Miguel Eugênio: uma história de superação, paixão e muita dança

O bailarino Miguel Eugênio é natural de Teresina-PI e já participou dos grupos Balé da Cidade de Teresina (2013 – 2014), Cia, cia. SESIMINAS (2014 – 2018), Thüringer Staatsballet (2018 – 2019) e Poznań Opera House (2019 – 2021). Estudou na Escola de Dança Lenir Argento (2011), Le Ballet Studio de dança (2011 – 2014), Curso de Verão Pavilhão D (2016 – 2018) e   Curso de Cuba (2015 e 2018). Acumula o seu vasto currículo um repertório que inclui experiências do Ballet Clássico ao Contemporâneo com destaque para apresentações como “Colas de “La Fille mal gardeé””, “Paysant – Giselle (PDD)”, “Majissimo (Solista), “Episódio 31 – (Alexander Ekman)”, “Don Juan / Take me with you (Robert  Bondara)”, entre outros. Miguel Eugênio ao longo da carreira também foi contemplado com muitos prêmios sendo selecionado no “VKIBC – (NY – 2018)”, “CBDD (Brasil – 2018)”, “Passo de Arte” (Brasil – 2017).

 

 

“Dança é uma das coisas mais importantes da minha vida e quando eu danço eu consigo expressar coisas que eu não sei falando, eu consigo voar.” Miguel Eugênio

Nome Completo: Miguel Eugênio de Sousa Júnior

Descrição: Bailarino

Data de Nascimento: 25/08/1993

Local de Nascimento: Teresina-PI

Escrito por: Alisson Carvalho


Um amor proibido pelo preconceito

Segundo Miguel Eugênio, a sua irmã do meio foi a primeira a enveredar para a arte de dançar, ela dançava em um dos projetos do Ciarte Matadouro, no Teatro do Boi, e com isso a família acabava assistindo às apresentações mensais do projeto. Miguel começou a ficar encantado com a dança e fez da irmã a sua grande inspiração para começar a dançar também. Apesar da paixão pela arte ele não conseguiu apoio dos pais, pois eles tinham o pensamento de que aquela arte era algo apenas restrito ao universo feminino, portanto ele foi reprimido do desejo de dançar. Apesar disso, Miguel continuou com aquela vontade de dançar tentando por vezes imitar as coreografias do grupo que a sua irmã participava. Esse desejo depois foi concretizado posteriormente, em 2008, mas em segredo, sem que os pais soubessem, pois não há proibição que consiga conter o desejo de se expressar por meio das artes. Por isso, Miguel infringiu todas as proibições impostas pelos pais.

 

As primeiras aulas de dança

O começo de Miguel Eugênio na dança não foi algo programado e ele conta que se deu por obra do acaso, tudo graças a uma atividade escolar que necessitou a imersão na biblioteca do Teatro do Boi que era um local bem abastecido de oficinas artísticas. E enquanto aguardava pela chegada dos colegas do grupo da escola ele se aproximou de uma sala que estava no meio de uma aula de balé e enquanto observava ele aproveitou para falar com o professor, coreógrafo e bailarino Fernando Freitas. O professor o chamou para participar de uma aula experimental e depois da experiência ele começou as aulas de danças populares. Além disso, em 2008 Miguel conheceu o teatro escolar que tinha as aulas ministradas pelos professores Vitor Sampaio e Jarlene Silva. Segundo Miguel, foi a Jarlene a primeira a interceder por ele e conversar com os seus pais para que eles deixassem o filho fazer aulas de dança, pois ela já percebia a aptidão para a dança no aluno. Então, Miguel e uma aula experimental com o bailarino e coreógrafo José Nascimento, mas os pais do aspirante a bailarino não gostaram, pois perceberam uma grande quantidade de bailarinos que jugaram ser gays. Poteriormente Miguel Eugênio conheceu o professor e bailarino Datan Izaká que dava aulas de balé clássico e tinha uma companhia de balé onde ele fez as suas primeiras aulas de balé, porém as aulas de balé aconteceram sem o consentimento dos pais e por isso não tardou muito para que sua família descobrisse e o proibisse de explorar o universo da dança.

