Os dias que o mundo se foi, por Victor Martins

Foto: Victor Martins

Essa deve ser bem a trigésima vez que começo a escrever esse texto, sem saber como falar, porém, sabendo exatamente sobre o que falar. Produzir arte estando trancafiado entre as 4 paredes da casa foi uma experiência pela qual todas as artistas e os artistas tiveram que passar nesse período. Imagine então para uma pessoa que vinha de uma escola da fotografia de rua como foi esse momento.
Eu tenho um texto (e que vai permanecer escondido) que fala sobre as janelas. Sim, janelas, janelas que tem em qualquer edificação. Mais especificamente em observar pelas janelas e as coisas que existem através delas. Não sair para fotografar na rua fez com que eu pensasse em muitas coisas no meu fazer artístico, e isso foi um aprendizado forçado muito estranho de se ter nesse momento. Comecei uma busca que até hoje, enquanto escrevo esse texto, nunca terminou e talvez não vá terminar. A partir de atravessamentos de experiências que vivi e senti no ano passado, comecei a questionar o meu papel enquanto fotógrafo e principalmente enquanto pessoa passível de ser fotografada. O ato de fotografar é político (assim como todo tipo de arte). Então, o ato de fotografar a si mesmo seria o ato mais político que uma fotografia poderia ter? Olha, eu realmente não sei, já que temos várias fotografias clássicas apresentando outras pessoas que são tão ou mais políticas que um autorretrato, mas vejo que fotografar a si mesmo deveria ser uma experiência que qualquer pessoa que use a linguagem da fotografia deveria fazer.

 

Foto: Victor Martins

 

Nesse período, desenvolvi um projeto chamado “memorabilia 0 – corpo objeto”, em que, depois de quase 4 anos me apropriando da fotografia enquanto linguagem, usei meu próprio corpo como modelo.
Era estranho.
Era incômodo.
Mas era necessário.
Por mais que eu soubesse (ou não) quem era o “Victor Martins, artista blá blá blá”, eu não sabia quem era o Victor Martins pessoa que poderia ser fotografada. Ou seja, não sabia de verdade quem eu era. Era como observar através de uma janela e me ver enquanto algo que estava fora de mim e preso nas 4 paredes da foto. Pode parecer complexo, até para mim é, mas essa metáfora da janela vai te ajudar a entender isso tudo. Lembre-se de que através dela podemos observar os outros lados.

Foto: Victor Martins

Existe uma teoria chamada “teoria das janelas quebradas” que diz mais o menos assim: se um edifício tiver uma janela quebrada e ela não receber um reparo imediato, existe uma tendência de que as pessoas quebrem as outras janelas até que se cheguem ao ponto de destruir esse edifício. A primeira foto que eu tirei de mim foi como a primeira janela quebrada e eu não tive a menor vontade de reparar ela, e fui logo quebrando a outra, a outra, a outra… Depois que terminei o projeto, a estrutura do prédio já estava completamente destruída. E até hoje está em ruínas.

Conheçam o projeto: 

https://www.behance.net/gallery/100068447/memorabilia-0-corpo-objeto

Redes sociais:

Victor Martins

 

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