A arte da paz

Em recente conversa com uma amiga, falávamos sobre as dificuldades enfrentadas pelas mulheres que se encontram em condições similares as nossas: mães atípicas, pesquisadoras, profissionais, docentes, palestrantes, esposas, donas de casa etc.

A despeito dos desafios enfrentados, ela disse algo sobre a necessidade de ser estratégico para enfrentar os obstáculos que nos são impostos. Ela mencionou A arte da guerra, um tratado militar de autoria do general chinês Sun Tzu que, segundo as minhas preguiçosas pesquisas, foi escrito por volta do século V a.c.

Depois de argumentar firme e articuladamente, ela finalizou dizendo que a vida é uma guerra, por isso é importante que saibamos escolher as armas que usaremos e as batalhas pelas quais vale a pena lutar.

Passei cerca de três dias pensando nisso, porque eu tenho esse hábito. Sou como os bois, fico digerindo e regurgitando as conversas, repetidas vezes, até absorver tudo que me for útil.

Nesse ir e vir de sentenças, às lembranças das palavras, das frases, das afirmações e negativas, parei na seguinte: “a vida é uma guerra”.  Não podia ser. Mas é, dizia ela. Cada uma a sua maneira, com suas características e gradações.

Não pode ser, a vida é fruição. Só que fruição pressupõe mutualidade, foi seu argumento. Tinha mais coisas, mas parei aí. Pensei no pouco que sei sobre a obra do chinês lá de cima. Sei que é um clássico, que é antigo e que é sobre guerra. Sei também que é utilizado como guia por gente de várias vertentes: negócios, política, esportes, estilo de vida (oi???). Deu tilt no meu cérebro agora. À moçada mais jovem que me acompanha, “dar tilt” é o mesmo que “bugar”, verbo esse que, acabei de descobrir, não existe formalmente. – Já nem sei com que geração estou falando – voltando à elucubração:

A obra com estratégias militares tornou-se orientadora de como encarar a sublime missão que é viver. Numa guerra temos oponentes, aceitar que a vida é uma guerra significa concordar que tudo é conflito, que a todo momento precisamos estar em guarda porque uma bomba pode estourar. Gera ansiedade, aflição, desconfiança, estimula a concorrência. Continuo me negando a crer nisso. Não quero levar a minha vida duvidando, desconfiando, competindo, armando cercos, em estado de guarda permanente.

A minha amiga diz que a fruição pressupõe mutualidade, e que o mundo está distante de ser mútuo em sentimentos bonitos. Meu gato discorda, expliquei para ele e ele miou dizendo assim: sua colega perdeu a fé. Eu disse a ele que não é verdade, ela tem fé, muita na verdade, só que a fé dela a guia por veredas estratégicas, a minha por grandes sertões de ubiquidade. Porque sou artista, e todo artista é meio louco, meio santo, um tanto divino, outro tanto profano. Todo artista tem que crer em alguma coisa, e eu creio que, em meio a tanto nada, muito há a ser partilhado. Ou talvez eu seja apenas uma niilista de coração quente.

 

Tem alguma história para partilhar comigo? Eu vou adorar saber. Sobre qualquer assunto, os felizes e tristes, de famílias, amantes, amigos, festas, morte, paixão ou doença. Tudo vale. Posso garantir uma escuta atenta e forte.

Email: deniseverasletras@gmail.com

Instagram: @deniseveras1

Ilustração: “Sun Tzu”, Airman Magazine. Disponível para uso gratuito em: https://www.flickr.com/photos/69397399@N07/36755022371

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