As produções da mais recente Piauindie Game Jam

Fonte: Instagram/Piauindie

Revisão: Joana Tainá

Criações artísticas possuem uma relação intrínseca com a superação de desafios. Criar algo, no fim das contas, é inserir no mundo uma coisa que momentos antes não existia, ou não de acordo com a perspectiva do seu criador. E esses desafios podem ser, em algumas situações, colocados justamente para atiçar a criatividade, como expõe Luise Fialho em um texto para o site da Tag Livros, onde diz que a criadora de Frankenstein, Mary Shelley, estava presa em uma residência por causa de uma chuva junto de seu futuro marido, Bysshe Shelley e Lord Byron, quando Byron sugeriu um desafio para passarem o tempo: escrever uma história de fantasma. Algum tempo depois, Shelley aceitou o desafio e deu no que deu.

A necessidade de atiçar a criatividade afim de enriquecer um projeto se tornou, com o passar dos anos, prática corriqueira em processos criativos, e não seria diferente no mundo dos Jogos. É nesse contexto que surgem as Game Jams: eventos que duram entre 24 a 72 horas aproximadamente, em que se juntam programadores e artistas das mais diversas áreas para a criação de um game sobre um determinado tema.

Inserida dentro do tema: “A Terra é o Limite”, a Piauindie Game Jam ocorreu entre os dias 20 e 23 de agosto e de maneira totalmente virtual, devido às medidas de isolamento causadas pela pandemia, mas nem por isso os jogos finalizados foram menos criativos. A amostragem dos games que foram os frutos dessa Jam está disponível no Youtube, e pode ser acessado clicando aqui e, caso tenha interesse em baixar algum dos games, clique aqui! Apesar do curto espaço de tempo, o resultado da amostragem foi bastante positivo, e mostra trabalhos interessantes e de grande potencial. Por isso, cabe uma análise breve deles.

Super Drill Out é um game com uma trilha sonora contagiante e com ótimo trabalho de Pixel Art. A interface do usuário (UI) teve um cuidado especial, sendo bastante responsável por explicar bem as regras do jogo, na qual somos uma escavadeira que precisa fugir de serpentes de metal, tentando o máximo possível escapar da profundidade da Terra. Vale ressaltar também o trabalho que deve ter sido programar a inteligência artificial das serpentes, que são muito chatas. Muito.

Sobre a Jam, um dos desenvolvedores de Super Drill Out, Pedro Ivens, comentou que:

Desenvolver jogos é muito gratificante, ver seu trabalho criando vida e as outras pessoas se divertindo com ele traz uma satisfação imensa. Em cada nova Jam você aprende algo novo, seja na criação ao se desafiar tentando criar algo de uma forma que você não costuma fazer ou no processo mais criativo, onde você tenta arriscar numa ideia menos técnica e mais divertida. – Pedro Ivens

Fonte: Super Drill Out

Look Inside é uma Visual Novel de suspense com um texto bem escrito, uma arte de personagens que lembra um pouco o design de personagens de Pokémon, e que conta uma história macabra. A escolha de trabalhar com uma narrativa de múltiplas escolhas é inusitada justamente pelo pouco tempo da Jam entretanto a Kátia Cibele, uma das desenvolvedoras, faz um ótimo trabalho tendo que lidar com tanta coisa em pouco tempo.

Fonte: Look Inside

Uma Terra em Apuros é um daqueles jogos em que você pode acabar com o mundo. A premissa é a de que devemos salvar o planeta Terra de seus maiores parasitas, os seres humanos, e para isso temos que administrar uma lista de catástrofes, indo de buracos negros, pragas até presidentes fascistas. Apesar do tom apocalítico, o game se torna semelhante ao famoso Plague Inc., onde o jogador é responsável por gerir uma doença que se espalha pelo mundo, o jogo da Jam é bastante divertido e tem muito potencial.

Fonte: Uma Terra em Apuros

Loosing Feathers me chamou bastante a atenção. Tudo conversa muito bem dentro dele: a proposta de sermos uma pequena coruja entrando na vida adulta aprendendo a voar é complementada pela música calma, pela paleta de cores suaves, de maneira que o jogar se torna uma atividade muito relaxante, apesar da dificuldade dos níveis. Tudo converge pra tornar a experiência muito satisfatória. O próprio desenvolver relatou, enquanto essa matéria era escrita, a sua experiência com a Jam:

Foi muito boa, intensa, porém muito tranquila! Aprendi como tirar máximo proveito de uma ideia de escopo pequeno, extrapolando o uso de mecânicas fundamentais do game para criar uma experiência completa e desafiadora, com boa curva de aprendizado e feedback rápido! – Raphael Felipe

Fonte: Loosing Feathers

E dentro do escopo de experiências relaxantes, Drop é um outro game que gerencia muito bem os elementos visuais, os elementos sonoros e a gameplay, na qual somos uma pequenina gota que está caindo do céu e precisa acumular outras gotas para crescer e melhor umidificar o solo quando chegar ao chão. Facilmente um game que pode parar nos celulares de muita gente.

Fonte: Drop

Scavanger é um game que aposta na agonia do jogador. Quebre blocos pra escapar de toupeiras mas tenha cuidado pra não ser assassinado por algum fantasma que passe desavisado.

Fonte: Scavanger

Ruptura em Curso se destaca por fugir da ideia de jogo virtual e se concentra em ser um jogo de mesa, ao invés de baixar um programa ou aplicativo, baixa-se um PDF com as regras do jogo e o tabuleiro. Uma possível boa experiência para os encontros pós pandemia ou, também possível de se jogar sozinho, com um dado comum, papel e caneta o jogador já consegue se divertir.

Fonte: Ruptura em Curso

E a amostragem de jogos se encerra com Inside Out, um game que não foi concluído na Jam mas que tem os seus méritos, como a presença do sistema de Conquistas desbloqueáveis e da física implementada ao jogador.

Fonte: Inside Out

Com uma amostra rica e diversa de produções, a Game Jam enriquece o cenário de jogos do estado, trazendo experiência e diálogo para um tipo de produção cultural que cresce a cada dia mais. Tanto para quem já é veterano em Jams e para quem chegou agora e já está se sentindo em casa, a experiência de estar trabalhando de maneira colaborativa é vista de maneira gratificante, como relatam Katia Cibele, programadora em Look Inside e Kael Angeli, artista e roteirista em Super Drill Out:

“Foi realmente muito gratificante. Trabalhei junto com um colega de trabalho que eu trouxe para a Game Jam que não conhecia nada sobre o mundo do desenvolvimento de games, mas tinha muito talento pra desenho. Nós fizemos um jogo narrativo, no início bateu aquele “por onde eu começo”, mas com o passar do tempo tive que ir aprendendo a lidar, já que estava acostumada com outros tipos de mecânicas e tipo de jogos, e eu não tinha contato com a Unity a mais de dois anos. Foi interessante que lembrei de muita coisa que achei que não conseguiria fazer e o resultado ficou muito melhor que o esperado porque pensei que nem ia conseguir terminar. Foi minha primeira Jam então já dá pra entender que pra mim foi marcante. – Katia Cibele”.

“A equipe foi muito empenhada e a parte mais divertida foi o brainstorm, sem falar das madrugadas de teste do jogo, enquanto ele estava em produção e finalização. – Kael Angeli”.

É muito satisfatório assistir a evolução dos desenvolvedores piauienses. Todos os trabalhos apresentados tem um potencial de desenvolvimento enorme, cada um a seu modo traz consigo um aspecto da indústria de jogos, o que mostra a diversidade das produções, em seus gêneros e temáticas.

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