Estou cansado de esperançar, por Noé Filho

Neste moinho temporal, em que os futuros, presentes e passados se amalgamam, me vejo num espelho embebecido de desesperanças. Os sonhos contrastam de tal modo com a realidade que meus eus acordam que já passou da hora de ter esperança.

“Só quero saber do que pode dar certo, não tenho tempo a perder.” Torquato Neto em Go back

O presente pode dar certo, agora. Talvez, essa perspectiva de esperar, ter esperança nos deixe deslocados nesses tempos extraordinários. Na espera de algo que nem sabemos como poderá ser, aguardamos sentados em tronos dourados de presentes.

Temporal. Temporal. Temporal. Temporal. Temporal. Temporal. Temporal. Temporal. Temporal.  Temporal. Temporal. Temporal. Temporal. Temporal. Temporal. Temporal. Temporal. Temporal. Temporal. Temporal. Temporal. Temporal.

“Pense no que já viveu. Não pense no que viverá. O agora, o hoje, o então. Foque no momento que está.” Monise Borges em Memoriar

Minha busca por passados se mostra mais importante a todo instante. Aqueles futuros que já vislumbrei jamais teriam alicerces sem a força de descortinar tempos que nem vivi, mas vivem em mim.

“O futuro é ancestral.” Ailton Krenak

Essa esperança que aprendi eu não quero mais. Talvez, só talvez, me interessem mais as esperanças ladinas. Plurais. Inteligentes. Revoltosas. Corajosas. Transgressoras. Tal qual Esperança Garcia. Tal qual Mandu Ladino. Esperanças. Ladinas.

sete ervas
(renata flávia)

abrir espaço
no peito
nos armários
abrir a casa
do corpo
dos ancestrais
o sopro
respirar o impossível
rever sem calcular
o chão é o mesmo
mas o mundo
está mudando
de lugar

Escrito por Noé Filho.
Revisado por Paulo Narley.

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