 

A paixão rompendo o preconceito

Depois de um ano desde que os pais tinham proibido Miguel Eugênio de dançar ele decidiu retornar para as aulas de dança, pois quando a paixão é maior que o medo não existe lei que contenha o movimento dos corpos. Então ele começou ingressou nas aulas da professora e coreógrafa Cynthia Layanna que ministrava o curso de dança popular. Concomitantemente a mesma professora fundou uma companhia de dança e convidou os alunos para participarem, Miguel participou e passou da seleção. Assim que acabou a audição do teste o bailarino retornou para a sua residência e quando questionado ele revelou que estava fazendo aulas de dança. “Nesse dia ela me bateu com cordas, daquelas de segurar rede. Foi horrível. E ela me batia e perguntava se eu ia voltar até que eu disse que não porque minhas costas estavam sangrando. Depois ela chamou o meu pai e ele me bateu também”, pontua. Depois disso Miguel Eugênio parou de dançar por aproximadamente dois anos até que Vitor Sampaio falou sobre os testes para a Escola Técnica de Teatro Gomes Campos. Foi quando Miguel ingressou na escola, dessa vez com o consentimento dos pais e posteriormente quando a atividade começou a gerar uma contrapartida financeira então os pais de Miguel passaram a ser mais flexíveis com o teatro. Nesse mesmo período, Miguel começou a frequentar a Escola Estadual de Dança Lenir Argento pela manhã com a desculpa de que estava na biblioteca e pela tarde ele ia para a escola. Pouco tempo depois ele conheceu o professor e coreógrafo Sidh Ribeiro Miguel e trancou o curso de teatro para fazer aulas de dança que era no mesmo horário no Le Ballet Studio de Dança, no turno da noite. Assim, Miguel burlou as proibições e começou a praticar o que tanto amava.

“Dança está além do Miguel, pois é a transcendência do ser.” Miguel Eugênio

 

Foto de Maciej Zakrzewski

Vencendo os obstáculos

Os obstáculos fizeram com que a paixão de Miguel Eugênio pela dança só se fortalecesse. Então, com o auxílio do coreógrafo Sidh Ribeiro, Miguel participou do Festival de Dança de Teresina com uma coreografia na categoria Solo Clássico que lhe rendeu um passe para participar da seleção do YAGP (Youth America Grand Prix) que aconteceria em São Paulo. Depois disso, Miguel Eugênio foi obrigado a contar para seus pais sobre a dança e com o apoio do seu professor, Sidh Ribeiro, ele conseguiu convencer os pais do bailarino. Segundo o bailarino, foi em 2011 que realmente o estudo de balé iniciou de forma mais profissional e finalmente com o apoio dos pais. No ano seguinte Miguel viaja para São Paulo e começa a participar de festivais fora das fronteiras do Piauí, mas não conseguiu ser selecionado para ir à New York. Apesar disso, a mãe do bailarino começou a vender dindin para criar uma reserva financeira que permitisse que o filho viajasse para os festivais de outros estados. “Quando tinha apresentações em eventos eu levava o isopor de dindin e vendia todos, fiquei conhecido como o tio do dindin. Isso e fez dar valor a tudo isso, me fez perceber que a vida não é fácil. Ainda mais para quem tem o sonho de crescer.” O preconceito deu lugar a um apoio incondicional e a mãe de Miguel passou a acompanha-lo até em festivais, local que aproveitava para fazer as vendas que ajudariam o filho.

 

Do Piauí para a Alemanha

Em 2013 Miguel Eugênio recebeu algumas propostas para ingressar em uma companhia do Rio de Janeiro, porém ele não tinha condições de assumir a vaga. No final do mesmo ano ele é selecionado para o Balé da Cidade de Teresina e começou a ser remunerado para fazer o que mais ama, só que com pouco tempo, já em 2014, o bailarino fez a seleção para uma seleção em Belo Horizonte-MG. Miguel recebeu as passagens para a audição presencial e foi selecionado tendo a carteira assinada pela primeira vez na Cia de Dança Sesiminas. “A dança transformou a minha vida”, frisa. O filho caçula deixou a sua cidade natal e desde então não parou mais de crescer, voar. Apesar da distância Miguel Eugênio sempre auxiliou a família à distância. Em 2015 o bailarino machucou a sua coluna e a lesão foi se agravando até que depois de uma consulta ele descobriu que teria que fazer uma pausa para fazer o tratamento de três hérnias de disco. Nesse período ele voltou para a cidade natal onde fez fisioterapia de reabilitação por sete meses e em 2016 ele recebeu alta e retornou para o emprego. “Eu reaprendi a usar o meu corpo, usar sem causar um impacto tão brusco para não me machucar e isso me ajudou muito na dança”, completa. No ano seguinte Miguel passa pelo mesmo problema, mas dessa vez com mais consciência ele soube lidar melhor com a lesão. Miguel, como um profissional que nunca se acomoda e sempre está em busca de novas oportunidades começou a flertar com seleções de grupos de outros países, pois ele também tinha o sonho de dançar fora do país. Por isso, não tardou muito para ele participar de uma seleção que garantiu a sua ida à NY e posteriormente ele agarrou uma outra oportunidade só que dessa vez era uma audição para a Thüringer Staatsballet, grupo da Alemanha. Assim que Miguel recebeu a resposta da aprovação a Cia de Dança Sesiminas encerrou suas atividades, declarando que fecharia e com os direitos trabalhistas o bailarino conseguiu comprar as passagens e uma base para se sustentar no novo país.

