Escritor piauiense João P. Luiz lança obra no formato História em Quadrinhos com a temática sobre “A voz de Esperança Garcia”

O reconhecimento, vida e obra da importância histórica de Esperança Garcia ganhou recentemente um novo capítulo. Dessa vez, a luta da primeira advogada do Brasil está sendo retratada no formato de história em quadrinhos (HQ). Escrita pelo professor e redator João Luiz, o “Pikachu”, e desenhada pelo quadrinista Bernardo Aurélio, a obra “A Voz de Esperança Garcia” está disponível nos formatos digital e físico.

Em entrevista a Geleia Total, João destaca como foi realizado o processo de criação do projeto.  “Esse projeto surgiu a partir de 2017 quando foi lançado o dossiê Esperança Garcia, da Ordem dos Advogados do Brasil, um projeto que foi organizado pela professora Maria Sueli Rodrigues de Souza. Ela que fez uma pesquisa histórica e cientifica sobre a Esperança onde ela dava prova de que a carta que a Esperança Garcia tinha inscrito em 1770 ela era uma petição. Ela era uma forma de defesa e aí, com esses documentos e com essa pesquisa feita ela, a professora Sueli com a equipe dela e junto com a OAB elas reconhecendo a Esperança Garcia como a primeira advogada do Brasil. E aí a Malu Flávia que é uma amiga minha muito próxima, ela fazia parte da comissão que escreveu e pesquisou no dossiê da Esperança Garcia. E aí surgiu umas conversas sobre produzir um quadrinho contando essa história”, afirma.

“Aí o que aí que foi que eu fiz? Foi realizada uma pesquisa com todos os trabalhos científicos que já foram escritos sobre a Esperança. Principalmente professor Hélio, professor Solimar, professora Sueli e toda esse documento, que já tinha histórico sobre ela baseado na Esperança e dando uma visão tridimensional de como era um Piauí no século XVIII, então fiz e escrevi esse roteiro, e o roteiro foi adaptado, foi revisado e aí Bernado Aurélio, entrou com o desenho, então teve toda essa criação, essa pesquisa que durou vários meses pra fazer e pesquisar, escrever roteiro e adaptar algumas coisas. Mas eu fui o mais fiel historicamente possível, né? Eu apesar de ser uma uma ficção histórica, né? Com elementos de ficção, porque eu creio do nada, estou baseando a história na carta né, apenas na carta que tem 15 linhas, de informação sobre quem seria Esperança Garcia antes de escrever a carta. E aí a gente fez essa ideia e conseguimos fazer o quadrinho”, pontua.

Com uma pesquisa minuciosa e apurada, João destaca que o tema faz essa relação temporal contando um pouco das vivências de vida de Esperança Garcia.

“O tema abordado ele trabalha com toda ele meio que abraça toda a questão histórica da Esperança porque estamos falando de uma nega escravizada no ápice da escravidão brasileira. Em 1770, então era uma região do Brasil desconhecida. O Piauí era chamado ainda de sertão de dentro, os negros eles eram poucos, então, saiu da fazenda de algodões onde era onde era escravizada e teve que ir para outra fazenda que é a porções e lá foi o que aconteceu toda a violência que ela sofreu com os seus companheiros, né? Ela foi separada do marido, dos filhos, ela não poderia batizar os filhos porque o capitão da fazenda não queria. Então ela teve todo esse processo de violência física, mental, psicológica de uma mulher escravizada, de uma mulher negra e ela de né? Sozinha fez, né? Escreveu uma carta pedindo ajuda, socorro, hoje estou morrendo me ajudem, né? Eu sou um ser humano, eu tenho um direito, comum”, pontua.

O artista revela a ênfase que trouxe nos quadrinhos esse poder de luta liderado por Esperança Garcia. “Eu não transformei a Esperança Garcia em uma pessoa super poderosa, sobrenatural, não, ela é uma mulher comum, que fez uma manifestação espontânea de escrever uma carta, né? Uma negra que sabia escrever e sabia ler. Então essas coisas são muito poderosas, é muito bonito, assim falando para a história da luta dos negros porque nós estamos falando de literatura, nós estamos falando do direito, ela fez uma algo cem anos antes dos direitos humanos existir, então tem toda essa temática dentro do processo criativo e da forma, da mensagem que eu quero passar com a equipe, né? Que fez o quadrinho. Nós tivemos é muito cuidado, historicamente falando, nos dados, colhidos pra não fazer uma coisa é que que fugisse do tema, principal que é a luta do negro contra o racismo, contra a escravidão, afirma João.

