Rose Gomez: uma poeta destemida vivendo entre rios

A poeta Rose Gomez é natural de Teresina, mas radicada em Timon-MA desde a infância. Ela vive em trânsito entre as cidades. Graduada em Licenciatura em Filosofia pela UFPI, a autora já participou de antologias como “Antologia Líquida” (2018) e “Poesia Libertadora” (2019). Escreve desde a adolescência e tem paixão pela linguagem e pela reflexão filosófica, elementos presentes em sua escrita poética. Rose já participou de um concurso literário, mas prefere escrever de maneira espontânea. Dessa forma, nasceu sua primeira obra poética, intitulada “Palavras com Flor e Dor” (2024), que mostra a visceralidade de sua escrita, refletindo uma autora que não está presa em amarras.

“Poesia é a forma de expressar sentimentos vividos, vistos e imaginados.” Rose Gomez

Nome Completo: Rosenildes Gomes dos Santos

Descrição: Poeta

Local de Nascimento: Teresina

Escrito por: Alisson Carvalho

Fotos: Ana Candida Carvalho

A poesia é sentimento antes de ser razão

 

Rose Gomez escreve desde que se entende por gente, e entender-se como gente é essencial para o processo de perceber que seus sentimentos poderiam gerar versos. Nessas ocasiões, os rabiscos serviam como uma manifestação espontânea, e ela mesma não havia percebido que aquelas letras queriam ganhar cadência poética. Para Rose, a poesia era uma instância inalcançável, e cada poeta conhecido ou estudado fortalecia essa sensação, justamente pela linguagem utilizada. A poesia toca os sentidos antes da razão e, segundo Rose, era exatamente isso que a atraía nos versos: as emoções. “Lembro-me de que eu rabiscava alguma coisa, mas não tinha consciência de que isso poderia ser chamado de poesia. E, apesar de não saber o que a poesia queria dizer, eu conseguia sentir a emoção na poesia.”

 

Flores  

O que querem as flores mortas? 

Suas vidas de volta 

ou o reconhecimento de sua dor?

A primeira poesia

 

No início, Rose escrevia sobre afetos, especificamente sobre o amor, e esses sentimentos foram se modificando em sua escrita. O que ela antes chamava de Eros, o amor romântico, passa a ser a Philia. Essa prática se estende até os dias atuais, mas sua percepção da literatura muda quando tem contato com o Salão do Livro do Piauí, o SALIPI. Nesse momento, sua escrita aleatória, que ela nem classificava como poesia, ganha um nome e uma classificação. O contato com os escritores e a diversidade de livros faz com que ela se identifique com a poesia de versos heterométricos.

 

“No SALIPI, na época em que ele ocorria no Centro, houve um homenageado que era um poeta, e lembro que aquela experiência com o Salão do Livro me marcou profundamente. Gostei muito daquela sensação, daquele ambiente. Tenho essa lembrança como minha primeira experiência marcante com a literatura”, comenta.

 

Foi preciso Rose Gomez conhecer outros escritores para entender que o que ela produzia se encaixava dentro daquele universo, até então representado apenas pelos clássicos da poesia. Por mais belos que fossem seus poemas, os poetas ensinados na sala de aula não conseguiam despertar tanto interesse quanto os versos livres.

 

Prisão  

eu sou um pássaro 

com a porta da gaiola aberta 

e tenho medo 

de voar no céu azul.

Intersecção entre o amor e o desamor

 

Rose Gomez prefere as palavras ditas com o coração, pois os floreios tiram a autenticidade, com isso suas poesias passam sempre pela lapidação de sintetizar os excessos e deixar o mais compreensível possível. Dessa forma, ela pretende formular muitas maneiras de tratar sobre o tema do amor e do desamor, com isso vale lembrar que a opção pela simplicidade envolve encontrar as gradações que essas emoções podem gerar.

A poeta tem uma metodologia mais flexível quanto ao ato de criar um poema, fincada na ideia de que a poesia é a expressão dos sentimentos, sua construção precisa ser livre para que esses sentimentos sejam autênticos. Com isso, Rose preza pela espontaneidade, deixando-se aberta para o inesperado, como acontece com as sensações do mundo, com a leitura que fazemos dos estímulos do ambiente e da sociedade à qual se está inserida. “Uma vez eu estava indo à UFPI e no meio do caminho fui invadida pela vontade de escrever, de expressar algo, de fazer um poema. Eu peguei meu celular e ali mesmo comecei a criar uma poesia”, pontua.

 

Perdido

Já cai em ilusões
de palavras bonitas.
Na promessa de uma manhã de sol
sobre a pele.
De um café fresco
em uma tarde de domingo.

Já fui de vários corpos vazios.
Já fui, já busquei e hoje já não sei quem sou
e essa ausência que preenche meu ser
me tortura.

Me perca em caminhos certos
e abra a porta de uma casa banhada por fel
e lá eu deito, lá eu durmo
e me perco mais e mais.

