Zabelê – Lendas Piauienses

Sob o entardecer no meio da mata fechada, ao som das águas dos rios Itam e Canindé ao fundo, Zabelê se encontrava com Metara. Nem todo ódio e ensinamento que passaram para Zabelê, ao longo da infância e juventude, seria capaz de apagar o fogo de sentimento vivo que sentia por aquele índio da tribo inimiga, os Pimenteiras. Para Metara também não havia disputa de terra nem história dos antepassados que conseguissem afastar a paixão que aquela índia dos Amanajós conseguia despertar nele. Desde o primeiro olhar, os dois já entrelaçaram seus destinos proibidos e se arriscavam para viver aquele intenso amor.

O que esses amantes não suspeitavam era que os passos de Zabelê eram vigiados por um índio chamado Mandahú. Esse guerreiro da tribo dos Amanajós era também apaixonado pela jovem e bela índia, filha do chefe de sua tribo, e sonhava um dia poder com ela se unir em carne e em alma. Mas nunca Zabelê o notara. Reconhecendo ser invisível aos olhos da índia, passou a segui-la, com o propósito de saber o porquê de ela parecer com os pensamentos em outro mundo.

E eis que Mandahú descobre a razão. De longe, ele observou as horas que Zabelê e aquele guerreiro da tribo dos Pimenteiras ficavam juntos. O jeito como ela o olhava. O modo como eles se tocavam. A ousadia de um beijo. A entrega do corpo dela aos braços dele. Cenas que perfuravam o peito de Mandahú como mil flechas certeiras.

Na certa, aquele índio a enfeitiçou! – era o que Mandahú chegou a pensar. Para por fim a esse romance proibido, ele resolveu contar ao chefe da sua tribo e aos demais índios guerreiros. O que Mandahú desejava era que colocassem fim aos Pimenteiras e livrassem a Zabelê do mal de ser amada por um guerreiro inimigo. No fim, decerto, ele seria reconhecido por ela como seu salvador…

Mas enganou-se Mandahú. A decisão que veio do chefe da tribo Amanajós foi a que a vida de Zabelê estava condenada. Em completo desespero, sem esperar por essa decisão, Mandahú decidiu matar aquele índio, com a esperança de convencer os seus superiores a perdoar Zabelê. E foi assim que ele procedeu… Metara acabou assassinado por Mandahú. Porém, diante da morte do seu amado, Zabelê entregou a vida que restava nela ao fim, bebendo veneno letal da seiva de maniva.

Apesar de mortos os amantes, uma grande luta originou-se entre as duas tribos vizinhas. Mandahú acaba morto e muitos outros de ambos os lados dos rios Itaim e Canindé também. Tanta morte assim, originada de um amor proibido e revelado, marcou a história dos povos indígenas dessa região do Piauí. Essa história de amor, no entanto, não teve esse fim trágico…

Tupã – deus maior – não haveria de deixar tanta morte por fim àquele amor genuíno e profundo entre Zabelê e Metara. A esses dois índios foi concedida a oportunidade de reviver por vidas e mais vidas na forma de casal de pássaros que sempre vivem em par, a voar unidos. Alguns os conhecem como os “zabelês” ou por “acauãs”. Além disso, Mandahú acabou transformado em gato maracajá, a fim de passar todas as próximas vidas sendo perseguido por caçadores, sempre correndo risco de morrer por humanos cheios de interesses egoístas.

Escrito por Evilanne Brandão.

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