Personagens do Reisado piauiense

No centro da imagem, está escrito "Reisado", do lado esquerdo há a forma de uma pessoa dançando e vestida com palha, a figura é da cor cinza. Do lado direito à palavra há a forma de uma pessoa dentro de um boneco de bumba meu boi, a figura também é da cor cinza. O fundo da imagem é da cor laranja.

Revisão: Joana Tainá

 

“Ô de dentro abre a porta,

que os de fora querem entrar!”

De 31 de dezembro a 06 de janeiro, grupos de reisado passam de casa em casa no correr das noites e dançam pelas ruas e terreiros até que o dia amanheça. Pertencente ao ciclo do natal, a festa traz uma influência óbvia as tradições cristãs, mas aqui tudo se transforma devido à forma única do povo lidar com a própria fé.

Puxando as brincadeiras, os Caretas soltam seus versos e piadas, dançam ao ritmo das sanfonas, dos violões, triângulos e pandeiros. Vestidos com palha de carnaúba, sandálias e máscaras de couro, eles fazem o papel de Reis Magos, em uma “teatralização da fé”[1], é como se viajassem para encontrar o menino Jesus que acabou de nascer.

A Folia de Reis acontece em quase todo o Brasil, no entanto, cada região comemora do próprio jeito, trazendo elementos e costumes locais. Além dos Caretas, outras figuras também se fazem presentes no Reisado piauiense:

 

Jaraguá

“Dá meia volta, Jaraguá.

Dá volta e meia, Jaraguá.

O bicho é bonitinho,

Ele sabe se vadiar.”

O Jaraguá é uma das assombrações que marca presença na festa. Embora passe ligeiro pela brincadeira, é uma das figuras mais marcantes do reisado. Um tecido cobre o brincante por completo, deixando de fora apenas um crânio de cavalo, que pode ser de verdade, feito de papelão, madeira ou outro material. Com a ajuda de cordas, molas e outros elementos ele consegue mexer a mandíbula e bater o queixo. O Jaraguá enquanto dança avança no público e ameaça morder, causando sustos no povo.

Caipora

Uma das lendas mais famosas do Brasil, protetora das matas e animais, também marca presença nos reisados piauienses. Talvez a primeira imagem que venha à mente seja a de uma mulher montada em um porco do mato ou a da Caipora do Castelo Rá-tim-bum toda pintada de vermelho, cheia de penas e animal print, mas aqui o Caipora é representado como um boneco de tecido preto e cabelos (ou detalhes) vermelhos.

Lobisomem

“Vai embora, meu amigo,

Antes que o dia amanheça

Porque depois que o galo canta

Lobisomem não passeia.”

À meia-noite a fome bate e é melhor se esconder. Nos reisados piauienses, também há ataques de lobisomens. Os brincantes pulam de um lado para outro vestidos em uma fantasia geralmente de lobo, como nos clássicos do cinema.

Piaba

“Piaba ê

Piaba á”

A Piaba, cheia de escamas brilhantes, se requebra toda ao dançar. Igual ao Boi, a armação que faz o corpo dela cobre a pessoa, deixando escapar somente as pernas.

Ema

“Ô ema, ô ema

Sassariema.”

É a vez das aves participarem da festa. A Ema entra em cena correndo atrás dos caretas, que caem no chão para fugir das bicadas. O corpo dela pode vir enfeitado por penas, tiras de tecido ou mesmo por TNT.

Cabeça de Fogo

“O Pião entrou na roda, ó pião!

Roda pião, bambeia pião!”

Ela é uma cabaça presa no alto da cabeça de alguém, cujo corpo fica escondido sob um pano. Uma vela ou uma lamparina é colocada dentro dessa cabaça, a luz sai através de furos tal qual as lanternas de abóbora. Hoje em dia já colocam luz artificial para substituir a chama da vela.

Pelas histórias que ouvi, essa figura surgiu como uma brincadeira do povo. Colocavam a cabaça com a vela ou a lamparina acesa nas encruzilhadas para que as pessoas que passassem de noite levassem um susto, pensando ser uma assombração.

No reisado, quando ela chega, as luzes da casa geralmente são apagadas para dar mais destaque à chama. A Cabeça de fogo dança girando e pode puxar alguém que está assistindo para dançar junto dela.

Burrinha

Ela é feita com uma armação de madeira na forma de um burro pequeno, que fica presa ao redor da cintura do brincante. A Burrinha é toda enfeitada com fitas, chapéu e véu. Representa um animal de carga muito arisco, que pula, dá coice e dança. Os Caretas tentam domá-la.

Boi

Em algumas festas, o momento do boi é semelhante ao que acontece no Bumba-meu-boi, onde há a narrativa da Catirina grávida com desejo de comer a língua do boi do patrão, depois de morto o animal é reanimado e todos comemoram. Aqui ele aparece, dança, chifra a plateia e pode ser morto e ressuscitado de forma parecida. No entanto, há reisados em que o boi é morto e permanece assim porque os Caretas vão reparti-lo simbolicamente com o público, cada pedaço vai junto com uma rima para alguém.

Vídeos:

Reisado Piauiense | Reisado de Boa Hora (Geleia Total)

Reisado de Boa Hora – Fé, amor e devoção (Entrecultura)

Reisado no Piauí

Referências:

A identidade cultural do reisado em Boa-hora PI – Revista Res volume 1 (2019) – Francielcio Silva da Costa, Naiara Ferreira da Silva, Renata Maria da Silva Oliveira, Andreia Rodrigues de Andrade.

Reis e Caretas – Anais do XII Encontro Nacional de História Oral – Maria do Amparo Moura Alencar Rocha.

A brincadeira do reisado na comunidade Cipó de Baixo (Pedro II, Piauí) e a dinâmica da tradição-modernidade – Revista Cronos (UFRN), volume 15, n. 1 (2014) – Luciano de Melo Souza, Luiz Assunção.

Reisado (Geleia Total)

Brincantes de reisado: três pessoas vestidas de palha.

Fonte da imagem usada no texto:

https://pmt.pi.gov.br/2021/01/05/folia-de-reis-e-celebrada-com-apresentacoes-em-teresina/

[1] Reis e Caretas – Maria do Amparo Mouro Alencar Rocha.

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