a vastidão sombria que nos envolve. De fato, quando nos entregamos a uma narrativa, não seguimos meramente os passos dos personagens – mergulhamos em nós mesmos. Não se trata apenas de decodificar letras, mas absorver significados e sentir as nuances. É permitir-se mergulhar na palavra de forma a experimentar a fruição única que a arte nos oferece.

No contexto de um mundo cada vez mais digital, onde o toque da tela substitui o folhear de páginas as feiras literárias emergem como verdadeiros oásis – portais para universos de histórias e ideias. Mais do que meros pontos de venda de livros, os respectivos eventos são celebrações vibrantes pelo qual o cheiro do papel novo se mistura ao burburinho de vozes, risos e o sussurro de descobertas. No meio do alvoroço festivo, entre histórias frescas e o aroma de café, o 23º Salão do Livro do Piauí (Salipi), que homenageou a professora e ativista Sueli Rodrigues, com o tema “Ler e Escrever – Existir e Resistir”, é um exemplo eloquente. Não se trata simplesmente de uma coleção de estandes e títulos. É um rizoma de histórias, um entrelaçar de almas as quais se encontram na vastidão do saber.

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Arquivo pessoal

Nele, a magia da leitura se manifesta em cada estande, em cada bate-papo com autores e nos lançamentos que se transformam em novos universos a serem descobertos. O Salipi, com sua atmosfera arrebatadora, oficinas de contação de histórias, performances artísticas e atividades lúdicas, transforma a leitura em uma aventura apaixonante, semeando o desejo de ler e despertando a curiosidade nos corações de todas as idades. É ali que o escritor, com seu olhar de sonhador, encontra o leitor ávido, e num instante mágico, as palavras ganham vida, transcendendo a tinta e o papel. Assim como crianças, com olhos brilhantes, descobrem dragões e princesas, enquanto adultos se perdem em tramas complexas ou reencontram velhos amigos em reedições aguardadas.

Bárbara Resende, professora e leitora ávida, personifica essa jornada. Sua trajetória, marcada pela leitura de Harry Potter na infância, mostra como os livros podem moldar carreiras e destinos. Formada em Letras Portuguesas e Literatura pela Universidade Federal do Piauí (UFPI), ela destacou que tal paixão não apenas moldou sua carreira, tornando a literatura seu caminho profissional, assim como transformou-se em um verdadeiro propósito de vida. Em entrevista à GeleiaTotal.com.br, Bárbara expressou seu carinho pela literatura piauiense, influenciada por grandes mestres que deixaram um legado na educação e na cultura local. “Minha primeira lembrança do Salipi é de 2016, quando participei como visitante. A experiência foi tão marcante que, em 2017, decidi voltar como voluntária – e sigo até hoje, com muito orgulho, fazendo parte do maior evento literário do nosso estado”, contou ela. Sua dedicação reflete um compromisso em promover a literatura e fortalecer a cultura no Piauí.

Imagine agora a complexidade do Salão, um evento que reúne centenas de editores, milhares de livros, autores e um público ávido por cultura funcionando com uma organização impecável, quase como uma orquestra. Por trás de cada estande montado, de cada sessão de autógrafos organizada e de cada evento que acontece sem percalços, há uma força invisível, porém vital: o trabalho dos voluntários.

Eis o milagre cotidiano realizado por aqueles que se encantam pela literatura. Eles são o fio dourado que entrelaça a tapeçaria das feiras literárias, os guardiões invisíveis que garantem a magia de cada edição. Com seu esforço incansável, criam um ambiente acolhedor e estimulante, permitindo que a literatura floresça e que relações significativas se estabeleçam. Sem eles, a experiência da maior feira literária do Piauí não seria a mesma, e a paixão pela cultura literária que permeia o evento não ressoaria com a mesma intensidade.

Desde as primeiras horas da manhã, antes mesmo da abertura ao público, os voluntários já estão em ação. Montam estandes, organizam os milhares de livros e garantem que a sinalização esteja impecável. “Quando nos tornamos voluntários do Salipi, a conexão que criamos com as pessoas nos incentiva a continuar. Acabamos desenvolvendo um amor não só pelo evento, mas também pelas pessoas, formando uma verdadeira família em prol de um amor em comum: o nosso Salão do Livro e, sobretudo, o amor pela literatura”, completou. Essa união e dedicação são essenciais para o sucesso do evento, criando uma atmosfera encantadora que torna o Salão verdadeiramente inesquecível.

O voluntariado vai muito além do trabalho manual – é a expressão genuína de um amor profundo pela leitura e pela cultura. Muitos voluntários são estudantes de Letras, Biblioteconomia ou simplesmente leitores apaixonados que desejam promover a literatura. Eles trazem um entusiasmo contagiante, que se reflete no público, criando uma atmosfera de colaboração e devoção ao universo dos livros. O Salipi me inspirou a querer conhecer mais escritores piauienses, a pesquisar cada autor que eu não conhecia e ia descobrindo ao longo do evento. E sim, o Salipi também me inspirou a escrever — mesmo que eu ainda não goste muito de mostrar meus escritos”, finalizou. Ao promover a literatura, o Salão do Livro do Piauí (Salipi) se torna não apenas um evento, entretanto um verdadeiro motor de transformação cultural, enriquecendo a vida da comunidade e fortalecendo o panorama literário da região. Nesse espaço, onde narrativa e ação se fundem, a transformação nasce da resistência, tecendo novos significados. Cada gesto torna-se poesia em movimento, reinventando o possível.

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