Revisão: Auryo Jotha
Com 3 atos lançados dos quais envolvem muito rap, prosa e poesia, o Projeto denominado de Sinais em Grades de Preto Tipuá (@tipua__) se tornou um sucesso entre o público.
O rapper ressalta que o processo de criação tanto do 3º ato quanto do projeto como um todo parte da mesma perspectiva que parte do nome “Sinais em Grades”. “O projeto é uma analogia à simbologia de Sankofa, um pássaro da cultura Adinkra do ocidente da África, que fala sobre retornar, pegar o que é ruim e reformular, pegar o que é bom e manter vivo, manter a tradição viva”.
“Então, todas as músicas partem dessa análise do passado para que a gente possa remontar, apresentar novas perspectivas, apresentar perspectivas que já existiam, que devem se manter vivas (saca?), de corrigir erro pra gente poder melhorar. O processo de criação dos atos vem nesse sentido de catar situações e aplicar Sankofa em cima dessa situação.” Nas grades de portões, janelas etc., podemos encontrar os símbolos de Sankofa esculpidas como uma memória gravada no ferro.
![](https://www.geleiatotal.com.br/wp-content/uploads/2023/07/Sankofa.png)
Preto Tipuá conta sobre as temáticas trabalhadas nas duas músicas do 3° ato, a primeira chamada de Silêncio abrange um contexto histórico do período da colonização, falando como o corpo africano “que possuía a sua cultura, seus valores, a sua ciência, que possuía tudo, mas que foi tudo reformulado, roubado e bagunçado pelos europeus, então na primeira faixa que é Silêncio eu trabalho com isso”
“O Thiago Elniño (@thiagoelnino) que é uma participação da faixa, vem um pouco mais irreverente na música, mas ainda assim tratando sobre esse assunto e pontuando assuntos mais atuais, trazendo reflexões sobre situações atuais que a gente vive mas em conflito com a colonização, que é algo que dizem que acabou mas continua por aqui”, disse.
A segunda faixa do projeto chamada de Dia de Kilombo conta a participação do Hades (@hadesmc1), um MC de São Luís do Maranhão. “A gente trata sobre do nosso cotidiano, né? Do que a gente já viveu enquanto dois homens negros, eu pouco mais velho do que ele, ele um pouco mais novo, e sobre como a gente enxerga nossas perspectivas de antes, como a gente enxerga nossas dores, como as pessoas enxergam nossas dores e como a gente pode trazer uma reformulação disso para as pessoas, né? Mais uma busca da reflexão de como nos enxergavam pra que passem a nos enxergar agora”.
O projeto foi elaborado entre composições envolvendo os estados do Piauí, Maranhão, Rio de Janeiro e São Paulo, o que promove uma troca cultural para a arte piauiense. “Eu acredito que os três atos de Sinais em Grades, trazem um novo contexto pra música e pra arte daqui. Por que muito do Piauí é fomentado pela grande indústria musical da cultura de massa, né? Então, quando a gente – um rapper – que trata sobre assuntos importantes, que trata sobre raça, que trata sobre ancestralidade, que trata sobre valores que tentam maquiar um esquecimento, então, acredito que é de grande riqueza para estado do Piauí. Certo?”
“Assim como alguns teóricos piauienses fazem isso dentro da academia eu tento trazer isso pra dentro da arte. Porque a arte consegue abranger muito mais público do que a academia, então, acredito que o valor desse trabalho para arte e para a cultura piauiense é muito grande. Estudo pra fazer o meu trabalho, estudo muito mais além do que a própria musicalidade, né? Faço leituras, tento fazer a observação cotidiana, escutar pessoas mais velhas e trazer isso tudo dentro da minha obra”, destaca.
“Dentro dos 3 atos que foram lançados eu tenho diversas conexões: Quilombo Louco Beats, com a pessoa do Dj PTK que se ofereceu lá 2019 ou 2018, não lembro bem, pra produzir um EP. Dentro desse processo veio o Lívio Nascimento, que está presente em quase todas as faixas que tem produção da Quilombo Louco Beats, também a gente tem uma amizade muito massa, troca muita ideia sobre música. Um cara com quem eu aprendo muito.”
“O projeto tem participação do Transtorno, que é um grande intérprete da cidade, um grande compositor também, vem na correria da música, tá aí há um tempão, bastante conhecido. Tem participação do Narcoliricista e do Erick Som, a gente tinha um grupo. Trabalhamos juntos normalmente, dentro de faixas colaborativas também, a gente traz isso na faixa ‘Procure por mim na tempestade’; tem participação da Alice Wonder que também é uma grande intérprete da cidade; do Adnon, que é de São Luís, a gente teve na faixa ‘Guerra’, junto também, produção dele. E as duas participações finais que é Thiago Elniño e MC Hades”, pontuou.
Preto Tipuá celebra os parceiros, Thiago Elniño e MC Hades, que colaboraram na produção dos Atos em Grades. “Thiago Elniño é do Rio de Janeiro, um cara que eu admiro muito o trampo, eu me identifico muito com o trabalho dele, pois também traz a questão da ancestralidade, fala dos orixás, assim como eu falo, é um cara que foca muito na racialidade e como trabalhar e decodificar isso numa forma mais simples, também é um educador social, um cara foda”.
“O MC Hades que é um cara mais novo, um cara que me encantei com o trabalho por conta da riqueza das palavras no texto dele. Gosto de rap com muitas palavras, muita rima, que sintam que o MC se esforce com tudo o que ele tem pra fazer dentro da letra e de uma forma bonita, elegante e sincera. O Hades também é um cara irreverente, foi muito bom trabalhar com todas essas participações”, finalizou.
Produção: Quilombo Louco Beats
Composição: Hades William Badez Trindade
Composição: João Victor Barbosa de Macedo
Quer conhecer mais sobre o Preto Tipuá? Leia outras matérias sobre ele que temos aqui na Geleia. Quer sugerir pautas para a Geleia Total? Manda a sua sugestão para: redacao.geleiatotal@gmail.com