Carneirinho de Ouro – Lendas Piauienses

O neto sentou na calçada, ao lado de onde estava seu avô contemplando o Morro do Leme, em Oeiras. O olhar do velho começava a cegar e isso deixava um semblante tristonho nele. O menino sabia que isso o entristecia bastante, não só porque deixava de ver a vida, mas porque se afastava do objetivo de um dia capturar o “carneirinho de ouro” que tanto ouvira o avô falar. Não sabia se realmente existia, mas também nunca ousou duvidar.

– Ô vô, como está? – o menino puxava conversa.

– Acho que hoje o carneirinho há de sair do Morro do Leme, meu ‘fi’ – o avô respondia.

O neto assistiu aquela cena desde muito cedo até os últimos dias de vida do avô. Mas após ficar cego, não demorou muito para a vida do velho terminar e se esvair.

Anos depois, o menino já era quase um homem e agora voltava a Oeiras nos feriados e férias. Todas as vezes que lá chegava, tirava um tempo a observar o Morro do Leme e a lembrar das tantas vezes que torceu junto com o seu querido avô pela aparição de um tal carneirinho de ouro.

De acordo com a história que contavam na cidade antigamente, um carneirinho de ouro, por vezes, saía a passear saltitante do Morro do Leme, atravessava a cidade e subia o Morro da Sociedade, onde voltava a se esconder. Trazia na testa uma estrela brilhante que o simbolizava como um animal enviado por Deus à Oeiras para levar riqueza para quem o pegasse. Mas nunca ninguém conseguiu agarrar esse animal de ouro.

Seu avô disse que já viu quando era mais jovem o carneirinho de ouro. Muitos oeirenses afirmam que já viram o animal reluzentes e rápido, mas não há registro de quem o tenha ao menos tocado. E essa era toda a ambição do avô falecido.

Todas essas memórias passavam pela cabeça do menino-homem, enquanto observava o Morro do Leme em Oeiras. A noite caía e um feche de luz brilhante o assustou. No horizonte, algo incrível parecia acontecer: por mais inacreditável que parecia ser, ele começou a acompanhar com o olhar um carneirinho de ouro a passear com saltos rápidos. Boquiaberto, ele olhou para os lados e não havia ninguém. Levantou-se e tentou correr na direção que o carneirinho de ouro parecia seguir. Mas a medida que acelerava o passo, mais o carneirinho corria. E ele não parecia ser rápido o bastante para conseguir alcançar o animal. Antes de perdê-lo de vista, podia jurar que viu o carneirinho, distante, parar e olhar para trás, mostrando a estrela reluzente na sua testa.

Parou aos pés do Morro da Sociedade, em Oeiras, extremamente cansado e suado, percebendo que acabara de atravessar correndo de uma ponta a outra a sua cidade natal, atrás de um sonho que não era seu, e sim do seu avô. Desejou poder falar para seu velho querido que havia tentado realiza-lo… Mas apesar de não poder, sentiu a saudade do avô ser abraçada por uma felicidade incomum que invadia seu peito. Talvez fosse essa a riqueza que o carneirinho de ouro podia passar.

Escrito por Evilanne Brandão.

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