A revoada, por Alisson Carvalho

No cume longínquo, lá naquele broto que germina os domingos donde canta as primeiras manhãs, ecoa o primeiro chamado, um brado surdo e parco do mais nobre senhor da savana e dos sertões.

Com fios embaraçados, típico de quem costurou a confiança pelas estradas dos corações, ela sentiu-se acanhada e partiu sem um pio, no silêncio, na calada da madrugada rumo à Serra das Confusões.

Nascida do próprio tempo ela era fruto das experiências afetivas das celestes bençãos. Filó despiu-se da malha, daquela couraça de penas que condensava seu espirito agigantado, armazenador de emoções.

Sentiu-se um calafrio, era um arrepio, lufada derradeira, um abraço que se dilatou pela região. E naquele primeiro dia a semana acordar-se-ia mais fria, pois ela sobre o rio de nuvens seguia puxada por uma estrela-guia enquanto ria das vãs indagações.

Fragmentando os dias e deixando no seu trajeto pequenas porções do seu próprio ser, o tempo, Filó fluía em tons de euforia; sentiu, outrora, que era a hora da partilha. Por isso, desvelou-se daquela forma para que no derradeiro agora abraçasse miríades de deuses na sua própria baia.

Cantou o galo uma canção de mistérios naquele domingo de estio sadio e belo no qual os pássaros brincavam sob proteção de estações indefinidas. No dia de vento atípico, cortado pelo baile do próprio redemoinho, dançavam em valsa rebelde folhas livres das suas próprias hastes.

Naquele tiritar verdejante cuja sombra produzia o melhor dos lares, sob as folhas daquela nobre e robusta árvore despiu-se uma Filozinha, agora dona da Serra das Confusões.

O tempo deu uma última espiada e diluiu-se como tudo que desejamos repetição.

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