A rua, de Torquato Neto

toda rua tem seu curso

tem seu leito de água clara

por onde passa a memória

lembrando histórias de um tempo

que não acaba

de uma rua de uma rua

eu lembro agora

que o tempo ninguém mais

ninguém mais canta

muito embora de cirandas

(oi de cirandas)

e de meninos correndo

atrás de bandas

atrás de bandas que passavam

como o rio parnaíba

rio manso

passava no fim da rua

e molhava seu lajedos

onde a noite refletia

o brilho manso

o tempo claro da lua

ê são joão ê pacatuba

ê rua do barrocão

ê parnaíba passando

separando a minha rua

das outras, do maranhão

de longe pensando nela

meu coração de menino

bate forte como um sino

que anuncia procissão

ê minha rua meu povo

ê gente que mal nasceu

das dores que morreu cedo

luzia que se perdeu

macapreto zé velhinho

esse menino crescido

que tem o peito ferido

anda vivo, não morreu

ê pacatuba

meu tempo de brincar

já foi-se embora

ê parnaíba

passando pela rua

até agora

agora por aqui estou

com vontade

e eu vou volto pra matar

essa saudade

ê são joão ê pacatuba

ê rua do barrocão.

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