Dos sobejos de um tear

Tudo que é vivo deixa rastro, já dizia meu avô. Essa frase me fez lembrar dos 2 vídeos de Steve Cutts intitulados “MAN”, pois somos produtores de resíduos que geralmente demoram a se degradar. O que produzimos neste instante provavelmente ficará na Terra mais tempo do que os descendentes dos seus netos. 

O material que descartamos é nosso maior legado, se estão presentes e estarão presentes porque não aprendemos a conviver com eles? 

As sobras são o elemento principal da exposição “Tear das Sobras”, uma exposição idealizada pelos artistas Bruna Oliveira, Cacau Almeida, João Marcos e Jordana Carvalho. E você tem até o dia 18 de novembro para experienciar uma imersão na instalação. A ideia foi reutilizar materiais descartados, dando significados diversos para os detritos, fragmentos e pedaços. E como no El Museo de la Basura, de Alejandro Durán, ou em Krajcberg, vemos os materiais ganhando novos aspectos, deixando de ser lixo para se transformar em arte, mas alertando, mesmo que de forma não intencional, sobre como esses materiais estão presentes no cotidiano.

O que eu senti?

Entrei na Galeria do Mercado Velho e me vi preso em teias de um tecido que me trouxeram felicidade, pois eu não estava distante, era parte do processo que compunha a instalação. Diante dos meus olhos pensava em Mondrian, mas rapidamente retornava a mim mesmo. Não tenho como não pensar nos escombros que me compõem, nos escombros da humanidade e por alguns minutos me despi do excesso de informações do mundo e fiquei preso ali, entre tijolos, pedras e retalhos.

O casulo artístico nasce com o contato, pois a obra permite interação com o público que pode interferir constantemente e diariamente na organização e disposição das peças. O casulo toma de conta do espaço e forma uma teia rizomática produzida pela intervenção. Dentro desse casulo você percebe que é parte do todo, que interfere e que as sobras são parte de você, que todos somos retalhos, partes que se formam em contato ou com o somatório de outras peças, mas com suas particularidades.

Dentro desse casulo estamos em constante transformação. Não existe um limitador, você pode tocar, você pode se divertir, criar seus próprios caminhos e assim o tear é materializado, as obras são apenas as provocadoras. 

O trabalho é coletivo, mostra as pesquisas de cada artista e suas reflexões sobre esse tema: Bruna Oliveira utilizando tijolos coloridos, Cacau Almeida utilizando as pedras como reflexão para a ideia das sobras, Jordana Carvalho criando formas com retalhos de jeans e João Marcos com sua teia de retalhos colhidos das sobras da fábricas de camisas de Teresina.

Como visitar a Galeria do Mercado Velho?

A galeria fica aberta de terça a sexta-feira das 8h às 14h e sábado de 9h às 13h30, o acesso é livre e a entrada é gratuita. A galeria fica localizada no Mercado Velho de Teresina, Centro, em frente à Praça da Bandeira.

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