Como é estar No meio do tiroteio?, de Paulo Narley

Foto cedida pelo autor.

 

Conheci o Isaque do nada, bem aleatório mesmo. Lembro que estava questionando a mim mesmo como um leitor de literatura piauiense e decidi pesquisar alguns livros para comprar. Então, me deparei com o título do seu livro, que logo me chamou atenção. Comecei a ler a versão em e-book e, dias depois, ele gentilmente me presenteou com uma versão física do mesmo. Depois disso, uma série de coincidências surgiram, desde o fato de nós dois sermos colegas de turma no mestrado em Literatura, na UFPI, até a nossa ambição (ou a ausência dela) de sermos autores renomados.

“No meio do tiroteio” é o livro de estreia do autor. Publicado pela editora paulista Kazuá, o livro é composto por 21 textos que brincam e se misturam entre crônicas e contos.

As frases de Isaque vão te puxando, palavra por palavra, ponto por ponto, sentença por sentença, e você não consegue largar os textos até ter terminado. Confesso que soltava o livro somente por causa da correria do dia a dia.

 

 

“Escrever, em si, é o ato da descoberta, e no fim das contas é apenas o que importa. Por mais ridículo que possa parecer, a verdade é que a gente escreve na tentativa de encontrar-se em meio ao caos.” (p. 93)

 

 

Com ótimas sacadas de humor, Isaque trata de diversos acontecimentos (inusitados e quase impossíveis, diga-se de passagem) do seu dia a dia. Com tons de morbidade e certo pessimismo, vamos conhecendo Isaque e seu alter ego e nos apegamos ao Eu (ou aos Eus, pois Isaque se mostra múltiplo em seus textos) que é construído durante todas as narrativas.

Um aviso aos leitores mais “caretas”: Isaque não mede palavras, escreve o que lhe vem à mente. No decorrer dos textos, você vai encontrar muito palavrão, cenas de putaria e outras coisas mais. Esteja preparado(a).

Porém, nem tudo nas narrativas é cômico ou divertido; há momentos, como na leitura da crônica que dá título ao livro, em que você sentirá certa agonia e um nó na garganta. Durante a leitura da referida crônica, senti um aperto, tentando imaginar como é estar na situação que o autor descreve. No sério, deu uma vontade de dar um abraço nele e dizer que tá tudo bem e que ele é um cara foda (tu é, viu, Isaque, um cara foda).

O eu lírico de Isaque é como aquele seu melhor amigo: por diversas vezes, você vai sentir vontade de dar um chute no meio das pernas dele e dizer “porra, seu vacilão do caralho!”; já em outras, a vontade é de dar um tapinha nas costas e dizer “muito bem, seu fela.da.putazinho”.

Outro ponto forte do livro, para além das narrativas, são as ilustrações que compõem o miolo (e infelizmente não estão disponíveis na versão em e-book) e a capa, do artista Gabriel Archanjo.

 

Foto cedida pelo autor.

 

Imagem cedida pelo autor.

 

Na real, poucas vezes eu vi um livro de estreia de um autor iniciante com tanta força e qualidade como o que se encontra em “No meio do tiroteio”. Abro aqui um parêntese para manifestar o orgulho de ele ser piauiense e para falar sobre como nossas editoras perdem bons autores por não abrirem espaço para a publicação, ou, quando o fazem, cobrarem preços absurdos e fazerem propostas mais absurdas ainda, para autores iniciantes.

O último texto, intitulado MINHA ALMA AGONIZA EM QUEDA LIVRE, é um relato sincero, sem meios-termos e nada romantizado de um ser humano que, dia após dia, precisa lutar contra o nada metafórico cachorro preto (ou, no termo original, black dog) da depressão. O mais agonizante é saber que as situações descritas não são ficção, e sim a realidade crua.

 

“…busco desesperadamente preencher em outros corpos o vazio que transborda do meu. Minha alma agoniza em queda livre.” (p. 175)

 

O livro se encerra com esse murro no estômago (não propriamente o trecho acima, mas o texto como um todo), e o leitor fecha a obra sem saber se o livro foi finalizado ou se ele é que foi finalizado pelas palavras do escritor. Passada essa sensação, a ansiedade por novos trabalhos do autor se instala e você começa a esperar por novas publicações (que “tomara, Deus, tomara” não demorem muito para chegar até nós).

Antes de encerrar esta “resenha” mal feita, queria dar parabéns para a revisão ortográfica do livro, que ficou a cargo de Laíla Sousa e Camila Silvestre. Um primor de revisão. Nada fora do lugar, um fato que não é muito comum em revisões ortográficas de textos literários, pois já me deparei com erros grotescos (que não caberiam, mesmo em se tratando de uma obra literária) em livros publicados por editoras de grande nome no mercado literário.

Finalizando, ler “No meio do tiroteio” é como estar em um bar (cerveja do lado, por favor) numa conversa descontraída com o autor. Por diversas vezes, a impressão que se tem é a de que você é amigo de Isaque há muito tempo e viveu a maioria das histórias com ele.

P.S.: O livro encontra-se disponível no site da editora, bem como na Amazon (para os usuários do Kindle Unlimited, uma boa notícia: o livro está disponível lá para empréstimo).

Link para o booktrailer do livro: https://www.youtube.com/watch?v=ovk743TsRbQ

Link da Amazon: https://www.amazon.com.br/

Link da editora Kazuá: http://editorakazua.com.br/

Instagram do autor: @isaquedemoura_

P.S.2: Pelo amor de Deus, Isaque, publica logo mais coisas. Quero ler até tua lista de compras!

 

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