Crítica Literária sobre o mangá “Iemanjá” de T. S. Miranda

Aviso prévio: contém spoiler!

A primeira obra produzida por T. S. Miranda é um mangá que aborda um símbolo da cultura e religiosidade afro-brasileira bastante conhecida. O título por se só já pressupõe ao leitor de quem será mencionada durante toda a obra, no caso, a orixá Iemanjá, a deusa das águas salgadas, princesa do mar. Os três primeiros capítulos mostram a personalidade dos protagonistas e o antagonista do mangá, o espaço onde as cenas acontecem traz familiaridade pelas ruas e fachada das casas, até o ônibus ilustrado nas páginas 12 e 43 são traços marcantes do dia-a-dia Teresinense.

O enredo é voltado a um jovem que vem do interior para a cidade grande, Teresina, com a finalidade de estudar, vai morar na casa de sua falecida tia envolvida com uma dívida com agiota, logo o protagonista da estória, Cristiano, vira alvo do antagonista que lhe propõe 5 anos de trabalho, não se esclarece qual o serviço, mas entende-se que o jovem está em uma situação encurralada.

 Surpreendentemente, uma série de fatos acontecem, ele acha uma garrafa de vidro com água, vai bisbilhotar entre a rua com um furo na janela, se assusta ao ver capangas do “vilão” que fizeram ele correr, algo que aconteceu nas páginas 11 e 12, após o susto ele machuca a perna e deixa a garrafa cair, assim surge Iemanjá e cura a ferida do impacto. Sem contar da situação cômica quando a Deusa das Águas descobre que está em Teresina, uma cidade sem praia por perto, o que tornaria mais limitado seus poderes. O ilustrador T. S. Miranda conseguiu entregar bem as ilustrações que nos trazem um teor engraçado.

A partir disso, o garoto e a deusa seguem uma aventura para confrontar o agiota, mas a orixá percebe que o antagonista, na verdade, é Exu na pele de um ser humano. Isso me fez olhar o agiota com outros olhos. Exu explica no início do capítulo 4 que não é um vilão, apenas faz um serviço e espera o valor proporcional ao que foi pedido. No caso a tia de Cristiano pediu-lhe que destruísse a vida do homem que ele incorporou (o agiota). Assim Iemanjá confronta o rival para libertar o jovem da dívida, o que me deixa surpreendido o autor conectar o drama do momento com uma parte religiosa encontradas na Umbanda e Candomblé, o pacto que a tia dele fez e a relação que as entidades têm entre si, ensinando ao leitor um pouco sobre a religiosidade de matrizes africanas.

Exu sabe da fraqueza de Iemanjá por estar tão longe do mar, a Deusa não tem todos os seus poderes. Durante a batalha que acontece no Parque da Cidadania, por ordem do destino, enquanto as entidades lutam entre si, um dos capangas pega por trás o garoto e corta seu pescoço, logo, a Orixá debilitada com a cena, pede para o Cris pôr sua coroa adquirindo a benção do mar. O adversário tenta usar seu poder contra o protagonista, porém uma mão surge dos céus antes de acerta-lo. E é Iansã (Deusa guerreira, senhora dos ventos, raios e tempestades), transformando Exu em pó. Até que em um momento, Cristiano se desloca do parque até as margens do rio Poti, pede com muita fé a figura de Iemanjá para que ela se cure, e então, eles se teletransportam para o mar. Ele decide leva-la as águas, mas acaba sendo empurrado para o fundo do mar e acaba se afogando, imprevistamente Iemanjá toma consciência e tenta salvar o jovem. Para o leitor, traz a emoção do plot twist, quando lembra das primeiras cenas dele tentando tirar sua vida e no final a princesa dos mares o ressuscitando novamente.

Personagens

 O jovem (Cristiano) que invoca Iemanjá, tem a personalidade melancólica e sensível, por ele ser sempre tão solitário nem sempre é muito empático nas situações que ocorrem ao longo do mangá, ele não gosta que falem de seus familiares pelo fato de que é traumatizado pela perca de sua mãe. Torna-se perceptível sua cara de dor e fragilidade nas primeiras páginas. Provavelmente Cristiano é aquariano com ascendentes em câncer, mas isso fica a critério do leitor louco por signos.

Iemanjá é o oposto do Cristiano, ela é animada, espontânea, curiosa e tão empática que gostaria de pegar as dores do mundo para si. Sem contar que o autor preferiu colocar do mais perto de como seria a imagem de Iemanjá, muito diferente das estátuas que vemos pelo Brasil, brancas, sendo que as histórias dos orixás vieram do continente africano, ou seja, ela é preta para o terror dos racistas! Iemanjá é sagitariana convicta com ascendência em áries, novamente fica a critério do leitor montar os horóscopos dos personagens.

Já o Exu tem um senso de justiça muito forte, ele é muito convicto nas ideias dele: justiça e verdade, ele se vê literalmente como a balança de todas as coisas e justifica todas as suas ações com base no que ele acredita ser certo. Sem contar que o autor da obra e ilustrador, o transformou em uma figura visualmente sexy para os olhos do leitor. Provavelmente Exu é um escorpiano…

 Infelizmente os demais personagens não são bem explorados durante a obra, figuras como a Jessica e Omulú (Deus da cura) personagens que possuem uma aparência queer, me chamam bastante atenção. Porém, entendo essa ausência já que a obra foi escrita por apenas uma pessoa em tão pouco tempo, até mesmo porque a estória está voltada a figura de Iemanjá. Será o autor esteja planejando abordar e aprofundar mais esses sujeitos e em uma possível segunda temporada da obra? Hum…

Considerações Finais

O autor consegue entregar uma linguagem informal e atual para o melhor domínio do público de uma forma democrática através da leitura. O mangá traz algumas informações para nos manter conectados com a estória contada, é interessante e genial que mesmo o leitor não conhecendo as entidades de religiões africanas fica de fácil entendimento o que são cada um deles. Sem contar da inovação do mangaká que veio a partir da falta de representatividade da cultura africana nesse segmento. Final das contas, super recomendo e quem leu recomende para algum amigo ou parente, creio que o mangá quebre certos preconceitos relacionados aos orixás. De alguma maneira vamos nos associar com alguns dos personagens. Afinal, a ideia inicial de T. S. Miranda foi concluída com sucesso, por entregar emoção, aventura, humor e informação ao público leitor.

Como adquirir o mangá?

Disponível na Banca HQ e estará à venda na Feirinha do Stouradas neste sábado (25/12).

Além disso, você pode comprar na mão do próprio autor falando com ele pelo ig  @tsmirandaart

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