 

As inspirações do bailarino

Miguel Eugênio superou muitos obstáculos até chegar na Europa, onde ficou um tempo na Alemanha e depois fez audições para outras companhias até que foi admitido na Poznań Opera House para trabalhar como demi-solista que, segundo o bailarino, é um cargo que está há pouco passos de ser o principal bailarino. “Depois da apresentação que eu vi o pessoal aplaudindo de pé eu tive certeza que faria isso o resto da vida. Eu senti a energia do pessoal batendo palmas, foi tanto êxtase que eu chorei no palco”, relembra. Durante essa trajetória admirável o bailarino inspirou-se em nomes como o bailarino negro e cubano Carlos Acosta que serviu como uma referência pela representatividade já que muitos nomes reverenciados não causavam a identificação com a realidade do bailarino. Além dele, Miguel conta que sua outra grande inspiração foi o bailarino japonês Tetsuya Kumakawa com os seus famosos giros. Assistir aos vídeos dos bailarinos acabou servindo como uma forma de se autoavaliar e de buscar formas para evoluir. Miguel Eugênio hoje inspira muitos bailarinos que também são atravessados por obstáculos como os preconceitos de uma sociedade que ainda vincula profissões, cores, atividades ao gênero de uma pessoa. Limitações que muitas vezes podam um grande artista, felizmente para Miguel Eugênio a história continua sendo de superação e vitórias.

Contatos

Instagram.com/migueljunior111/

E-mail: mjunior08-@hotmail.com

Fotos

Vídeo

https://www.youtube.com/watch?v=oj_xmdXGICI&ab_channel=MiguelEug%C3%AAnio

https://www.youtube.com/watch?v=jjDya636Ca0&ab_channel=MiguelEug%C3%AAnio

https://www.youtube.com/watch?v=c5piLEeRmPE&ab_channel=MiguelEug%C3%AAnio

https://www.youtube.com/watch?v=A9AoyJmguEk&ab_channel=MiguelEug%C3%AAnio

Experiência Profissional

 

Balé da Cidade de Teresina – Brazil (2013 – 2014)

Cia. SESIMINAS – Brazil (2014 – 2018)

Thüringen Staatsballet – Germany (2018 – 2019)

 Poznań Opera House – Poland (2019 – 2021)

Education

Lenir Argento Dance School (2011)

Le ballet dance studio (2011 – 2014)

Summer Course Pavilhão D (2016 – 2018)

Cuban Course (2015 and 2018)

Repertório (Clasic Ballet)

Colas: La fille Mal Gardeé

Paysant – Giselle (PDD)

Majissimo (Soloist)

Basílio- Don Quixote

Pas d’esclave – Le Corsaire (GPDD)

Ali – Le Corsaire

Solor – La Bayadere

The Nutcracker (GPDD)

Diana and Acteon (GPDD)

Prince Desirée – Sleeping Beauty

Flames of Paris – (GPDD)

Von Rothbart – Swan lake

Anna Karenina

Cinderella

The nutcracker

(Contemporâneo)

Episode 31 – (Alexander Ekman)

Don Juan / Take me with you (Robert Bondara)

 Lennon / Giselle (Silvana Schröder)

 Festhalten (Hudson Oliveira)

 Simplesmente um solo / Sempre ao seu lado / O beijo / Entre nós e a rosa / Maria Maria… (Sidh Ribeiro)

 Lago Brasil / Tocata / A Quinta estação/ Pica-Pau Rei na estrada real (Cristina Helena)

Cidade dos sonhos (Ane Ade)

Carmem (ópera)

Rigoletto (ópera)

Cabaré (musical)

Prêmios

 

Selected in the VKIBC – NY 2018

CBDD, Brazil:

1st place GPDD Pas d’esclave (2018)

“Passo de Arte” selection, Brazil:

1nd place GPDD Diana and Acteon (2017)

1nd place GPDD  Pas d’esclave (2018)

Teresina dance festival, Brazil:

2nd place contemporary solo  – 2012

3rd place contemporary trio  – 2012

1st place contemporary solo  – 2013

1st place contemporary duo   – 2013

1st place Pas d’sclave variarion – 2013

Outras fontes

http://g1.globo.com/pi/piaui/noticia/2014/09/bailarino-piauiense-dribla-preconceito-dos-pais-e-integra-companhia-em-mg.html

Última atualização: 13/09/2021

Caso queria sugerir alguma edição ou correção, envie e-mail para geleiatotal@gmail.com.

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