Crítica do livro “Mar Grave” de Renata Flávia, por Marciléia Ribeiro

Quem entra no mar é para se …

Para começar mais um ano na energia da transformação, foi necessário, antes de tudo, seguir a tradição de passar a virada de ano no mar. Entrar 2019 sem pular 7 ondas seria um erro. Não que as superstições sejam a minha “praia”, eu até arrisco passar embaixo de uma escada e quebrar espelhos, mas ver uma sandália virada para baixo e não levar flores para Iemanjá no réveillon são coisas que me causam arrepios só de pensar. Superstições à parte, metáforas adentro. Simbolismo, consonância, congraçamento, intensidade e ondas altas – assim descrevo, ainda sem fôlego, o Mar Grave o qual eu me joguei neste fim de ano.

Renata Flávia, autora desse livro, cuja poética revolve nosso ser como se estivéssemos sendo pegos despercebidos por uma onda agitada, canta o “Amar” com uma ressignificação intensa e precisa. É um amar que se refaz dentro do próprio signo linguístico AMAR, que cabe a si o MAR, formando, dessa forma, uma unidade consciente de corpo e de alma:

“sofro de um mar grave, um mar doente e revolto, que se instalou entre minhas costelas. Respirar é muito barulhento…” p. 29.

Amar como quem ama aquilo que é próprio do existir, da coisa, da matéria que forma e se completa a cada passo que damos. Amar não só no sentido de mergulhar no outro, mas na na própria submersão de si mesmo, como a bordo de um navio prestes a enfrentar uma tempestade:

“Mas digo que se acaso o sonho dessa noite virar por teimosia mais uma história minha de cabeça para baixo, juro que desfaço esse imã de jogar tudo que acho pro abraço e redecoro a casa em cozinha com parede de mar para que todo e qualquer barco possa flutuar desapegado dessa sina de querer tudo dentro de um só lugar” p. 26.

“Mar Grave” contempla com muita veemência as fases transitórias e definitivas do nosso espírito, como em um “dormir e acordar”, como num “afogar-se e voltar à vida”. Em outras palavras, Renata traz em seu lirismo aquilo que precisamos ler/ver e sentir independente daquilo que estamos vivendo. “Mar Grave” é um livro de “após”, que não acaba quando se termina a leitura.

Assim, puladas as sete ondas, 2019 começa com cheiro de maresia, de liberdade e de transformação. O novo tempo começa com gosto de (A)Mar-se. Jogar-me nas águas de “Mar Grave” me deixou sem fôlego, não com a sensação de morte, mas de esperanças; não com a sensação de fim, mas de continuidades; não com a sensação de perdas, mas de reencontro. Entregar flores para Iemanjá ao lado de Renata sobressaiu-se à superstição e agarrou-se ao acaso e à realidade. Na verdade, durante a virada, eu joguei flores para Renata. Que sorte! Entremos pois de pé direito em 2019. Um salve bem grande à rainha das águas que me recebeu em tempo de maré alta. E em meio a esse mergulho tão mágico e enfático eu afirmo: engana-se quem pensa que não tem mar em Teresina.

Quem entra no mar é para se transformar!

Por Marciléia Ribeiro.

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3 comentários
  1. É uma leitura muito bonita da produção da Renata Flávia, mas me parece mais comentário propaganda que crítica literária. Senti falta de qualquer menção a forma poética que a poeta adota ou qualquer aspecto formal, imagético ou rítmico. Lindo estilo de escrita da Marciléia, mas não saciou o que eu buscava numa crítica.

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