Para a obra acontecer alguns colaboradores fizeram parta da construção da obra. “Eu contei com algumas pessoas muito importantes né? Eu contei com o a Leila Raquel que é uma grande professora da Universidade Federal de Línguas né? E gramática ela fez uma revisão histórica, fez uma revisão gramatical do quadrinho, eu contei com o Ruimar Batista, é um dos grandes historiadores, poeta, ele é escritor e é membro da academia, de letras de Teresina e ele também trabalhava no movimento, negro do estado, então ele é uma pessoa que tem todo um conhecimento, cientifico, técnico sobre a linguagem, Yorubá sobre a divisão social dos negros no estado. Ele te conhecia muito essa parte, ele fez toda revisão histórica do texto, então a gente não fez uma coisa é totalmente assim, solto, né? Ele teve todo esse contexto histórico e fazer um esse recorte histórico pra contar essa vida da Esperança Garcia”, disse João.

João destaca a relevância e objetividade da obra.

“O projeto ele tem ele tem alguns objetivos né? Primeiro ele tem essa força de democratizar quem é e quem foi Esperança Garcia, tem  essa força de representar democraticamente quadrinhos, quando você usa o quadrinhos você tem uma facilidade de levar para vários sociais, um dos objetivos do edital cultural do qual eu escrevi o projeto era isso, era levar essa história para pessoas pobres, negras e da periferia, tanto que faz parte do projeto fazer doações para pessoas para quilombolas, dessa edição física quando eu comecei a pesquisar essa esperança é estava muito estava muito na linguagem científica da pesquisa histórica mas eu não estava vendo sala de aula eu não estava vendo a Esperança Garcia na comunidade , então a gente queria deixar ela democrática né ser um uma informação, ser alguém reconhecido historicamente, um orgulho, né? Para o Piauí em si”, pontua.

 

“O projeto vai ser lançado amanhã no dia 24 de Junho, ele tem essa intenção de ser lançado fisicamente formalmente na quinta capa quadrinhos que também é a editora da revista e nós estaremos lá, mas nós vamos participar de alguns eventos literários, também no Salipe que esse ano 2023 o tema do Salipi é Esperança Garcia. Então a gente não combinou isso né? Não foi combinado lançar um quadrinho da Esperança Garcia no mesmo ano que ela é reconhecida pela OAB como advogada e no mesmo ano que ela vai ser o tema principal do maior evento literário do do Piauí que é o Salipi, né? Não foi a intenção da gente chegar e ter no mesmo ano desses eventos, né? Então deu muito certo o projeto porque ele vai sair e estaremos lá também falando sobre o quadrinho, divulgando o quadrinho e conversando sobre o porquê que é importante e o piauiense e o Brasil saber quem é Esperança Garcia”, disse João.

João revela a alegria de ter desenvolvido um projeto tão valioso e que não esperava um retorno tão grandioso.

“Nossa equipe é muito boa e está muito engajada no projeto, demora fazer algo nesse formato, eu não sabia que ele estava sendo esperado por tanta gente, grupos quilombolas, grupos negros do Piauí, historiadores e professores que estão esperando esse projeto, fiquei sabendo dessa expectativa quando já estava acabando, todo mundo me procurando, e fiquei assustado, me perguntando se estava fazendo certo”, disse.

João Luiz finaliza celebrando porque criou essa história e faz um convite a leitura da obra que foi criada com bastante dedicação para somar a arte, literatura e cultura piauiense. “Acredito que o nosso trabalho, está sob um projeto bem pedagógico com uma função de informar, de contar essa história, e democratizar a Esperança Garcia, e o nome dela como uma propagação muito boa, tanto que as pessoas podem baixar o quadrinho gratuitamente a intenção não é vender nem ganhar dinheiro com ele, mas, ter o poder de transformar, de ser conversado, e falado por todo mundo de forma acessível a todos, apesar de ser uma história de dor ela precisa ser contada, pois é um pedaço da história do Piauí que o Brasil está conhecendo agora, então foi importante para eu como pessoa negra, e como escritor que comecei agora, falar sobre a Esperança Garcia e espero que as pessoas leiam essa história e se emocionem com ela porque ela tem essa função”, disse.

Ficha Técnica:

Roteiro e Criação: João Pereira Luiz e Juliane Ferreira

Desenhista: Bernado Aurélio

Produção: Juliane Ferreira

Pesquisa: Malu Flávia

Segue o link para baixar a obra: http://avozdeesperancagarcia.quintacapa.com.br/

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1 comentário
  1. Super importante, falar de personagens do Piauí que temos pouco conhecimento. Isso contribui muito com nossa cultura, Parabéns!

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