Um impulso pluralizado

 

Embora a poeta Rose Gomez seja apaixonada pela literatura, sua inspiração tem diversas raízes e fontes diversificadas, como a música. No meio dessas influências que moldaram seu olhar poético, a autora destaca o ativismo poético de Chico César, que transforma versos em músicas e performances. Além disso, ela ressalta os poemas de Elisa Lucinda, que têm afetado tanto sua visão da poesia quanto seu entendimento em relação à tradução dos sentimentos em obras poéticas, bem como a escrita como uma ferramenta de combate às injustiças.

Apesar dessas e outras referências, Rose Gomez enfatiza que sua busca é pelas suas vivências. Dessa forma, ela procura experimentar as artes e vivenciar os momentos, sabendo que sua escrita é um processo pessoal e diz respeito à sua própria trajetória. Ou seja, ela pretende poetizar tudo o que seu corpo pede para expressar. O diálogo para a poeta sempre começa de dentro, e a leitura do mundo necessita da sensação do poeta, mesmo quando o estímulo é externo. As poesias de Rose Gomez vêm de um impulso que tem a pluralidade como fonte de inspiração; tudo o que desperta os sentimentos pode servir como suporte para a construção de seus versos.

 

Olhos 

Às vezes, queria ser 

seu autor preferido… 

Para que você lesse 

e relesse cada parte de mim 

sem cansar seus lindos olhos.

Palavras com flor e dor

 

Depois de reunir algumas de suas poesias, Rose Gomez percebeu que tinha um livro pronto que nasceu com o título “Palavras com Flor e Dor”. Para ela, o livro devia ser algo maior do que sua própria produção literária, deveria ser um projeto em sincronia com seu pensamento, com estética que refletisse tudo que acredita, por isso surgiu o projeto de editoração construído inteiramente por mulheres. 

Foi um ano de planejamento e busca de profissionais que compuseram todas as etapas da feitura do seu livro; para isso, ela fez questão de acompanhar desde a diagramação até a impressão. Segundo a poeta, uma mulher não vence sozinha, leva com ela muitas, e foi baseada nesse pensamento que convidou Lain Dantas (ilustradora da capa), Ana Luzia e Pohema Lima (ilustradoras do miolo), Ione Gonçalves (diagramadora e responsável pelo projeto gráfico), Ana Cândida Carvalho (fotógrafa), Alana Santo (revisora) e Joyce Naira Fernandes (prefaciadora). 

Cada uma ajudou a construir o livro e deu a ele um aspecto único que só foi possível pelo diálogo com as artistas. 

“Muito deste livro sou eu, pois eram sentimentos que faziam parte de mim, fazia parte daquilo que via ao meu redor, e imagino que as palavras escritas lá também possam representar inúmeras pessoas, afinal, quem nunca amou, quem nunca sofreu, quem nunca se revoltou e quem nunca quis ou teve a liberdade para ser e sentir o que quiser?”, frisa a autora.

 

Calado

muitas vezes me faço calado, porque não sei dizer as palavras corretas e claras sobre aquilo que penso… agonizando no tempo, por digerir o que me faz mal, eu morro, porque me faço calado. calado eu fico absorvendo essas coisas ruins que me falam… eu me faço calado e, calado, eu vou matando o meu ser.

Poesia entre rios

 

Rose Gomez considera a poesia uma forma de expressar sentimentos vividos, vistos e imaginados. Isso significa que durante muito tempo, sua escrita serviu como uma forma de desabafo não entendido; eram sentimentos que surgiam e que, para serem racionalizados, viravam rabiscos. Dessas anotações, surgiam os ensaios poéticos. As palavras servem para a poeta como um caminho, sempre tentando expressar e criar pontes. Dessa forma, ela fala com muito entusiasmo sobre o papel fundamental que a democratização da leitura tem para a sociedade. Além disso, é importante que todos possam fazer sua leitura do mundo, mostrando o que sentem. Quanto mais escritores desnudarem suas vivências e realidades, mais podemos ter acesso a essa miríade de experiências. Se antes a literatura era restrita, agora todos podem mostrar suas criações. Rose Gomez fala dessa ponte que é poder compartilhar sentimentos com quem desconhece e que a poesia permitiu conhecer. Dessa forma, a literatura permitiu interagir com leitores que desconhecia. Para a poeta, a poesia mora entre os rios; é fluida e clara, e essa leveza aparece em suas palavras.

 

Contatos

Facebook.com/cheirodenegaflor

Instagram.com/cheirodenegaflor

Instagram.com/pretapoema

 

Fotos

Vídeo

 

Livros

Amor com flor e dor (2024).

 

Outras fontes

https://www.geleiatotal.com.br/2018/04/04/poema-de-rose-gomez/

 

Última atualização:

 

Caso queria sugerir alguma edição ou correção, envie e-mail para geleiatotal@gmail.com.

 

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