Crítica do livro “Relatório 2500 – a decisão”, de Dalva Freire, por Marciléia Ribeiro

O ano de 2500 está logo ali

Pouca coisa eu sabia sobre esse livro. Quando eu tive contanto com a obra física pela primeira vez confesso que fiquei assustada. Ao ler o resumo, vi que a história se passava no ano de 2499 – nossaaaa! Tantos, tantos, tantos anos à frente, como pode ser? Realmente, era algo muito inovador no meu “leque” de leituras. Imaginei o enredo, os cenários, os personagens e, principalmente, o espaço. Onde será que esta história acontece? Como contar e descrever uma Teresina no ano de 2499? No entanto, confesso, com um pouco de vergonha, que o que me escapou e passou despercebido foi o seguinte e mais importante questionamento:

-Como estaria o nosso planeta no ano de 2499?

Mal podia esperar. Comecei a leitura. Foi uma sensação incrível a que eu senti. É uma verdadeira máquina do tempo. A partir da primeira página me senti viajando num TAV diretamente para o futuro. E o mais legal – vislumbrei Teresina toda arrumadinha numa atmosfera futurista incrível, sem nenhuma contradição literária ou idealizações magníficas da ficção. É algo tão, tão REAL que a gente sente 2500 bem aí.

Nesse texto, vou me limitar a falar demais sobre o enredo. Não quero dar spoiler – a minha intenção é deixar em você, leitor(a), o gostinho especial da curiosidade, quero despertar em ti a vontade de imaginar Teresina e o mundo há tantos anos à frente, depois de tudo que nós, seres humanos, estamos fazendo com o nosso planeta.

-Ah, mas é só ficção!

-Não! É antes de tudo, um AVISO.

Os trechos a seguir descrevem o centro comercial de Teresina, chamado “Grande Sol”. A meu ver, nada perdeu a identidade na ficção de Dalva Freire, a autora conseguiu construir em sua obra, mesmo no ano de 2499, a cultura e as características regionais e geográficas da nossa cidade:

“Então mais uma vez me dirigi à via expressa, dessa vez rumo ao centro comercial da cidade velha, o Grande Sol, como era chamado. Indo pela via elevada era possível ver os telhados de muitos prédios antigos, alguns da época colonial, que foram tombados (…) O centro comercial era um domo comum, em formato de meia esfera, concebido para nos proteger das radiações e do extremo calor de nossa cidade.” (pp. 14 e 15)

“(…) nas quatro extremidades do quarteirão que o Grande Sol ocupava havia jardins a céu aberto, que eram ornados com plantas de florescência amarela: ipês (amarelos), dedais de ouro, girassóis, paus d’ arco amarelos, ixoras amarelas e outras plantinhas rasteiras com flores amarelas que não sei o nome.” (p. 15)

A narrativa começa em torno do cotidiano de Aisha, uma jovem que ainda não escolheu sua profissão, mas, por possuir um instinto de cuidado com a vida, de uma forma geral, decide se juntar à ONG AW, que é responsável pela produção de relatórios anuais sobre condições socioambientais do planeta. Durante as missões dessa ONG, Aisha conhece outros voluntários e enxerga ainda mais de perto os problemas ambientais e sociais pelos quais passam milhares de pessoas e, principalmente, vivencia os danos causados à natureza que “respira por aparelhos” e que infelizmente desfruta de um futuro sem vida – prático talvez, mas artificial, sintético, falso e com gosto de plástico.

Numa dessas missões, a equipe da AW segue para a floresta amazônica e é imensamente angustiante lidar com um cenário morto, com uma natureza que resiste a duras penas e que mais se parece com uma pequena simbologia do que um dia ela foi. Na obra de Dalva Freire, a natureza – as plantas, os animais e tudo mais que a representa – se encontra envolta de domos que ganharam o espaço e o mundo, “corrompendo” o ambiente e tudo aquilo que um dia foi natural.

“Ao longe, bem ao longe, eu consegui escutar o gorjear de uns pássaros, e talvez os assobios de alguns macacos. Enquanto eu corria, meu pensamento estava bem longe, numa época em que eu sequer conheci, onde aquele lugar era povoado por cores e sons infinitos, e agora tínhamos apenas uma amostra do passado. O único resquício que permanecera o mesmo era o Sol.” (p. 90)

Por assim dizer, é uma obra que traz em si uma amostra “viva” do nosso futuro.

Dessa forma, ler “Relatório 2500 – a decisão” foi uma experiência incrível. Sempre que posso, reafirmo a ideia de que nunca saímos os mesmos de uma leitura, mesmo que não tenhamos gostado dela, mas, nesse caso, além de ser uma ficção incrível, muito bem escrita e elaborada, as temáticas abordadas me fizeram repensar tantas coisas importantes que precisam URGENTEMENTE serem repensadas por todo mundo. Vale ressaltar também que, além dessa temática tão importante, nos deparamos ainda com as vivências de Aisha, com seus conflitos sentimentais e familiares, coisas não menos importantes e que devem ser abordadas com mais força nos dias de hoje caso não queiramos um futuro ainda mais caótico.

“Relatório 2500” é antes de tudo uma leitura necessária e me sinto imensamente feliz por saber que temos uma obra desse nível na literatura piauiense.

Eu poderia e deveria me aprofundar um pouco mais e trazer mais trechos dessa obra maravilhosa, mas eu não posso estragar a surpresa e não quero entregar mais nenhum detalhe dessa história incrível. Portanto, além das minhas impressões sobre essa leitura muuuuito agradável, deixo o seguinte conselho: leia mais! Leia de tudo e em todos os lugares. Leia “Relatório 2500”, leia o mundo. Repassar valores e comportamentos pode salvar o mundo, e a leitura é um dos principais caminhos para isso.

Por: Marciléia Ribeiro 

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