“Moa” uma parceria de Francisco Magalhães com Chico Cesar

Francisco Magalhães é jornalista/letrista e escreve haikais e aforismos. Nos últimos 30 anos, ele trabalhou em TVs e jornais, revistas, rádios e portais made in Piauí. E recentemente fez uma parceria com o música Chico César compondo a letra da música “Moa” que foi musicada pelo cantor. Confira:

“Moa vai renascer
belo e banto
samba e semba ê
ginga de jongo
Moa vai renascer
feito canto
volta para moer
todo o pranto
Moa vai renascer
Catandê do amor
som malê
mão tambor
Moa vai renascer
estrela antares
quilombola
palmares”

Segundo Francisco Magalhães, a amizade, que já dura quarenta anos, tem ligação com o tempo de graduação, quando cursaram Jornalismo na Universidade Federal da Paraíba, na década de 1980. O letrista conta que nunca tinha feito uma parceria com Chico Cesar, mas, depois de escrever a letra de “Moa”, quis mostrar ao amigo que não tardou a musicar. Vale lembrar que Romualdo Rosário da Costa, conhecido como Moa do Katendê, foi um mestre de capoeira, compositor, percussionista, artesão e educador. Foi considerado um dos maiores mestres de capoeira de Angola da Bahia e morreu aos 63 anos após ser assassinado em Salvador.

“O assassino de Moa me chocou e coloquei minha indignação no papel. Ele (Chico César) divulgou hoje para problematizar a data de 13 de maio”, diz Francisco Magalhães.

Francisco Magalhães escreve haikais e aforismos desde a época de estudante universitário, pois foi quando aprendeu a arte do haikai com Fransued do Vale Coelho, poeta piauiense que mora em João Pessoa há 4 décadas. O conhecimento é usado, segundo o artista, com frequência nos trabalhos jornalísticos. Já as suas primeiras experiências com letras musicais, começaram a surgir em 2009 e desde então ele não parou de produzir. Atualmente, Francisco Magalhães já tem cerca de 120 músicas com o seu principal parceiro, o Mestre Osnir Veríssimo, além de possuir várias parcerias com Francy Monte, Titá Pereira, Zé Quaresma, Rubinho Figueiredo, Geraldo Brito, Machado Júnior e muitos outros compositores piauienses.

Um leitor em tempo integral, apaixonado pela literatura, com destaque para a poesia, mas sem esquecer dos romances e ensaios. Ele conta que está sempre lendo livros sobre e de política por necessidade profissional. “Eu comecei a escrever com meu irmão, o Pádua Carvalho, uma coluna de resenhas de livro na revista eletrônica Acrobata”.

“O Osnir Veríssimo e eu fomos vencedores do concurso de músicas carnavalescas promovido pela Fundação Cultural Monsenhor Chaves. Ele e eu somos da ala de compositores da escola de samba Ziriguidum. Também fomos campeões do Carnaval de Teresina. Tenho músicas gravadas por Solange Leal, Soraia Castelo Branco, Auzimar Alvarenga e mais 10 intérpretes piauienses.” Francisco Magalhães

As criações de Francisco Magalhães costumam trazer inúmeras inquietações, pois a música social é um elemento marcante nas letras escritas pelo autor. Ele conta que tem muitas composições que vão tocar em temáticas como a negritude e a história do Piauí. Além disso, suas criações costumam tratar de assuntos como o feminismo e questões LGBTQIA+. O letrista conta que possui letras com o seu “Eu feminino” e o seu “Eu lírico homossexual”, inclusive tem uma dessas canções gravadas por Benício Bem, que é um artista trans.

Francisco tem uma produção artística intensa, está constantemente produzindo letras de músicas. Um trabalho tão intenso que já gestou mais de cem letras ainda inéditas e que são constantemente reescritas. Segundo o artista, ele escreve por necessidade de expressão. Durante a quarentena coronovídica, já conseguiu 10 parcerias, além de Chico César, com os artistas Francy Monte, Titá Pereira, Geraldo Brito e Machado Júnior.

A paixão pela música está enraizada no artista, e ele frisa a importância de seguir a vereda que virou uma larga e grande estrada aberta na música popular piauiense por artistas como Torquarto Neto, Durvalino Couto Filho e Glauco Luz.

Poesias

Alforjes

Um quarto de hotel
e o céu de Nova Iorque
na parede um Van Gogh

Girasóis
e luz da lua
nos lençóis

Tu pele
em meus
pelos alados
nossos corpos
asas do sagrado

Quando
o pão da poesia
chegar ao fim

Beba o vinho
da solidão
fazei isso
em memória de mim.
(Em parceria com Geraldo Brito)

10 Estudos para Haikai

1)

na árvore morta
ninho de passarinho
quem se importa?

2)

beira dum rio
arde toda tarde
sol no cio

3)

estrela do mar
brilha só ali na trilha
já vou navegar

4)

no chão do Japão
sangue de samurais
em quantos hai-kais?

5)

Eu sou a seta.
O amor é o arco.
Você, a meta.

6)

asas na brisa
ave voa na névoa
vida ao vento

7)

Meu olhar viu
flores a flutuar
nos aguapés do rio

8)

Ao léu do vento
a marca no pau-d’arco
demarca o tempo

9)

velho jardim
(o tempo passa por mim)
jovem jasmim

10)

Pousa no ipê
Borboleta branca.
– cores para você.

Kennedy Costa e Francisco Magalhães

Sempre que a sombra
do medo se acendia
queria a certeza
que iria ser acessa
a luz da poesia

De qual deserto
o amor desertor
areia fugidia
ou buraco negro
da luz da poesia

No negror da cor
na sombra do farol
um relógio de sol
arco-íris luzia
à luz da poesia

No dia da romaria
na hora da Ave-Maria
no altar de minha fé
tua alma eu benzia
na luz da poesia

Céus de Oeiras

Velo nosso amor/
com todo zelo/
para que tu me queiras/
e eu possa vê-lo/
nos céus de Oeiras/e no lajedo/
onde o pé de Deus/
é um selo.

Assim não sei/
se será sina/
ou medo/
à flor da pele/
vou/
fazer um apelo.

Nosso amor/
eu tento/
fazê-lo/
ser pólem/
da rosa dos ventos/no teu pelo.

Menina de Piracuruca

um cantar de lavadeira/
uma oração na novena/
cantilena de carpideira/
Diadorim com diadema/
toada de cego de feira/
doce clara e sal-gema/
sussurro na gemedeira/
juras ao pé da jurema/
alegrias no zé-pereira/
um cheirim de alfazema/
uma reza de romeira/
gritos no gogó da ema/
forró no pé da porteira/
pôr-do-sol nas açucenas/
na minha’alma parceira/
eu rima/
você poema.

Floreado

Uma baita farra de forró
nas quebradas do Mimbó
xote do boi de meu baião
no xaxado de seu coração

Minha voz de aboiador
voa com arara Canindé
meu alforje no quarador
meu amor no arrasta-pé

Ouvi cantar o Rei de Exu
tiro de bala de cangaceiro
ouvir voz de Gonzaga Lu
lá no luar de meu terreiro

REFRÃO

Eu já corri légua e meia
foi com medo de volante
até hoje tem meu rastro
no sertão de Amarante

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