Geleia Junina: Tradições marcadas pela Saudade

“Havia balões no ar, xote baião no salão”

A pandemia tem nos afastado de momentos culturais importantes. No mês de junho e julho fica cravada no peito a saudade de curtir as festas juninas como manda o figurino, com direito a comidas típicas, shows culturais, e é claro as quadrilhas juninas, um estilo de dança folclórica coletiva muito popular no Brasil, especialmente na região nordeste.

A quadrilha teve origem na Inglaterra, no século XIII. Posteriormente, ela foi incorporada e adaptada à cultura francesa e se desenvolvendo nas danças de salão a partir do século XVIII. Assim, a quadrilha se tornou popular entre os membros da nobreza europeia. Com sua disseminação na Europa, a quadrilha chegou a Portugal. A partir do século XIX, a dança se popularizou no Brasil mediante influência da corte portuguesa, sendo muito bem recebida pela nobreza no Rio de Janeiro, então sede da Corte. Embora fosse uma dança dos meios aristocráticos, mais tarde a quadrilha conquistou o povo e adquiriu um significado novo e mais popular. Dessa maneira, se popularizou nos meios rurais como um festejo para agradecer a colheita e, ainda, homenagear os santos populares, São João, Santo Antônio e São Pedro.

No dia 23 de junho de 2019 o Grupo Cultural Junino Luar do São João de Teresina Piauí, entra no tablado na cidade de Goiana Pernambuco como representante do Piauí no Festival de Quadrilhas Juninas Globo Nordeste, o maior da região. Estava em jogo a disputa por um título com outras grandes juninas de outros estados nordestinos. Com o tema “País Tropical, São João Tropicália”. Luar fez uma linda apresentação conquistando o título do evento.

Fundado em 2011, o Grupo Cultural Junino Luar do São João faz parte da Associação Cultural Junina Teresina Show, uma associação civil de direito privado sem fins lucrativos. Atualmente conta em média com 220 componentes, dentre eles diretores, coordenadores, dançarinos, músicos e staff, todos apaixonados pela cultura junina, após passarem por uma rotina incansável de 7 meses de ensaios, viveram uma noite de glória naquele 23 de junho. Foi a última vez que aconteceu essa emoção, antes da pandemia.

A atriz e brincante do Grupo Cultural Luar do São João, Janny Silva, relata como é difícil ficar tanto tempo sem dançar. “eu acho que pra muitos, não chega nem perto o sentimento da gente que vive o São João tá sentindo, apertando o coração, tá sendo difícil para o quadrilheiro, para o figurinista, o coreógrafo, pra todo mundo, a gente vive essa época não por questões financeiras, mas sim por se sentir bem, como uma forma de refúgio, de crescer.  Sinto saudades de tudo, desde os ensaios, as madrugadas acordadas, as viagens, das apresentações até a espera do resultado final nos festivais.”

Foto reprodução: Janny Silva

Wesley Costa também é brincante do Grupo Luar do São João, dança quadrilha há 13 anos, e seu interesse pela cultura junina vem da sua infância: “o período junino representa muito, nesse período de pandemia ficar sem o São João é muito triste, podemos dizer que é uma cultura esquecida, isso dá medo, de após a pandemia essa situação piorar. Sinto muitas saudades das apresentações de entrar no tablado, sentir o calor da galera, de olhar nos olhos de quem tá ali te assistindo, e vê que tá todo mundo esperando um espetáculo, todo mundo depositando em ti aquela alegria e desejo de querer estar dançando no seu lugar. Isso é maravilhoso, as pessoas te assistirem porque adoram quadrilhas juninas”.

Foto reprodução: Wesley Costa

 

Foto reprodução: Wesley Costa

“Sempre dancei na escola desde a infância, mas não imaginava o quanto isso iria fazer parte da minha vida, hoje gosto em dobro”, completa Wesley Costa.

Quem segue a tradição teve de optar por outras formas de brincar o São João, como a família do Educador Físico Renato Gomes. Ele, sua esposa Ionara Barbosa e a filha do casal Yasmin Barbosa realizaram um “arraiá online” para a festa escolar da Yasmin, tudo a caráter para não perder a tradição no isolamento social.

Foto reprodução/ Redes Sociais Renato Gomes

As danças juninas deixam saudades nos adultos e é claro, na criançada como nos contou a pequena Yasmin Gomes Barbosa de 8 anos, “adoro as festas juninas, o motivo de gostar é por causa das brincadeiras, das comidas típicas, gosto dos estalinhos, dos foguetes, dos enfeites. Danço quadrilha desde o ensino infantil, as músicas eram muito legais, desde pequena quis ser noiva”.

Foto reprodução/ Redes Sociais Renato Gomes

“Esse ano fiz uma fogueira de verdade na casa da minha avó na cidade de Amarante Piauí, isso garante o quanto eu gosto de festa junina”, completa Yasmin.

 Vivenciamos uma pausa marcada pela saudade, agregada de um valor cultural inexplicável a quem ama esse período especial. Quando tudo isso passar, esperamos matar esse desejo de sair à vontade na rua com nossos trajes caipiras para dançar ou assistir as quadrilhas juninas.

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