Travas-linhas-Travas-Livres

Foto da peça O que te escrevo é puro corpo inteiro. O ator está em pé a mão erguida. punho fechado, na frente do corpo. Travas-linhas-Travas-Livres.
Foto Margareth Leite

 

Por Maneco Nascimento

O que nos escrevem, por escopo íntegro, é poético, filosófico, realístico, memorial, versossimilhante, verossimilhança e prosa em discurso-percurso teatral de carpintaria construtivista das mãos linhas traçadas de Nathan Sousa, Vitorino Rodrigues e Wellington Junior para o espetáculo-aula, Ato-palestra, lição de cor dramática nas vezes de bem dizer, fazer Teatro para “O que Te Escrevo é Puro Corpo Inteiro”.

Peça vista, na noite de 18 de abril, primeira data de temporada do Terças da Casa, pois nova apresentação ainda poderá ser conferida dia 25 de abril, no mesmo bat canal Theatro 4 de Setembro, às 19 horas, reverberando Projeto Terças da Casa – Teatro, idealizado pela coordenação do Complexo Cultural.

Em Ato Solo, um hercúleo Vitorino Rodrigues transversaliza eixo doméstico, sala de aula, escritório de produção e/ou memorial de professor e, no rompimento do paradigma da quarta parede, o interlóquio com a plateia-educandos. De Vitorino pode-se dizer que tem peito, corpo suave e corpus sanus linguístico para bem re-produzir repertório de Ator e Método.

Avança à sala de memórias, em roupa íntima, uma ceroula-calção de descanso, e ousa desmistificar o corpo do intérprete e desvendar toda possível nudez que passa sem castigo, nem censura. Rodrigues enverga o corpo do intérprete sob empréstimo à personagem, do mestre aposentado e reclamo de autor, e desliza natureza vívida.

A ambiência cenográfica parece ruidosa à comunicação, mas ledo engano, é limpa. O regurgito de bom leitor e decodificador de mestre, sem carinho, se espraia no olho do furacão das letras, livros, memórias, histórias e de-codificados espaços de re-ver, refletir a própria história em doses, por vezes, de amargura narrativa da personagem, num salto dinâmico da verve dramática do Ator, que nos ganha com maestria da Arte de convencimento e persuasão metodológica de ensino, por sua vez, aplicada à práxis do fingimento, exercício cênico determinante.

O céu, sem Suely, que pende sobre a cabeça do professor, em seu recôndito quarto de “miséria e fortuna crítica” parece despencar energia pêndula, de cosmos asparizados, na forma simbólica e iconográfica de exercer atração-inteligência, atomizando a “croa” do encarnado. Vitorino investe um pulmão triplo no desmanche do discurso-fala que se lhe fica imposto ao efeito teatral. Travas-línguas, travas-linhas, travas-livres decantam, a mais de uma hora, o contar um conto em prosa efetivada à carpintaria de palco.

Memórias de autor, de ator e público provocado se misturam, se confundem e mimetizam naturezas humanas de dez-contar a aritmética de testemunhos aplicados na aula-lição, letras vívidas e memorial de conventos de profissão, vida, fé e arcabouço, de repertórios intertextualizados, na atualização dramática triangulada de Nathan, Vitorino e Wellington, a bem escrever sentimentos de puro corpo inteiro, sem amarras nem devaneios desfigurados do real passional existencial vivos.

O elemento semi-nu da personagem, de entrada, vai aos poucos ganhando mais corpo de segunda pele [figurino no neutro Oxalá]. Ilustra o corpo do narrador-professor na emenda do natural ao formal catedrático para, no último Ato, cena de “despacho”/purificação, banho no quintal da casa, revelar a metáfora de toda nudez purificada.

No centro do círculo da coroa prateada, lago de metal, um banho de “água-ardente” despejado das garrafas sobre a cabeça assepsiam o pescador, vestido para pescar. O “banho de cuia” desenha sua lagoa de refrigério e epifania de limpeza das regurgitadas vozes ditadas no per-curso de todo enredo anterior.

Wellington Junior consegue alinhar densidade textual [e recursos de + linguagens] e devoção dramática, numa flexionada ação, feito flecha de Oxossi à fartura e sustento dramático da cena. Converge, com Vitorino, um vigor de aplicação e manutenção da tensão dramática e equilíbrio de causalidades e imperativos cênicos a efeito de performance atraente e empática.

Há, sempre, uma licença a pro-criar Teatro que livra humanidades. “O que Te Escrevo é Puro Corpo Inteiro” devota texto, prosa, música, luz, figurinos e atuações, do triângulo dramático reunido, e ex-vota brilho e fé na arte de encenar, mergulhados em mar de palavras, significantes e significados oxigenados ao sangue pagão e sacro de reinventar-se Poesia.

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