Artistas piauienses, saiam urgentemente do Piauí, por Noé Filho

Urgentemente mesmo. Pra ontem. Saiam do Piauí, agora, já, neste instante. A arte produzida aqui merece ser apreciada em todo o mundo. O mundo precisa conhecer a qualidade e sensibilidade da cultura que vivemos, sentimos e produzimos.

O fato é que o Brasil e o mundo ainda não conhecem o Piauí. Há uma série de preconceitos, ou simplesmente total desconhecimento, sobre o que se passa por aqui. Os motivos nós sabemos: a enorme desigualdade deste país que deságua na centralização do que se entende por cultura no eixo RJ-SP.

Felizmente, os avanços tecnológicos estão propiciando rompermos cada vez mais essas barreiras. Em um mundo em que o primeiro vídeo do YouTube a completar 1 bilhão de visualizações foi um clipe de um artista sul-coreano até então desconhecido é um mundo repleto de possibilidades.

Ainda temos um longo caminho pela frente, mas graças aos avanços tecnológicos e educacionais, temos os principais expoentes da arte piauiense morando no Piauí. Outras gerações tinham que realmente mudar-se para outros Estados, a fim de terem oportunidades de cursar certos cursos superiores e de pós-graduação, por exemplo. Artistas piauienses produzindo arte no Piauí é um privilégio sem medidas, porque estimula todo o cenário e toda a sociedade a crescer, além de ajudar na formação de outras gerações que já irão começar suas carreiras artísticas com muito mais bagagem e repertório.

Contudo, é importantíssimo que nós nos integremos com o Brasil e o mundo. Precisamos circular, nos comunicar, absorver novas influências, transmitir conhecimento, adquirir experiências. Sou um eterno defensor do potencial que a diversidade tem. Quanto mais aprendermos com outras culturas, absorvendo o que há de melhor e que possa se conectar com nossa realidade, melhor. E também precisamos levar ao mundo o que estamos aprendendo, vivendo, experienciando.

Por isso, artistas piauienses, se esforcem para sair do Piauí. Se esforcem para levar suas artes para outras cidades, outras realidades, outros Estados, outros países. Isso não significa necessariamente mudar-se para outro lugar. Mas é fundamental estar presente nos grandes eventos nacionais. Inscrever-se nos editais nacionais. Conversar e articular com agentes de outros centros. Aprender. Ensinar. Circular

Excelente exemplo disso é o Coletivo Piauhy Estúdio das Artes. Todos moram em Teresina e desenvolvem suas atividades aqui, mas atualmente estão finalizando uma circulação em dez Estados do espetáculo “Pinóquio e Gepeto ao Sabor do Vento”, dirigido por Adriano Abreu, pelo Sesc Amazônia das Artes 2019. Que lindo ver a arte piauiense sendo tão bem representada e saber que, por meio do Coletivo Piauhy, o Piauí está chegando em tantos lugares lindos.

Foto: José Ailson (Um Zé)

E o mais fantástico ainda é que a internet é um mar aberto de possibilidades. Podemos chegar no mundo inteiro sem sair de casa. Foi assim que Whindersson Nunes, o piauiense de Bom Jesus do Piauí, tornou-se o maior youtuber do país, unindo seu talento ao uso inteligente das ferramentas que estão cada vez mais acessíveis, e recentemente lançou seu mais novo show de stand-up “Adulto”, na  plataforma mundial Netflix.

E, no caso dele, chegou um momento em que ele sentiu a necessidade de mudar-se de fato do Piauí para alçar voos maiores. Ótimo. Excelente. Não há problema algum. Que bom. E que mais e mais piauienses tenham oportunidades de alçar voos tão altos e maiores quanto os dele. Em alguns, ou muitos casos, é natural que isso aconteça, e não vejo problema algum nisso.

Mas meu coração transborda de felicidade em ver um artista como o escritor Demetrios Galvão, uma mente brilhante e sensível, morando em Teresina, inspirando tantos artistas e ajudando a movimentar a cena local conectado com o que se passa em todo o Brasil. Essa percepção do que se passa no cenário nacional só enriquece uma visão de mundo que impacta diretamente no que podemos fazer por aqui. Reflexo disso é a revista Acrobata, uma das melhores revistas de cultura deste país, que é idealizada e editada por piauienses, Demetrios Galvão, Aristides Oliveira e Dante Galvão, mas que agrega a literatura de todo o Brasil e com certeza tem um papel fundamental na integração da literatura piauiense ao cenário nacional.

O Piauí não pode se contentar com o papel de consumidor de conhecimento. O conhecimento que produzimos é importantíssimo e merece ser compartilhado. Bons exemplos disso são as oficinas ministradas por Adriano Abreu, pelo projeto Sesc Dramaturgias, e Demetrios Galvão, no Sesc Arte da Palavra, em Salvador. É o conhecimento artístico piauiense sendo levado a novas paisagens.

Por isso, acho extremamente salutar pensar sempre em como  cada um, dentro da sua realidade e possibilidades, possa alçar voos maiores e fazer com que a arte produzida aqui possa alcançar os quatro cantos do mundo, sem esquecer que estar conectado com as nossas raízes e nosso povo é um alicerce que não vale a pena negligenciar.

Por Noé Filho.

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3 comentários
    1. Muito legal sua reflexão. Eu comecei a carreira de artista ( cantor compositor) no final da década de oitenta. Imagine as dificuldades para se produzir um show e até mesmo gravar um disco. Hoje face a estas novas ferramentas de divulgação estou criando coragem, reeditando e postando minhas canções e me preparando para voltar ao cenário cultural do Estado.

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