Eles estão presentes em todos os espaços do Salão do Livro do Piauí (Salipi) e, mesmo que às vezes passem despercebidos pelo público, seu trabalho é fundamental para o bom andamento e a organização do evento: são os voluntários.
Essas pessoas colaboram de diversas formas. Auxiliam nas palestras, entregam materiais, orientam o público, atuam nos espaços de bate-papo e rodas de conversa, recepcionam estudantes e visitantes, entre outras funções essenciais para o funcionamento do Salipi.
De acordo com a coordenação do evento, quase 200 pessoas integram essa equipe dedicada ao longo dos dez dias de programação. A maioria é formada por estudantes da Universidade Federal do Piauí (UFPI). As motivações para se voluntariar são diversas, mas há um ponto em comum entre todos: a paixão pela leitura e pelo universo dos livros.
Os voluntários do Salipi são muito mais do que colaboradores: são leitores apaixonados que decidiram transformar o amor pelos livros em ação concreta. Eles saem das páginas e ganham os bastidores do evento, tornando possível cada detalhe da programação. Com dedicação e entusiasmo, materializam esse afeto pela literatura em gestos, orientações, acolhimento e trabalho — provando que amar livros também é construir espaços para que outros possam se encantar com eles.
Conversamos com alguns dos voluntários desta 23ª edição do Salão. Entre eles, os amigos Fernando Valente e Renata Schynaider, que se consideram os mais apaixonados pelo evento. Eles nos receberam em frente ao Seminário Língua Viva para conversar com a Geléia Total.

Fernando é esteticista e participa como voluntário pela nona vez. Ele conta que sua motivação inicial foi o desejo de adquirir mais conhecimento, mas destaca com carinho especial o contato com as crianças que frequentam o Salipi. Durante o dia, trabalha recepcionando alunos; à noite, atua na organização do Cine Teatro, acompanhando a programação de palestras.
“É um trabalho voltado a todos os públicos, mas a minha paixão são as crianças. A cada ano a gente se renova porque elas crescem. Com nove edições, aquelas que conheci em 2016 ou 2017 hoje já são adolescentes”, relata com emoção.
Os voluntários escolhem seus horários de trabalho, mas Fernando e Renata revelam que costumam passar o dia inteiro no evento, como se o Salipi se transformasse na segunda casa deles durante esses dez dias.
Renata é estudante de Serviço Social da UFPI e começou como voluntária na edição realizada durante a pandemia da covid-19. Amante da leitura, sempre frequentou o evento como visitante e, incentivada pelas coordenadoras de voluntariado Lanna Almeira e Sâmya Almeida, viu ali uma nova forma de vivenciar o Salipi.
“Todo ano eu espero ansiosamente por esses dez dias. Guardo minhas faltas da universidade porque sei que nesse mês preciso estar no Salipi”, afirma com entusiasmo.
É visível o brilho nos olhos dos dois ao falarem do evento. Quando perguntados sobre os desafios de serem voluntários, eles não conseguem citar nenhum — o amor pelo Salipi fala mais alto. Durante nossa conversa, são frequentemente interrompidos por pessoas pedindo informações ou outros voluntários buscando ajuda. O trabalho é constante.
Fernando Valente diz que os voluntários do Salipi formam mais do que uma equipe — são como uma família. A convivência durante o evento e o amor compartilhado pelos livros criam laços que ultrapassam os dias de programação. Ele deixa um recado para quem tem vontade de participar: “O conselho é que venham, conheçam, porque se vocês vierem, vocês vão se apaixonar”.
Quem também teve curiosidade a respeito dos voluntários foi a professora e criadora de conteúdo Soelayne França Araújo. Há quatro anos, ela está envolvida no evento que ela já frequentava desde criança quando ia acompanhada do pai.
“Tenho memórias muito fortes de estar na fila para pegar autógrafos, de assistir a palestras de autoras que eu lia quando era criança. Sempre via os voluntários com a camisa padronizada e sentia vontade de fazer parte da organização”, lembra.
As memórias do Salipi como frequentador e posteriormente como voluntário marca para as pessoas que participam. “O Salipi me moldou academicamente”, afirma Renata Schynaider. A convivência com pessoas de diferentes formações e vivências, somada à troca de experiências e saberes, torna o ambiente um verdadeiro campo de aprendizado. “Você chega de um jeito e sai de outro. São muitas perspectivas diferentes reunidas num mesmo espaço”, diz.
Para os voluntários, o Salipi é um dos momentos mais especiais do ano. É ali que as pessoas que compartilham os mesmos interesses e tem a chance de conhecer ou se encontrarem, ao vivo, com os autores que marcaram sua trajetória.
Soelayne também destaca a importância do voluntariado como uma experiência que vai além do evento. “Ser voluntário é fazer algo que não é pra você, é para o outro. Todo mundo devia viver isso, em algum momento da vida”, afirma a criadora que está compartilhando suas experiências no Salipi nas mídias sociais.
Cada edição do Salipi traz novidades e surpresas. Nenhuma é igual à outra. Por isso, pedimos que cada um compartilhasse um momento marcante vivido no evento.
Fernando é direto: “O show da Vanessa da Mata. Sou muito fã dela. Quando ela veio, foi muito emocionante. Essa apresentação marcou a minha vida. Foi a maior emoção que já vivi aqui.”
Para Soelayne, o reencontro com a escritora Thalita Rebouças foi especial. “Durante a adolescência, ela veio algumas vezes. Quando eu era criança, pedi para subir no palco e dar um abraço nela. Depois, como voluntária, tive a chance de conversar e auxiliá-la pessoalmente. Foi um reencontro que me marcou.”

Renata, por sua vez, destaca os laços criados no evento. Um dos momentos mais significativos para ela foi a aproximação com o coordenador do Salipi, o professor Luiz Romero. “Construímos uma relação muito próxima. Participo do pré-Salipi, ajudando a decidir a programação do bate-papo. Para mim, isso é muito valioso, é uma troca intergeracional”, destaca.
Ao fim do evento, os voluntários recebem um certificado de participação. Mas, para muitos, a maior recompensa é ter contribuído com um dos maiores eventos literários do estado. E, no último dia, o sentimento que fica é a saudade — e a expectativa para a próxima edição.