Ideologia dos Ídolos, de Abraão Vasconcelos

Frida Evolet – Foto José Ailson (Um Zé)

Ano passado morri

Ano trasado também

Nesse eu achava que não

Que tudo seguiria bem

 

Ameacei resistir

Ameacei desistir

A gente até pode casar

Mas nada vai sair daqui

 

“A pouca vergonha acabou

Pornografia jamais!”

Eu ouço o cidadão de bem

Querer acabar com minha paz

 

“Protejam as nossas crianças

Da ameaça comuna

Ateus, prostitutas e bichas

Que enquanto nós louvamos, dançam”

 

(…)

 

Um mulato baiano

Muito alto e mulato

Outro parnaibano

Filho de lavrador

 

Pra não sofrer na roça

Under the sol a pino

Hoje fala inglês

Para se proteger

 

Escreve seus temores

Enquanto denuncia

O perigo real

que vem chegando aí

 

Já lemos isto antes

E leremos de novo

Tudo já aconteceu

E eu sobrevivi

 

Tenho sangrado demais

Tenho chorado pra cachorro

Os comunistas guardavam sonhos

E de inércia eu não morro.

 

Abraão Vasconcelos

Total
0
Shares
1 comentário
  1. Francisco Miguel de Moura, endereço eletrônico: franciscomigueldemoura@gmail.com
    Minha gratidão, Alisson, pelo destaque que deu à minha poesia. Vou mandando uma, se você gostar e puder acrescentar ao seu site, eu ficaria muito alegre:
    CARTAS DE AMOR SEM PESSOA
    Francisco Miguel de Moura
    (homenagem a F. Pessoa)

    Ridículo fazer poema a qualquer nada:
    – É nadar em seco sobre um fundo lago.

    Cartas de amor, quantas eu fiz, eu fiz
    num tempo de paixões de amor, sem paz!
    Tanto que enxuguei mais de mil lágrimas:
    – Lixo do que se erguia de minha alma.

    Quando meus olhos abri … Era o inferno
    que me fechava os olhos para o claro.
    E hoje me divirto, ainda que pouco,
    com o nada de mim, dos meus guardados.

    Minhas dúvidas, se lembro, não são nada,
    para o verde demais, sem flor/ nem fruto,
    de um florido jardim sem sol, nem sal,
    feito de versos e de versões esdrúxulas.

    Por meus enganos, não senti saudade,
    saudades que revivem trovas, trapos
    de palavras voando em signos incolores.
    Hoje, as cartas de amor se fazem poesia
    à beleza dos sonhos meus – sua anarquia…

    Depois de tudo, eu quis a eternidade,
    quebrei meu rádio…ouvindo o meu silêncio,
    no além de Pessoa… Pra não ser amargo.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Postagens Relacionadas