Uma experiência por: abismos entre 04 paredes

Fotos: Victor Martins

No princípio aquela Luz vermelha já era um convite pra acessar qualquer outro espaço que organize uma realidade diferente, uma realidade mais Exu, mais Encruzilhada. A plateia vai caminhando lentamente em direção àquela sala vermelha, onde de dentro ouve-se alguém cantar, num tom de voz que assenta, quase uma ladainha, onde a voz se prostra diante de alguma coisa maior que o próprio espaço e a própria voz. Foram assim os primeiros minutos do Espetáculo, aqueles sujeitos guardados no espaço, cada um e uma em sua oferenda de movimento, de suor e de voz. Seria um pedir licença para o que viria? Foi assim que compactuei com eles, ouvindo vez em quando de olhos fechados, aquela voz que chamava por Exu, que rogava por presença.

Fotos: Victor Martins

Aos poucos outros movimentos foram sendo gerados, outras cores também, captei de relance o azul, um lilás e o branco, branco este presente em muitos outros lugares, nos copos, nos olhos, na pele, nos cabelos, na roupa e no gelo. Por falar em gelo, parecia sim uma grande metáfora pra dizer também sobre tempo, sobre esforço, sobre força. Tão belo e intrigante como aquele bloco de gelo naquela caixa de vidro, foram os movimentos necessários para que as lascas cedessem, como um labor de cada dia, como pilar alho ou pimentinha do reino, aquilo levava a gente pra casa, quem já não se esforçou nessa ação corriqueira do cotidiano? Essa ação, de moer tempero? Ação que só assustava quando a gente percebia que aquele moer, era um moer da gente também.

Fotos: Victor Martins

Vez em quando eu parava pra capturar a plateia, que permanecia ali, atenta, como quem faz um pacto também, como quem acredita, como quem se reconhece em algum abismo, seja lá qual for, a gente é sempre pego por alguma sentença que provoca estranhamento, eu lembro de ouvir repetidas vezes um encontro de palavras que me afirmavam ou perguntavam sobre a “imperfeição da arte” outras vezes essas vozes falavam coisas mais soltas, mais etéreas como por exemplo “A tensão que impede uma alma pousar em um corpo”. Essas coisas eram ditas assim, na elaboração de uma dança que é feita tanto pra vida quanto pra morte, e em outro momento, ditas com linhas vermelhas envolta dos rostos, na boca, nos olhos.

Se a gente fosse pensar no tempo, é quase como se não houvesse começo, porque antes de adentrar naquele espaço a sensação era que já havia começado, e quando aparentemente havia terminado, era o espaço vazio quem recebia as palmas, com os 04 atores posicionados junto à plateia, nós só aplaudíamos aquela entidade que ocupava o vazio no placo e que merecia de fato os aplausos, era Exu no final e Exu no começo.

Ficha técnica

Atuação: Datan Izaká, Déborah Radassi e Silmara Silva
Direção: Adriano Abreu
Coletivo Piauhy Estúdio das Artes e Redemoinho de Dança

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