Fernando Costa: dos rabiscos no chão à tela

Nascido em uma família com seis irmão, Fernando Costa era o mais novo entre os filhos homens. A família morava no bairro Primavera e desde os quatro anos de idade ele já demonstrava aptidão para as artes riscando tudo que via pelo caminho e para isso ele usava tanto caco de telha quanto pedaços de carvão. E todos que conheceram o artista de perto comentam o quão adorável e calmo, característica que transparecia no seu jeito de jogar futebol. Cineas Santos comenta, no artigo escrito por Isabel Cardoso, que quando criança Fernando começou a rabiscar com os materiais que tinha disponíveis e que ele era um rapaz gentil que falava baixo, tinha bons gostos musicais e, entre outras características, que seu jeito lembrava o Paulinho da Viola.

Fonte: Revista eletrônica de artes plásticas piauiense Applausus. Edição 02, Ano 2077, Teresina-PI.

“… a obra de Fernando Costa me atingiu em cheio, por dentro, sem volta, de modo a não me deixar ileso … e pelo incômodo de perceber que um gênio, num lugar devastado pelo desconhecimento de seus artistas, vive sepultado no esquecimento”. Kleber Santos

Nome Completo: Fernando Antonio da Silva Costa

Descrição: artista visual

Data de Nascimento: 05/1961

Local de Nascimento: Teresina

Escrito por: Alisson Carvalho
Revisado por: Paulo Narley

Crônica do sorriso

Fernando Costa começou a ficar mais conhecido pelos seus desenhos durante período em que estudou no Colégio Andreas. A partir dali ele começou a trabalhar na sua arte profissionalmente. Em uma crônica intitulada “o gênio que não sabia sorrir”, o escritor Cineas Santos conta que, em 1976, a diretora do Departamento de Assuntos Culturais da SECULT pediu que ele visitasse a exposição do artista, que na ocasião tinha apenas quinze anos de idade e impressionou o escritor pelo domínio e originalidade dos traços. A crônica continua descrevendo esse primeiro contato chegando a explicar que Fernando Costa não ria porque não possuía os dentes anteriores, mas que Cineas solucionou o problema encomendando uma prótese e a partir daquele momento Fernando começou a sorrir. Depois disso, o escritor passou a ajudar Fernando Costa dando suporte na educação.

Um artista obstinado

Fernando Costa tinha um processo intenso de produção, ele desenhava incansavelmente com o objetivo de se aperfeiçoar, além disso a sua pesquisa não era apenas empírica, pois ele tinha consumia muita literatura da área das artes visuais. A renda adquirida, fruto da comercialização dos seus trabalhos é usada para a compra de materiais para outras produções. Fernando Costa começou a trabalhar cedo, ainda na época que estava estudando e soube conciliar as duas atividades, depois passa a trabalhar na gráfica do Andreas elaborando ilustrações de apostilas para o colégio e começa a trabalhar para Cineas Santos que, nesse período, se unem com Albert Piauí e montam uma gráfica.

Um alquimista das artes

O talento de Fernando Costa encantou muitos olhares, afinal ele explorou e dominou muitos materiais e suportes. As obras criadas pelo artista causam um impacto e surpreendem em vários aspectos, não somente pelo domínio das técnicas utilizadas como também pela originalidade. E o artista passa por transformações quando volta de São Paulo, deixando evidente o rompimento com o figurativismo e já expondo o abstracionismo. Segundo Elmar Carvalho: “Fernando era como um alquimista. Era um mago medieval, mas demasiadamente moderno – eterno. Um mágico sem truques, mas com muita magia em sua arte. Era um bruxo, um demiurgo e/ou taumaturgo. Um demiurgo, como dele disse Clóvis Moura. Demiurgo e demônio, tanto faz. Demônio e santo, tudo junto e algo mais. Aquele algo mais que o fazia erguer do caos primordial do nada/ser suas belas gravuras a golpes de estilete. Traçava em longos e lestos e lentos gestos de prestidigitador o desenho na borracha. Depois, com o estilete, diligentemente, a desbastava, até arrancar a forma perfeita de sua linogravura. Mas o seu arrancar era feito suavemente, quase como se não tocasse a matéria, tal era sua agilidade. Acaso não tivesse esse dom encantatório daqueles que sabem seu ofício como um deus, usaria fórceps para extrair sua arte dos umbrais do caos das formas informes.”

Fonte: CARVALHO, Elmar. Fernando: a golpes de estilete. 23 de março de 2010.

Da Santa Ceia e Outros Avulsos

De todos artistas teresinenses que conheci, Fernando Costa foi o que mais me cativou. Senti profunda afinidade com a sua obra e desde que vi uma foto dele, com o seu olhar que parecia escapar belamente dos seus olhos serenos e contidos, captei ali indistintas energias interiores que recusariam quaisquer armistícios.” (Abordando Fernando Costa, por Kleber Lima, 2019)

Já Guga Carvalho comenta que Fernando Costa se inspirou nos grandes nomes das artes, porém sempre conseguindo transformar e agregar novos significados. Além disso, em 2019 Guga foi o curador da exposição “Fernando Costa: Da Santa Ceia e Outros Avulsos” que apresentou trabalhos que nunca haviam sido mostrados ao público. “O Fernando Costa apesar de ter tido uma passagem muita rápida, produziu muito. E é justamente da quantidade que se gera a qualidade.  E mais profundamente, pelo hábito de criar constante o artista passa a desenvolver um olhar para o mundo mais sútil. Apesar de fazer praticamente só obras bidimensionais, seu espólio possui uma diversidade  de imaginário muito interessante.” disse Guga Carvalho.

Fonte: https://revistaacrobata.com.br/acrobata/artes-visuais/abordando-fernando-costa/

 

“O artista plástico tinha consciência do seu talento e, por isso, não fez concessões às exigências estéticas impostas pelo mercado de artes. Fernando foi um inovador, foi receptivo às experiências das vanguardas. Sempre atento, exerceu uma severa autocrítica e sempre esteve alerta para repudiar os elogios de conveniências. Manteve-se distante dos círculos das badalações e da mídia”, Kleber Santos.

Para além do tempo

Fernando Costa produziu intensamente e deixou um legado importantíssimo. Parte desses materiais, fruto das suas investigações, foi exposta na exposição “Fernando Costa: Da Santa Ceia e Outros Avulsos” (2019), que mostrou diversos trabalhos do artista, um trajeto artístico demonstrando inclusive algumas das obras dos seus últimos anos de vida e passando por algumas de suas fazes. A obra de Fernando Costa influenciou muitos artistas e admiradores, além de atravessar épocas e inspirar novos artistas.

Fotos

Vídeo

https://www.youtube.com/watch?v=vm6bHR8Xoe0&ab_channel=TVCidadeVerde

https://www.youtube.com/watch?v=pPqomRUoMRY&ab_channel=TVCidadeVerde

 

Outras fontes

https://www.revistaapplausus.com/post/a-arte-de-fernando-costa

https://revistarevestres.com.br/algomais/cronica/a-danca-secreta-da-vida-e-da-morte/

 

Última atualização: 11/08/2020

 

Caso queria sugerir alguma edição ou correção, envie e-mail para geleiatotal@gmail.com.

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