Caio Negreiros lança o seu mais recente livro, Refeição do tempo – poemas e prosas minimalistas, pela Avant Garde Edições. A sua editora, Marleide Lins, discorre um pouco sobre a trajetória literária do escritor, destacando a novidade estética desta edição que ora é lançada ao público.
“Refeição do Tempo, do poeta Caio Negreiros (@caionegreiros), na primeira parte me lembrou “O Spleen de Paris: pequenos poemas em prosa”, de Baudelaire. De modo inverso, porque trata-se prosa poética, e não de poemas em prosa. Mas, se a ousadia de Baudelaire se traduz em fragmentos poéticos de Paris, a prosa poética minimalista de Caio Negreiros é Teresina na veia a 40 graus. Recomendo”, destaca João Luiz Rocha Nascimento.
O livro Refeição do tempo – poemas e prosas minimalistas, do escritor Caio Negreiros, retoma a sua temática inicial – a efemeridade do existir. Em A decadência das horas, seu livro inaugural de poemas, o niilismo se incorporava aos versos metafóricos, às vezes, viscerais. A capa de 1993, Edições Não-ser, trazia a “Persistência da memória”, os relógios moles de Salvador Dali, apontando de forma surrealista para a temporalidade, a decadência e os restos mortais dos ponteiros da vida devorados pela fagia das formigas.
“Eu sou da geração dos anos 80, um período muito rico culturalmente (música, cinema, artes em geral, cultura pop). Um período de muita conquista pela liberdade, reafirmação de direitos, democracia que querem se reafirmarem no país pós-ditatura e eu tenho uma memória muito grande desse período.”
Segundo Caio Negreiros, sua inspiração veio de todas essas lembranças de um período que produziu muito e influenciou gerações. O poeta revela que a ideia e inspiração para escrever textos em prosa veio depois de ler livros como “Torto Arado” de Itamar Vieira Júnior, “Os pés descalços de Ava Gardner” de J. L. Rocha do Nascimento e “Pedra Negra” de Halan Silva.
Nos livros seguintes, presentes em sua linha do tempo literária, Portal do Hades, Edições Não-ser – 1996; Sobras do dia, Edições Não-ser – 2002 e Poemas insidiosos, Fundação Quixote/Avant Garde – 2012, a sua estética se torna cada vez mais sucinta. Às vezes, árida e, em outras, lírica. Todavia, sempre aparando arestas e adiposidades inócuas. Da palavra, apenas o tutano, a substância essencial q se mantém nesta dicção, em contínuo processo, mas para chamar de sua. A influência da fotografia (C. Negreiros também é fotógrafo), em seu ofício, fez o autor capturar palavras/sentidos/significados em breves “clics” imagéticos.
A boa nova desta Refeição aqui servida são as prosas minimalistas, poéticas, meio crônicas biográficas, q nos remetem a um determinado território e tempo. Memórias afetivas juvenis de uma comunidade, de uma cidade carcomida pela implacável ampulheta, assim como pela falta de visão política e pó-ética de alguns gestores. Com seu olhar de lince, coração canceriano e estilete afiado, tanto no enredo quanto na descrição dos protagonistas e nos cenários periféricos, Caio Negreiros é sensível e incisivo em sua narrativa minimal.
A capa atual traz a imagem do titã Cronos, deus do tempo, devorando a pedra de onfalo, e a imagem de Reia, sua irmã e esposa, a salvar o filho Zeus da maldição “antropofágica”. Eis, nesta edição, o alimento q a Avant Garde apresenta às pessoas q sentem fome de poucas palavras, mas plenas de sentidos e significados. Avant!